terça-feira, agosto 29, 2017

Canais de Marte podem ser marcas de impacto, não sinais de água

Atribuídos a mares e rios desde que o astrônomo Giovanni Schiaparelli desenhou os primeiros mapas de Marte, em 1877, as intrincadas formações do relevo do Planeta Vermelho até hoje desafiam as interpretações. Elas se parecem com canais feitos na Terra pela água, mas os melhores estudos indicam que Marte não tem e quase certamente nunca teve condições de abrigar águas correntes em sua superfície - este é o chamado Paradoxo de Marte. Ramon Brasser e Stephen Mojzsis, da Universidade do Colorado, nos EUA, acreditam ter encontrado uma solução bastante plausível para esse paradoxo. Segundo sua hipótese, os canais de Marte não foram produzidos pela água, mas pelo impacto de um asteroide gigantesco. Esse asteroide - do tamanho do planeta anão Ceres - teria arrancado um pedaço do hemisfério norte de Marte e deixado um rastro de elementos metálicos no interior do planeta. O choque também teria criado um anel de detritos rochosos em torno de Marte, que pode ter-se aglomerado mais tarde para formar suas luas, Fobos e Deimos.

Amostras de meteoritos marcianos indicam uma superabundância de metais raros - como platina, ósmio e irídio - no manto do planeta que ainda está por ser explicada. Esses elementos sugerem que Marte deve ter sido atingido por grandes asteroides em suas primeiras eras.

A dupla primeiro estimou a quantidade dos metais raros nos meteoritos marcianos e calculou que eles representam cerca de 0,8 por cento da massa de Marte. Em seguida, eles usaram simulações de impactos com asteroides de diferentes tamanhos atingindo Marte para ver qual tamanho de asteroide traria os metais em quantidade suficiente para explicar sua presença hoje.

Com base nessa análise, os metais de Marte são mais bem explicados por uma colisão massiva de meteoritos há cerca de 4,43 bilhões de anos, seguida de uma longa história de impactos menores. Nas simulações de computador, o impacto de um asteroide com pelo menos 1.200 quilômetros de diâmetro conseguiria depositar a quantidade suficiente dos elementos metálicos.

Um impacto desse tamanho também teria mudado de forma drástica a crosta de Marte, criando seus hemisférios tão diferentes. De fato, a crosta do hemisfério norte de Marte parece ser um pouco mais jovem que as terras altas do sul, o que está de acordo com o resultado das simulações.

“Nós mostramos neste artigo - a partir da dinâmica e da geoquímica - que podemos explicar essas três características únicas de Marte”, disse Mojzsis, referindo-se aos canais, à composição mineral e às luas do planeta. “Essa solução é elegante, no sentido de que resolve três problemas interessantes e extraordinários sobre como Marte chegou a ser o que é.”


Nota: Essa pesquisa me lembra uma conversa que tive anos atrás com meu amigo geólogo Dr. Nahor Neves de Souza Jr. Na época, conversamos sobre as marcas de impacto no planeta vermelho e ele me disse que muito provavelmente elas se deviam aos impactos meteoríticos do evento conhecido como “grande bombardeamento” (descrito aqui). Deixando de lado as datações bem problemáticas mencionadas acima, parece que mais uma vez Nahor tinha razão. [MB]

Leia mais artigos interessantes sobre o planeta Marte. Clique aqui.

segunda-feira, agosto 28, 2017

Beleza que engana

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3:6).

Talvez o que mais irrite os consumidores sejam as propagandas enganosas. Você vê o produto na ilustração da caixa ou dentro da embalagem, no comercial da TV ou no anúncio na internet, e se deslumbra. Mas a decepção fica na mesma altura que o estímulo proporcionado pela imagem chamativa. Aposto que não estou sozinho e que você já teve uma experiência chata como essa. Estou errado?
           
Todavia, é pior quando a beleza e a atratividade podem ser fatais. É o caso de uma flor nativa dos Estados Unidos, conhecida na linguagem popular como Louro-da-Montanha (Kalmia latifolia) que produz delicadas flores brancas e rosadas no fim da primavera, as quais possuem inúmeras manchas que parecem formar padrões geométricos definidos. É uma planta belíssima, mas por baixo daquele exterior simpático bate o coração de um assassino.
           
A Kalmia latifolia está na lista das plantas mais perigosas aos seres humanos e outros animais. Sua estrutura delicada reserva duas toxinas letais: a andromedotoxina e o alburtin; porém a primeira é a mais tóxica. Na ingestão de pequenas doses da flor, o quadro clínico pode apresentar respiração irregular, salivação abundante, perda da coordenação motora, vômitos, diarreia, fraqueza muscular e convulsões. Já se for em grandes quantias, pode provocar um ataque cardíaco e levar à morte em até seis horas após a ingestão.
           
Não suficiente, você nem precisa encontrar um Louro-da-Montanha para ter um encontro fatal com esse coquetel de toxinas, pois o mel produzido pelas abelhas que visitaram a K. latifolia contém todas as propriedades tóxicas da própria flor. Os gregos já sabiam desse produto muito antes de Jesus vir à Terra e o chamavam de “mel furioso”; inclusive foi isso que eles usaram para derrotar Xenofonte de Atenas, por volta de 400 a.C.
           
A beleza dessa espécie de flor engana muito bem. No passado, Satanás propagandeou ao ser humano poderes inescrutáveis com seus discursos empolgantes e omitiu a verdade acerca das coisas. Aliás, ele vive mentindo desde o princípio (João 8:44), tanto que nenhum dos atrativos oferecidos pelo diabo de fato aconteceu. Contrário a isso a raça humana ficou numa situação muito pior do que quando fazia a vontade do Criador dos céus e da Terra.
           
Depois de atender à voz da serpente e comer do fruto proibido, o ser humano trouxe para si consequências irreversíveis, dentre as quais a pior é a morte. O custo da desobediência a Deus foi letal, pois o pecado, antes prazeroso, trouxe consigo o dano da morte (Romanos 6:23).
           
Hoje, Satanás tem utilizado as mesmas estratégias do passado para vender um produto podre numa embalagem cativante. O pecado pode até parecer atrativo, mas não se esqueça: ele é igualmente mortal! Jesus pagou o preço da falha humana na cruz e hoje está intercedendo por aqueles que são vítimas da tentação (Hebreus 2:18). Somente Ele pode lhe ajudar a vencer o diabo. Peça apoio lá do Alto para resistir aos apelos do Inimigo e inibir para sempre o domínio da morte em sua vida.

(Weliton Augusto Gomes é biólogo e diretor de ensino e pesquisa do Núcleo Curitibano da Sociedade Criacionista Brasileira [NC-SCB])

terça-feira, agosto 22, 2017

A ciência e a Bíblia são sexistas?

A revista Veja da semana passada publicou uma entrevista interessante com a jornalista inglesa especializada em ciência Angela Saini, aproveitando como “gancho” o lançamento do livro dela, Inferior: How Science Got Women Wrong (Inferior: Como a ciência se enganou com as mulheres, em tradução livre). Saini afirma que a ciência nasceu dentro de um contexto cultural em que a mulher era vista de forma diferente do homem, em uma sociedade sexista que fragilizava e inferiorizava o feminino. “Então, não é surpreendente que a ciência tenha seguido o mesmo caminho, reproduzindo estereótipos e baseando seus estudos em suposições herdadas da sociedade”, diz ela, deixando claro que, a despeito de sua especialização, não compreende o que é ciência. Mas tem mais: Saini também não compreende a religião bíblica.

Quando lhe foi perguntado se a forma como a religião retrata a mulher influenciou a ciência supostamente sexista, ela respondeu que sim, e definiu a religião que, para ela, é machista: “Adão e Eva foram a fonte primária de informação sobre a relação entre homem e mulher para o mundo cristão.” Para ela, a história do primeiro casal reforçaria o estereótipo da mulher como segundo elemento. Mas de onde ela tirou essa ideia? Escolher o relato da criação foi um tiro no pé em seu discurso feminista. Se ela ainda tivesse usado passagens bíblicas pós-pecado que refletem a ascensão diabólica do machismo e a subjugação da mulher por homens pecadores, ainda daria para compreender (deixando de lado o fato de que quando a Bíblia descreve aspectos culturais reprováveis não significa que Deus os esteja aprovando).

No relato bíblico da criação fica evidente que a mulher – a obra-prima de Deus, o último ser criado em uma ordem crescente de relevância e complexidade – é tão importante quanto o homem, embora ambos tivessem (e ainda têm) funções diferentes. O fato de ser usada no relato a palavra “ajudadora” ou “adjutora idônea” não diminui em nada a esposa de Adão. Na verdade, a expressão original hebraica ezer kenegdo também é aplicada a Deus como nosso ajudador. Isso significa que o Senhor é inferior a nós? Claro que não!

Infelizmente, Saini parece entender pouco de Bíblia e menos ainda de ciência. Como é muito comum, ela confunde ciência com filosofia ou paradigmas, e pensa que as afirmações dos cientistas equivalem à ciência. Esta é uma confusão recorrente: atribui-se à ciência coisas que os cientistas dizem. A ciência não diz nada. Ciência é uma caixa de ferramentas que usamos para compreender o mundo que nos rodeia. Ciência não é uma invenção humana. Não foi inventada. Foi descoberta.

A própria Saini dá um exemplo interessante na entrevista, que ajuda a compreender a diferença entre ciência e paradigma filosófico. Ela conta que em 2013 um grupo de cientistas da Universidade McMaster publicou um artigo sobre a origem da menopausa no qual afirmam que a mulher deixa de menstruar na meia-idade porque os homens não mais as consideram atraentes, sendo, então, a menopausa um efeito evolutivo da falta de atração masculina por mulheres mais velhas. Para rebater essa pesquisa, a jornalista cita o trabalho de outro evolucionista, o biólogo George Williams. Para ele, a menopausa surgiu em nossa espécie como um mecanismo para proteger as mulheres mais velhas dos riscos do parto. O que há de ciência nessas afirmações? Praticamente nada. São meras opiniões evolucionistas que mostram uma casa dividida.

Para ser justo, Saini acerta no alvo em um ponto: quando afirma que Charles Darwin foi o cientista que causou mais dano para a percepção dos cientistas em relação à mulher. Isso porque o naturalista inglês afirmou categoricamente sem base alguma que a mulher seria naturalmente inferior ao homem, sustentando que as mulheres estavam atrás dos homens na escala evolutiva. Por não fazer ciência de verdade, Darwin deixou de considerar o contexto social de seu tempo, que impedia as mulheres de terem acesso à educação, à informação, à possibilidade de participar das descobertas científicas da época, etc. “O poder [das ideias de Darwin] e seu status fizeram com que suas teses embasassem muitos trabalhos de cientistas nos séculos seguintes”, diz Saini, sem perceber que, na verdade, está reconhecendo que o darwinismo contaminou muitas áreas do saber, influenciando filosoficamente inúmeras pesquisas e trabalhos.

Ao responder à última pergunta da entrevista, Saini diz que “o que feminismo está fazendo com a ciência é melhorá-la, confrontá-la. O feminismo tem ajudado a questionar estereótipos que são, justamente, irracionalidades que faziam parte da ciência”. Errado, pois, como eu já disse, a ciência não é machista nem feminista. Machistas ou feministas são os cientistas. Assim como Deus e a Bíblia não são machistas nem feministas. Machistas e feministas são as pessoas e as culturas retratadas na história bíblica.

Esses são os verdadeiros estereótipos que precisam ser derrubados. Mas não serão graças ao feminismo radical ou a qualquer outro ismo. Serão derrubados pela verdadeira religião e pela verdadeira ciência – quando as pessoas estiverem dispostas a compreendê-las.

Michelson Borges


Detalhe inesperado aparece em foto do eclipse e causa surpresa

Milhões de norte-americanos assistiram, através de telescópios, câmeras e óculos de proteção descartáveis, ao momento em que a Lua apagou o Sol, no primeiro eclipse solar total a cruzar os Estados Unidos de costa a costa em quase um século. Uma foto tirada pela NASA captou, além da beleza do fenômeno natural, um detalhe bastante inesperado. A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) cruzou o céu e passou em frente ao Sol bem no momento do eclipse. A foto tirada pelo fotógrafo da NASA Joel Kowsky captou perfeitamente o instante em que a minúscula silhueta do ISS se aproxima do astro. A imagem foi capturada da cidade de Banner, no Wyoming. A agência espacial americana também registrou em vídeo o momento em que a Estação Espacial passa ao lado do Sol, a uma velocidade aproximada de 8 km/seg. Uma câmera de alta velocidade, que filma 1.500 quadros por segundo, foi usada para capturar o evento.



Nota do bibliotecário Vanderlei Ricken: “Tem terraplanistas que ficam loucos com esse tipo de informação. Para eles tudo isso, eclipse, sombra da estação, etc., é farsa da NASA; para eles o homem nunca foi à Lua e as imagens da estação espacial (que vemos ao vivo no YouTube) são forjadas em estúdios altamente sofisticados. Tudo isso para enganar a grande massa e deixá-la sob controle, e óbvio negar a existência de Deus. Conversando com um pessoal terraplanista, mostrei alguns aplicativos de identificação de satélites e da própria estação espacial ISS. Inclusive instalei um app que te acorda no momento em que a ISS está visível em sua região e te mostra a direção em que ela vai passar. Mas nada foi suficiente para os convencer. Pior é que eles tentam jogar a Bíblia nessa confusão. Esquecem-se de um ponto importante: a Igreja Adventista não acredita na revelação verbal, mas na revelação do pensamento. E isso faz toda a diferença. 

Os defensores da revelação verbal [inerrantistas] acreditam que Deus ditou a Bíblia. E se a Bíblia diz que o ‘Sol parou’, é porque parou mesmo. Os defensores da revelação do pensamento entendem que Deus revelou a verdade dentro do conhecimento que os profetas tinham na época. Em outras palavras, a revelação mostrou que o dia ficou maior por um milagre de Deus. Não entra na questão de como é que foi isso. Apenas utiliza a linguagem comum da época. Nós mesmos, hoje em dia, ainda falamos em ‘nascer do sol’. Mas o sol não nasce. Trata-se apenas de uma expressão e não de um fato científico.

“Os terraplanistas creem que existe uma parede, dura mesmo, no céu, que impede de qualquer um de ir para o espaço. Mesmo que existam tantas demonstrações científicas que provem o contrário. Eles não entendem que, de fato, a atmosfera é uma ‘parede’ muito ‘dura’ e protetora, só que não da forma como eles pensam que seja. Na cabeça deles as estrelas não existem. São tipo reações químicas luminosas que estão no domo (a parede dura), no meio da água que lá existe. Acreditar na Terra plana diante das muitas demonstrações científicas é fideísmo, jamais fé. Fideísmo é a crença no absurdo e no que está provado ser o contrário – tudo em nome da fé. Mas a fé verdadeira deve se apoiar em evidências. Resumindo: os terraplanistas querem defender a Bíblia mas acabam dando um tiro no próprio pé.”




segunda-feira, agosto 21, 2017

O benefício da dúvida

Deu no site da revista Ciência Hoje: “Karl Popper, um dos filósofos mais influentes do século passado, apontou para o fato de que, para ser validada, uma teoria científica deve necessariamente ser confrontada, desafiada, falseada. Dizia que, do contrário, a teoria poderia se tornar dogma – e qualquer dogma, para Popper, seria terrível para a ciência.” A matéria aponta, ainda, a coincidência entre o raciocínio de Popper e um texto publicado pelo jornal britânico The Guardian e repercute pesquisa realizada pela revista eletrônica Edge, que faz, todo ano, uma pergunta para centenas de especialistas de áreas distintas com o objetivo de colher tendências. A pergunta daquele ano foi: “Qual conceito científico poderia aprimorar a ferramenta cognitiva de uma pessoa?” “Artistas, cientistas e filósofos responderam à questão. Surpreendentemente, muitos deles destacaram a relevância dos erros, das incertezas e dúvidas para a ciência e ressaltaram a importância de esses aspectos inerentes ao empreendimento científico serem mais bem divulgados ao público não especializado”, disse a Ciência Hoje.

O Deus da revelação

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2 Coríntios 13:14).

Canta-se no meio evangélico certa música cujo refrão diz o seguinte: “Ninguém explica, ninguém explica Deus. [...] Do crente ao ateu, ninguém explica Deus.” Tal reconhecimento visa a demonstrar que o ser de Deus é para a mente humana algo incognoscível, ou seja: a tentativa de entendê-Lo por pura lógica, ou mesmo com os recursos limitados da linguagem por analogia, constitui um desafio e uma impossibilidade. A inexplicabilidade de Deus não é assunto recente. Há séculos ela tem incomodado intelectos privilegiados com argúcia filosófica e teológica, como o de Santo Agostinho: “Deus é inefável; é mais fácil dizer aquilo que Ele não é do que aquilo que é. [...] Antes de conhecer Deus, achavas que eras capaz de expressá-Lo; mas agora que começaste a conhecê-Lo, percebes que não és capaz.” Prossegue o bispo de Hipona: “Por descobrir que não podes exprimir aquilo que conheces, deves, por acaso, ficar em silêncio?” Não, não se pode ficar em silêncio. Contudo, o silêncio sobre Deus só é capaz de ser quebrado pela voz da revelação.

Quando, numa palestra para acadêmicos e universitários, conhecido teólogo brasileiro foi interrogado acerca da natureza de Deus (se Ele é matéria, energia, força ou ideia existente na mente humana), foi dada a resposta ao seu interlocutor: “Deus é um ser que se Ele não Se revelar eu não posso compreendê-Lo.” Se o homem, com ferramentas mentais próprias, não consegue construir uma explicação para a Divindade, então, dada a Sua existência como fato, quereria Deus, por Sua iniciativa, “explicar-Se” a Si mesmo? 

Deus é mistério (Isaías 45:15), e permanecerá assim para os seres criados por toda a eternidade. No entanto, a misteriosidade que cerca a natureza divina não implica completa ignorância acerca da identidade do Ente infinito. Pela via da revelação bíblica sabemos que Deus Se apresenta de forma admirável: como Alguém todo poderoso, transcendente e pessoal. Conforme assume o teísmo clássico, Sua personalidade ímpar, Seu caráter justo e amoroso, Seus atributos grandiosos e atos excelsos na história humana O tornam inigualável perante as demais concepções religiosas concorrentes. Porém, um aspecto de Sua identidade tem sido ponto de acirrados debates fora e, principalmente, dentro do cristianismo: Deus são três pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Triteísmo?

A Igreja Adventista do Sétimo Dia, em consonância com o cristianismo histórico, assume a posição de que Deus é uma Trindade. Entretanto, dentro do próprio círculo cristão, muitos estão fazendo uso de hermenêutica totalmente descabida para atacar a personalidade divina (sobretudo a do Filho e a do Espírito Santo) ao declararem, sem base histórica ou teológica, que o monoteísmo trinitário é uma heresia aceita no corpo doutrinário da fé cristã.

A Trindade não pode ser explicada por nossa filosofia ou teologia, da mesma forma que outros mistérios revelados como a encarnação e a ressurreição. Acertadamente ponderou certo teólogo que “a elaboração histórica da Trindade [...] busca circunscrever e proteger o mistério (não explicá-lo; isso está além de nosso alcance), e nos confronta com o que seja talvez o pensamento mais difícil com o qual a mente humana já teve que lidar. Não é fácil; mas é verdadeiro”. Podemos, contudo, utilizando o princípio tota scriptura (a totalidade da Escritura), apreender essa doutrina mediante as inúmeras evidências persuasivas emanadas do texto bíblico. Dessa maneira, à luz da coerência interna da Bíblia, os que pensam diferentemente deveriam reconsiderar sua posição para a qual não existe fundamento escriturístico algum. Se o “retrato” de Deus apresentado nas Escrituras é o de um Ser essencialmente relacional – manifestado em três Pessoas divinas e coeternas –, não existem razões suficientes para questionar esse ensinamento.

Perante a revelação trinitária de Deus, o filósofo americano Mortimer Adler refletiu: “Para mim, a Trindade não é apenas uma resposta bonita; eu acredito que é a única explicação para a maior busca dos filósofos e sua experiência.” E o teólogo Donald M. Baillie arrematou: “A doutrina da Trindade faz-nos ver que Deus é ‘pessoal de modo incompreensível’.” Creio que ser um cristão trinitariano é abraçar a própria fé de Jesus, reconhecendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm toda a plenitude da Divindade. Algo menos que isso significa diminuir a personalidade divina e obscurecer a verdadeira e incomparável identidade de Elohim, o que pode resultar em consequências negativas para a salvação do ser humano. 


Ao se deparar com a visão do Altíssimo, o profeta Isaías ficou extasiado e temeroso com Sua grandeza e majestade. Contemplou serafins fazendo uma exclamação tríplice: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos!” (Isaías 6:3). Alguns veem nesse reconhecimento angélico da santidade infinita de Deus mais um indício trinitariano de que santo é o Pai, santo é o Filho e santo é o Espírito. Assim, por mais inexplicável, espantosa e “estranha” que seja a visão do Deus triúno, faz sentido tanto da perspectiva bíblica quanto filosófica aceitar que o alto e sublime Criador é único sendo três. Se ninguém O explica, Ele próprio Se revela na Palavra. Agora, se nós aceitamos ou rejeitamos Sua explicação revelada, essa é outra história. O melhor caminho ainda é seguir a confissão de Agostinho: “Creio para entender.”

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)



Leia mais sobre a Trindade. Clique aqui.

domingo, agosto 20, 2017

A arca de Noé: tremendo projeto de engenharia

Qual era o verdadeiro formato da arca de Noé, segundo a Bíblia? Quais as dimensões e sua capacidade volumétrica? Seria ela capaz de resistir às grande ondas do dilúvio? Neste novo vídeo do "Criacionismo Kids", Mikhael convidou um amiguinho, o Samuel, para explicar essas e outras questões relacionadas com esse tremendo projeto de engenharia dado a Noé pelo próprio Deus. Assista agora!

quinta-feira, agosto 17, 2017

Epigenética, saúde, evolução e a Bíblia

Flavio Ahmed Soliz nasceu na Bolívia, em 1954, originário de uma família católica. A mãe faleceu quando ele era pequeno, acometida de cisticercose. Expulso da escola católica, foi matriculado pela irmã em uma escola adventista, o que representou uma guinada na vida dele. Na universidade, estudou dois anos de Física, mas uma missionária lhe disse que ele tinha mais que ver com Medicina e deveria mudar de curso. Ele aceitou o conselho e se formou pela Faculdade de Medicina de Montemorelos, no México. Lecionou bioquímica por quatro anos e foi trabalhar no setor de pediatria da Universidade de Colúmbia, em Nova York. Trabalhou também no setor de neonatologia da Universidade de Miami, como chefe de neonatologia do Miami Children Hospital, e foi professor de Pediatria na Universidade Internacional da Flórida. Pertence à Sociedade de Pesquisa Pediátrica dos Estados Unidos e é fundador da Sociedade Ibero-Americana de Neonatologia e do Bebê Sem Fronteiras, instituição cujo objetivo é reduzir a mortalidade infantil em regiões sem recursos. Casado com a pediatra Elza Vasconcellos, tem quatro filhos. Seus hobbies são nadar, trabalhar com carpintaria e ficar com os filhos. Confira a íntegra da entrevista concedida por ele ao jornalista Michelson Borges e que foi publicada originalmente na Revista Adventista.

[Continue lendo essa interessantíssima entrevista.]

Teorias são periodicamente substituídas (parte 2)

Nesta segunda parte do texto, especificamente, entraremos no tema abordado no título do artigo. A seguir, apresentarei a visão de alguns filósofos da ciência que defendem a substituição de teorias inteiras, ou paradigmas, a fim de que haja efetivamente o progresso da ciência, e mostraremos um caso interessante de uma teoria substituída e registrada na história da ciência. Em seguida, analisaremos à luz de comentários de cientistas e filósofos da ciência,o estágio em que se encontra o neodarwinismo e os sinais de tendências a respeito dessa teoria.

quarta-feira, agosto 16, 2017

Cosmovisão bíblica está em desarmonia com conceitos de direita e esquerda

Em maio deste ano, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) publicou uma primeira entrevista com o sociólogo Thadeu de Jesus e Silva Filho a respeito de conceitos de esquerda e direita (leia aqui). A segunda parte, em que o especialista aborda conceitos como marxismo cultural e outras ideologias filosóficas, bem como teorias que têm caracterizado a discussão política mundial, pode ser lida a seguir. Thadeu é mestre e doutor em Sociologia e atual diretor do departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa da sede sul-americana adventista, localizada em Brasília.

Chuva antes do dilúvio?

A Bíblia nos fornece poucas informações sobre as condições climáticas pré-diluvianas. A partir de uma análise exclusivamente bíblica, portanto, não podemos afirmar se choveu ou não antes do dilúvio. O que podemos fazer é apresentar os argumentos em favor e contra a presença de chuva e verificar qual parecer é o mais sustentável a partir de uma análise em conjunto de todas as hipóteses concorrentes. Como diz o escritor e mestre em ciências Brian Thomas, “reconstruir o mundo pré-diluviano é como construir um quebra-cabeças depois que todas as suas peças foram trituradas em um liquidificador. Contudo, Gênesis nos dá um bom começo.” Abaixo apresentarei as duas posições principais acerca do tema:

terça-feira, agosto 15, 2017

Bate papo sobre ciência e religião com o casal Lütz

Eduardo Lütz é físico, mestre em Astrofísica e engenheiro de software; Graça Lütz é bióloga e mestre em Bioquímica. Ambos são colunistas deste blog. Nesta entrevista interessante, concedida ao jornalista Michelson Borges, eles falam de vários assuntos, passando pela origem do Universo e da vida, a temporalidade ou atemporalidade de Deus, o Big Bang e o significado de ciência. Sobretudo, eles mostram que a verdadeira ciência é perfeitamente compatível com a teologia bíblica. Assista agora mesmo!

segunda-feira, agosto 14, 2017

E se não existisse o pecado?

Vamos dar asas à imaginação? Que tal sonhar um pouco? Convido você a vir comigo numa viagem imaginária, por um pequeno mundo que enfrentou o mal, mas o repudiou.

Planeta Terra recém-criado. Transportados até o Jardim do Éden, somos envolvidos em esplendor que arrebata os sentidos. Tudo é perfeito e sem vestígios de decadência. Nossa atenção se volta para o casal Adão e Eva. A beleza de ambos é inexcedível, pois cada detalhe físico é a expressão máxima da estética que a mente divina poderia produzir em seres humanos. No cenário paradisíaco, ambos se encontram no pleno usufruto de sua inocência. Moral e espiritualmente, mulher e homem refletem a luz de um caráter perfeito, isentos de medo, culpa ou traumas. Adão parece dialogar com os animais, os quais, dóceis, aproximam-se dele sem nenhum temor. Eva, cheia de graciosidade, sorri para o companheiro e, suavemente, segura sua mão. Com cânticos de louvor admirável, os pais da raça humana enaltecem a santa e gloriosa Trindade.

Sem que esperassem, um ser angelical atravessa o espaço, surgindo na velocidade do relâmpago. Seu rosto denuncia apreensão pelo santo par. Chama-os à parte para contar-lhes a estranha história de alguém que vem para causar a ruína deles e do planeta. Atentamente, Adão e Eva escutam as advertências e explicações do anjo mensageiro que, logo depois, parte na mesma rapidez com a qual apareceu. Apreensivo, o casal discute o relato transmitido: “Que coisa é essa chamada mal?” – refletem.

Passam-se dias e vemos outro quadro: Eva passeando sozinha até se defrontar com uma serpente alada. “Ela fala, voa e é linda!” – exclama a mulher diante de um ser tão singular. Com linguagem persuasiva e argumentações “lógicas”, a exótica criatura tenta convencê-la a experimentar o fruto proibido por Deus. Apesar da aparente docilidade do animal, a mulher, desconfiada, mantém certa distância. Repentinamente, Adão aparece assustado e se interpõe no diálogo: “Eva, não se aproxime da serpente sagaz nem se encante com suas palavras! Ela é, na verdade, o adversário disfarçado que veio nos tentar e sobre o qual fomos advertidos.” Eva corre para o esposo e ambos deixam os domínios do anjo caído, bem longe da árvore proibida. Vencem a prova.

Que viagem! Que sonho! A “versão” de Gênesis contada acima, entretanto, é só imaginativa. Quão bom seria se o terceiro capítulo desse livro nos trouxesse uma narrativa de vitória em vez de fracasso: o pecado não teria existido para nós e a Terra seria povoada com uma raça de seres puros, perfeitos e imortais, todos descendentes do primeiro casal humano. De alguma forma, Deus eliminaria Satanás da existência sem acarretar a dúvida do Universo sobre Seu amor.

O pecado modificou tragicamente a realidade. Sem esse intruso indesejável, como seriam a cultura, o governo, as produções artísticas, a ciência e tantas outras instâncias da Terra caída? Dá para imaginar a diferença entre o estado atual e o ideal? Muitas coisas presentes agora não fariam parte do nosso triste quotidiano como dúvida, incredulidade, ódio, funerais, guerras, divórcio, traições, saudade, cansaço, frustração, acidentes ecológicos, tragédias naturais, instrumentos bélicos, e a pior de todas as consequências do pecado: a morte. Por outro lado, nada saberíamos sobre fé, redenção e graça.

Repetidas vezes se faz a pergunta: Por que foi permitido o pecado? O aparecimento do mal na criação não era condição necessária para se manifestar o lado até então desconhecido e misterioso do amor de Deus. De quanto sofrimento tanto nós quanto o próprio Criador seríamos poupados se o pecado jamais tivesse se erguido! Porém, já que o mal despontou e nos infectou, resta a esperançosa expectativa: ele aguarda sua condenação eterna. Assim será cumprida a promessa: “Não se levantará por duas vezes a angústia” (Naum 1:9).

Infelizmente, Adão e Eva sofreram a derrota. Contudo, Jesus venceu, recuperando o Éden perdido para devolvê-lo à humanidade redimida. Em Cristo, aguardamos o momento da nova criação, quando todo o Universo finalmente expressará com eterna alegria: “Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.” 

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

sexta-feira, agosto 11, 2017

Lagarto brasileiro evoluiu em apenas 15 anos ou apenas se adaptou?

A evolução não precisa demorar milhões de anos para acontecer. E um dos exemplos mais extraordinários de que a chamada “evolução rápida” é possível vem de um réptil brasileiro. Uma espécie de lagarto no Brasil desenvolveu uma cabeça maior em apenas 15 anos - muito pouco tempo em termos evolutivos -, segundo um novo estudo publicado na PNAS, a revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos. E ainda que se conheçam outros exemplos de evolução rápida, o caso do lagarto é excepcional, porque mostra o impacto da atividade humana na transformação das espécies. Em 1996, a criação da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa inundou uma área de cerrado na cidade de Minacu, em Goiás. A inundação criou cerca de 300 pequenas ilhas nas partes mais altas do terreno. Muitas espécies de lagartos desapareceram delas, provavelmente porque não havia comida suficiente para suas necessidades energéticas. Mas uma espécie de lagarto menor, Gymnodactylus amarali, que se alimenta de insetos, continuou presente em algumas das ilhas. Os cupins maiores, antes consumidos apenas por répteis grandes, agora passaram a ficar “disponíveis” para esses animais menores.

Só que havia um grande problema. A cabeça pequena dos lagartos, de apenas um centímetro de largura, eram quase do mesmo tamanho dos cupins. Para eles, comer esses insetos era um desafio tão grande quanto um gato comer um esquilo. Para determinar se os lagartos realmente haviam evoluído, alguns animais foram capturados em cinco das ilhas que surgiram no meio da represa da hidrelétrica pela equipe da bióloga brasileira Mariana Eloy de Amorim, da Universidade de Brasília (UnB). Em seguida, foram comparados com lagartos que viviam em cinco áreas em volta da represa - zonas que não estavam isoladas. Os pesquisadores mediram o tamanho da cabeça dos lagartos e, depois de sacrificá-los, abriram seus estômagos para ver o que haviam comido. Os resultados foram surpreendentes. Apesar de apenas 15 anos terem se passado desde a criação da represa, os lagartos que viviam nas ilhas tinham cabeças 4% maiores que seus vizinhos.

Esses 4% podem não parecer uma mudança significativa, mas foram suficientes para que os lagartos agora pudessem consumir os cupins. Mas por que o corpo todo não cresceu? O motivo é que corpos maiores demandam mais energia para se manter. Assim, esses répteis perderiam a vantagem potencial de ter mais alimento disponível se tivessem que consumir mais comida, explicou Janet Hoole, professora de biologia da Keele University, na Inglaterra.

Uma das coisas mais interessantes é que os lagartos de todas as cinco ilhas estudadas desenvolveram cabeças maiores, ainda que estivessem isolados uns dos outros. Para Hoole, “isso sugere que aumentar o tamanho da cabeça, sem crescer o tamanho do corpo, é a forma mais eficiente de aproveitar a oportunidade de uma dieta mais variada que a usual para essa espécie”.

Outros casos de evolução rápida são as aves fringilídeos das Ilhas Galápagos, que Charles Darwin estudou para formular a teoria da evolução das espécies, afirmou Hoole em uma coluna para o site acadêmico The Conversation. Uma espécie de fringilídeo de Darwin (nome que inclui 15 espécies) reduziu o tamanho médio de seu bico em apenas 22 anos, depois que um competidor com um bico maior colonizou sua ilha, de acordo com um estudo de 2006 dos pesquisadores Peter e Rosemary Grant. O competidor comia as sementes maiores com cascas duras. Assim, ter um bico grande sem poder competir era uma desvantagem. Por isso, os fringilídeos com bicos menores começaram a prosperar. “É um princípio da biologia: se não precisa de uma estrutura particular, então não vale a pena mantê-la, e é melhor economizar essa energia”, assinalou Hoole.

Outro caso de evolução rápida apontado por Hoole é o que ocorreu com uma espécie de lagartixa na Flórida, a anolis verde (Anolis carolinensis), com a chegada de outra espécie muito maior, o anolis marrom cubana. O anolis verde rapidamente se retirou para viver nas copas das árvores e, em um período de 20 gerações, desenvolveu patas maiores e com maior capacidade de se aderir em uma superfície, características úteis para a vida nas plantas.

A evolução rápida também foi constatada nas ovelhas da raça soay. A raça é nativa da ilha de Soay, no arquipélago de St. Kilda, na Escócia. Em um período de 25 anos, o tamanho dos animais diminuiu. Uma das possíveis explicações é que os invernos menos frios devido ao aquecimento global permitiram a sobrevivência de cordeiros menores, o que diminuiu o tamanho médio de toda a população desse animal.

Os três casos acima, no entanto, não foram acompanhados de estudos genéticos. E esses estudos são necessários, segundo alguns pesquisadores, para constatar se são casos de evolução ou de um fenômeno chamado “plasticidade fenotípica” - mudanças em resposta a alterações no meio ambiente que não são acompanhadas de modificações genéticas.

Um caso de evolução rápida comprovada por estudos genéticos foi publicado nesta semana na revista Science e outra vez os protagonistas são os anolis verdes. Neste caso, os anolis mudaram sua resposta muscular e nervosa ao frio em um período de apenas alguns meses.

Shane Campbell Staton, então estudante de pós-graduação em Harvard, investigou durante muitos anos cinco populações de anolis que viviam em diferentes latitudes. Quando o ambiente é muito frio, esses animais perdem a coordenação necessária para se endireitar. Após um período de frio intenso no Texas em 2013-2014, os lagartos que só conseguiam fazer isso a partir dos 11 °C passaram a ter essa capacidade a uma temperatura menor, de 6 °C. E essa mudança se refletiu a nível genético.

Campbell-Staton, atualmente na Universidade de Illinois, Estados Unidos, e seus colegas constataram que o repertório de genes ativos no fígado dos animais se assemelhava mais ao de espécies que viviam mais ao norte. E incluía também genes que influem no funcionamento dos sistemas muscular e nervoso.

Janet Hoole assinala que poderemos ver muito mais exemplos de evolução rápida devido ao aquecimento global. “O novo estudo sobre lagartos no Brasil mostra que a atividade humana também pode interferir no processo de evolução.”

Fica a dúvida: à medida que aumenta o impacto do ser humano na natureza, podem ocorrer mais casos de evolução rápida? Apesar da mudança no tamanho da cabeça e na boca dos lagartos parecer algo positivo, “devemos nos lembrar de que isso ocorreu devido à extinção de outras quatro espécies devido às inundações provocadas pela represa”, adverte Hoole. “É um lembrete oportuno de que a mudança climática não é o único desafio para a biodiversidade e os processos evolutivos.”


Nota: Embora os evolucionistas defendam com unhas e dentes o conceito filosófico de macroevolução (a ideia segundo a qual de uma célula primordial teriam evoluído todas as formas de vida conhecidas), quando apresentam exemplos concretos, estes se referem unicamente a adaptações ou diversificação de baixo nível (também chamadas por alguns de “microevolução”). O que aconteceu com essa espécie de lagarto brasileira também foi observado em Galápagos, em algumas espécies de tentilhões. Em um período de escassez de alimento, essas aves sofriam modificações epigenéticas limitadas. Passado o período de seca, elas voltavam ao “normal”. Tudo isso em relativamente pouco tempo. São fatos que mostram pelo menos duas coisas: (1) os seres vivos são dotados de capacidade limitada de variação por via epigenética, o que lhes permite sobreviver em um mundo em constante mudança, e (2) os limites entre as espécies são mais ou menos rígidos, a tal ponto que a tendência sempre é retornar ao “estado original”. [MB]

quinta-feira, agosto 10, 2017

Uma semana difícil para os ateus

Richard Dawkins é conhecido por ser um defensor intransigente do ateísmo e do darwinismo. Já postei muita coisa sobre ele aqui no blog (confira). Mas houve uma situação em que ele se deu muito, muito mal, durante um programa de rádio da BBC de Londres, ao vivo, debatendo com um sacerdote da Catedral de St. Paul. Com seu tom tipicamente beligerante, o autor de Deus um Delírio afirmou arrogantemente que os cristãos são muito despreparados, pois a maioria deles não seria sequer capaz de mencionar o nome dos evangelhos. A resposta do sacerdote foi impressionante. Assista.

Os dias da criação não foram literais? Como assim, William Craig?

Admiro muito o trabalho do filósofo e teólogo norte-americano William Lane Craig e já postei algumas coisas sobre ele aqui no blog (confira). Os livros dele são muito bons, especialmente quando ele defende apologeticamente a existência de Deus e a ressurreição de Jesus (a especialidade dele). Mas há um vídeo no YouTube em que ele se esforça para demonstrar que os dias da criação não seriam literais, de 24 horas, e usa argumentos muito fracos para alguém do nível dele (confira abaixo). Confesso que fiquei negativamente surpreso. O que ele faz é uma exegese defeituosa e injusta para com o texto bíblico. É muito contorcionismo hermenêutico: a intentio operis e a intentio auctoris são desprezadas pela intentio lectoris, como disse meu amigo Frank Mangabeira. Ellen White estava certa:

“As interpretações vagas e imaginosas das Escrituras, as muitas teorias contraditórias concernentes à fé religiosa, as quais se encontram no mundo cristão, são obra de nosso grande adversário para confundir o espírito de tal maneira que não saiba distinguir a verdade. E a discórdia e divisão que há entre as igrejas da cristandade são em grande parte devidas ao costume que prevalece de torcer as Escrituras, a fim de apoiar uma teoria favorita.

“Com o intuito de sustentar doutrinas errôneas ou práticas anticristãs, alguns apanham passagens das Escrituras separadas do contexto, citando talvez a metade de um simples versículo, como prova de seu ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser bem contrário o sentido. Muitos assim voluntariamente pervertem a Palavra de Deus. Outros, possuindo ativa imaginação, lançam mão das figuras e símbolos das Escrituras Sagradas, interpretam-nos de acordo com sua vontade, tendo em pouca conta o testemunho das Escrituras como seu próprio intérprete, e então apresentam suas fantasias como ensinos da Bíblia” (O Grande Conflito, p. 521).

“Quando quer que o estudo das Escrituras se inicie sem espírito de oração, humildade e docilidade, as passagens mais claras e simples, bem como as mais difíceis, serão torcidas do seu verdadeiro sentido. A Bíblia inteira deveria ser dada ao povo tal qual é. Melhor lhe seria não ter nenhuma instrução bíblica do que receber os ensinos das Santas Escrituras tão grosseiramente desvirtuados” (O Grande Conflito, p. 52).

LEIA SOBRE a literalidade dos dias da criação aqui, aqui, aqui e aqui.

quarta-feira, agosto 09, 2017

“Ancestral” das flores era mais complexa que as atuais

Embora a maioria das espécies de plantas na Terra as tenha, a origem evolutiva das flores é envolta em mistério. Sabemos que elas são os órgãos sexuais de mais de 360 ​​mil espécies de plantas vivas hoje, todas derivadas de um único [e suposto] antepassado comum em um passado distante. Essa planta ancestral, viva em algum momento entre 250 e 140 milhões de anos atrás [segundo a cronologia evolucionista], produziu as primeiras flores em um momento em que o planeta estava mais quente e mais rico em oxigênio e gases de efeito estufa do que hoje, um momento em que os dinossauros vagavam por paisagens primitivas. Mas, apesar do fato de os dinossauros terem sido extintos há [supostos] 65 milhões de anos, temos uma ideia melhor de como era um Tiranossauro do que a forma dessa flor ancestral. Isso acontece em parte porque essas primeiras flores não deixaram vestígios. As flores são estruturas frágeis que somente nas circunstâncias mais sortudas podem ser transformadas em fósseis. E como nenhum fóssil que remonta a 140 milhões ou mais anos foi encontrado, os cientistas só tinham uma ideia limitada de como esse antepassado teria parecido. Até agora.

Um novo e importante estudo realizado por uma equipe internacional de botânicos alcançou a melhor reconstrução até hoje dessa flor ancestral. A pesquisa, publicada na Nature Communications, não se baseia tanto nos fósseis, mas sim no estudo das características de 800 de suas espécies vivas descendentes. Ao comparar as semelhanças e diferenças entre as plantas floridas relacionadas, é possível inferir as características de seus ancestrais recentes.

Por exemplo, uma vez que todas as espécies de orquídeas têm flores em que metade é a imagem espelhada da outra (simetria bilateral), podemos supor que seu antepassado deve ter flores bilaterais. Comparando esses ancestrais recentes entre si, é possível avançar um pouco mais atrás no tempo, e assim por diante, até que possamos alcançar a base da árvore genealógica das plantas com flores.

Em alguns aspectos, a flor original se assemelha a uma magnólia moderna: tem múltiplas “pétalas” indiferenciadas (tecnicamente tépalas), dispostas em anéis concêntricos. No seu centro, existiam várias fileiras de órgãos sexuais, incluindo estames produtores de pólen e ovários portadores de óvulos. É difícil resistir à tentação de imaginar polinizadores antigos rastejando nessa flor, coletando grãos de pólen, ajudando inconscientemente a planta a produzir sementes.

O novo estudo ajuda a resolver a controvérsia sobre se as flores iniciais tinham sexos separados ou se os órgãos reprodutivos masculinos e femininos estavam combinados na mesma flor. As evidências anteriores apontavam respostas diferentes. Por um lado, uma das primeiras linhagens divergentes das plantas com flores, representada hoje em dia apenas por um arbusto raro da ilha do Pacífico da Nova Caledônia chamada Amborella, possui flores que são masculinas ou femininas. Por outro lado, a maioria das espécies modernas combina ambos os sexos na mesma flor.

Os autores do estudo resolveram a questão e mostraram que a flor ancestral era uma hermafrodita. Isso significa que as plantas de floração precoce poderiam se reproduzir tanto como macho quanto como fêmeas.

Os sexos combinados podem ser vantajosos para a colonização de novos ambientes, já que um único indivíduo pode ser seu próprio companheiro – muitas espécies de plantas que colonizam ilhas oceânicas remotas tendem a ser hermafroditas.

Apesar da aparente semelhança com algumas flores modernas, este antepassado tem algumas surpresas na manga. Por exemplo, os botânicos acreditavam há muito tempo que as flores iniciais tinham partes florais dispostas em uma espiral ao redor do centro da flor, como pode ser visto em espécies modernas, como a estrela-de-anis. A nova reconstrução, porém, sugere fortemente que as flores iniciais tiveram seus órgãos dispostos não em espiral, mas em uma série de círculos concêntricos, como na maioria das plantas modernas. A flor inicial tinha esses círculos mais numerosos, no entanto, sugerindo que as flores se tornaram mais simples ao longo do tempo.

Paradoxalmente, essa arquitetura mais simples pode ter dado às plantas modernas uma base mais estável sobre a qual evoluir e desempenhar tarefas mais complexas, como a interação sofisticada com certos insetos como nas orquídeas, ou a produção de “cabeças de flores” feitas de dezenas ou centenas de flores mais simples como na família dos girassóis.

Embora agora tenhamos uma boa ideia de como uma das primeiras flores pode ter sido, ainda sabemos pouco sobre como essa flor surgiu. Os passos detalhados que levam à sua evolução são desconhecidos. Talvez devamos aguardar a descoberta de novas flores fósseis que abrangem o buraco de tempo em torno de 250 a 140 milhões de anos atrás antes que possamos entender a própria origem da estrutura sexual mais diversificada do planeta.


Nota: “Inferir”, “supor”, “sugere fortemente” são palavras usadas no texto acima. Note que não foi encontrado nenhum fóssil. A tal flor ancestral foi imaginada com base nas características de suas supostas descendentes. Isso é ciência? Não, isso é exercício de imaginação. No entanto, mais ou menos como acontece quando descobrem um fragmento de mandíbula ou mesmo um dente e já divulgam ilustrações de um corpo inteiro, a figura ilustrativa da flor foi espalhada na mídia como se a própria tivesse sido descoberta. Entretanto, desconversam quando são descobertos, por exemplo, sangue em uma garra de dinossauro com supostos milhões de anos e tecidos moles em fósseis nos quais não deveria haver tecido algum a não ser material mineralizado. Há muito mais evidências concretas que respaldam o criacionismo, infelizmente o preconceito faz com que elas sejam ignoradas em detrimento de “descobertas” como a dessa flor que não existe. A verdade é que um exame dos restos reais de plantas que foram preservadas revela coisas diferentes e um tanto embaraçosas para os evolucionistas. Um dos grupos de plantas que mais perplexidade causa é o das angiospermas (ou plantas com flores) que aparecem repentinamente nos sedimentos cretáceos. “Vários grupos de flores que aparecem nas rochas do Cretáceo são semelhantes àqueles que existem agora. Nenhum registro de sua evolução foi encontrado” (Leonard Brand, Fé, Razão e História da Terra, p. 178). Mesmo no texto acima os pesquisadores admitem que as flores do passado eram mais complexas que as atuais. A pergunta que fica no ar, então, é: Como uma estrutura tão complexa quanto uma flor pode simplesmente ter surgido neste planeta, já funcional e sem ancestrais que revelem uma evolução gradual, em etapas sucessivas? Seria por que os tipos básicos das plantas foram criados por Deus já complexos no terceiro dia da criação, muitos deles com flores que esbanjam beleza e bom gosto? Tire suas conclusões. [MB]