Quando lemos Gênesis capítulos 6 a 9, temos o relato de um evento de extinção em massa, em escala planetária, chamado dilúvio. Obviamente para grande número de pessoas esse relato não é histórico; trata-se de um mito, quando muito, e sem nenhuma base científica para apoiar a possível hipótese de sua ocorrência real. Discordo veementemente desse ceticismo sem base, pois escrevi um livro que me demandou quase nove anos de pesquisa e redação, com mais de 800 páginas, mais de 600 ilustrações e mais de duas mil referências: O Dilúvio: Impacto de asteroides, extinções em massa, as glaciações, a formação do Atlântico e a Arca de Noé. Listei dezenas de evidências da ocorrência desse evento planetário. E como eu, muitos outros pesquisadores/autores que escreveram sobre o evento do dilúvio trataram-no como um relato histórico, relatando as centenas de evidências que dão sustentação à afirmação inicial, de um evento de extinção em massa, em escala planetária.
Eis que há poucos dias do fim de 2021 uma notícia veio acrescentar mais uma evidência da ocorrência do dilúvio àquelas já relatadas por mim e outros pesquisadores/autores dessa temática. Um artigo científico foi publicado na prestigiosa revista Nature, em 8/12/2021, no Scientific Reports,[1] “Seasonal calibration of the end-cretaceous Chicxulub impact event” (“Calibração Sazonal do evento de impacto Chicxulub do fim do Cretáceo”, tradução minha) de Robert A. DePalma, et al., em que os autores conseguem precisar em qual estação do ano, no Hemisfério Norte, ocorreu o impacto de Chicxulub que levou ao evento de extinção em massa no fim do período Cretáceo-Paleogeno, e teria exterminado os dinossauros e cerca de 75%[2] da fauna e flora daquela suposta época geológica.
A mídia com interesse em descobertas científicas reproduziu a notícia aqui:[3] “Foi graças a ests recente estudo que foi possível determinar exatamente a estação do ano que transcorria no Hemisfério Norte quando ocorreu o impacto: no fim da primavera e início do verão. [...] Os pesquisadores analisaram a estrutura e o padrão único das linhas de crescimento nas espinhas de peixes fossilizados do sítio e determinaram que todos morreram durante a fase de crescimento primavera-verão” (negrito no original).
O resumo que os autores apresentaram é o seguinte e mostra que o evento ocorreu na primavera/verão do Hemisfério Norte do Planeta:[1]
“O impacto de Chicxulub do fim do Cretáceo desencadeou a última extinção em massa da Terra, extinguindo ~75% da diversidade de espécies e facilitando uma mudança ecológica global para biomas dominados por mamíferos. Detalhes temporais do evento de impacto em uma escala fina (hora a dia), importante para entender a trajetória inicial de extinção em massa, têm escapado em grande parte de estudos anteriores. Esse estudo emprega análises histológicas e histo-isotópicas de peixes fósseis que eram contemporâneos com uma assembleia de morte em massa desencadeada pelo impacto da fronteira Cretáceo-Paleogene (KPg) em Dakota do Norte (EUA). Padrões de histórico de crescimento, incluindo periodicidade de ẟ18O e ẟ13C e morfologia da banda de crescimento, além de corroborar dados da ontogenia dos peixes e comportamento sazonal dos insetos, revelam que o impacto ocorreu durante a primavera/verão boreal, logo após a temporada de desova para peixes e a maioria dos táxons continentais. A gravidade e a simetria taxonômica da resposta aos perigos naturais globais são influenciadas pela estação durante a qual ocorrem, sugerindo que perturbações pós-impacto poderiam ter exercido uma força seletiva que foi exacerbada pelo tempo sazonal. Os dados desse estudo também podem fornecer uma visão retrospectiva vital dos padrões de resposta biótica existente aos perigos em escala global que são relevantes para os biomas atuais e futuros (tradução minha; negrito acrescentado).[1]
A análise detalhada que os autores fizeram você poderá ver no artigo original.
O que quero chamar à sua atenção é que os autores chegaram à estação do impacto de Chicxulub: primavera/verão no hemisfério Norte do planeta. É claro que, pela perspectiva bíblica, as estações do ano naquele tempo antes do dilúvio eram bem menos evidentes do que as atuais, mas, com certeza, a fauna possuía períodos de reprodução razoavelmente compatíveis com os observados atualmente.
Instado por amigo interessado no assunto, fui verificar se a constatação dos autores coincidia, eventualmente, com a data do início do dilúvio, citada no Gênesis. E, para meu espanto, se a conclusão dos cientistas for historicamente correta, pelas informações bíblicas era esperado que coincidissem. E coincidiram!
Vamos aguardar para ver se haverá contestação das conclusões dos cientistas.
Eis a minha análise:
Segundo o Gênesis, o dilúvio começou no ano 600 da vida de Noé, no dia 17 do segundo mês, e terminou no dia 27 do segundo mês do ano 601 de sua vida. Segundo o calendário judeu/israelita, o calendário religioso, o segundo mês é o mês de Lyar (nome do mês de origem babilônica; pronuncia-se Yar) ou Ziv ou Zive (em hebraico), que começa em 26 de maio do nosso calendário gregoriano. Assim, o dilúvio começou em 17 de Lyar ou Ziv ou Zive, que equivale ao dia 11 de junho do nosso calendário gregoriano.
Ora, o calendário judaico/israelita mostra claramente que o dilúvio começou na primavera/verão, já que o calendário religioso começa na primavera, equivalente aos meses de março/abril do nosso calendário gregoriano.
Não vou entrar aqui nos detalhes do calendário judaico/israelita, que possui dois inícios de ano, um religioso e outro civil. O calendário que usei é o religioso, pois era o que Moisés utilizava. O calendário civil começa no mês Tishri, no dia do Rosh Hashaná, que é o dia da celebração da criação do mundo, e marca o início de um novo ano civil.[3]
A precisão histórica da Bíblia no relato do dilúvio, com dia, mês e ano de seu início e fim, tinha um propósito específico, já que foi o Espírito Santo que inspirou Moisés a assim escrever.
Será que era para este momento da história? Estou seriamente inclinado a acreditar que sim.
Agradeço ao Pastor Eleazar Domini, do canal do YouTube “Fala Sério, pastor”,[4] os esclarecimentos sobre os nomes dos meses em hebraico.
(Celio João Pires é pesquisador e autor de livros criacionistas)
Referências:
1. DePalma, R.A., Oleinik, A.A., Gurche, L.P. et al. Seasonal calibration of the
end-cretaceous Chicxulub impact event. Sci
Rep 11, 23704
(2021). <https://doi.org/10.1038/s41598-021-03232-9>. Disponível em:
<www.nature.com/articles/s41598-021-03232-9>. Acesso em: 18/12/2021.
2.
Determinado momento exato do impacto do asteroide que causou extinção dos
dinossauros na Terra. Sputnik Brasil. 13/12/2021.
Disponível em: <https://br.sputniknews.com/20211213/determinado-momento-exato-do-impacto-do-asteroide-que-causou-extincao-dos-dinossauros-na-terra-20662241.html>.
Acesso em 18/12/2021.
3. O
Calendário Judaico. Portal São Francisco. Disponível em:
<www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/calendario-judaico>. Acesso
em 18/12/2021.
4.
“Fala sério, pastor.” Domini, Eleazar. Disponível em: <www.youtube.com/c/Falasériopastor>.
Acesso em: 21/12/2021.