Cientistas conseguiram produzir luz a partir do vácuo. A realização do experimento, previsto há mais de 40 anos, coube a Christopher Wilson e seus colegas da Universidade Chalmers, na Suécia. O grupo conseguiu capturar fótons que pululam do vácuo quântico, aparecendo e desaparecendo continuamente. O experimento é baseado em um dos mais estranhos, mas mais importantes princípios da mecânica quântica: o princípio de que o vácuo pode ser tudo, menos um vazio “repleto de nada”. Na verdade, o vácuo está repleto de partículas que estão flutuando continuamente entre a existência e a inexistência: elas surgem do nada - ou melhor, do vácuo quântico - têm uma vida efêmera e desaparecem novamente. Seu tempo de vida é tão curto que esses fótons são mais comumente conhecidos como partículas virtuais.
O que os pesquisadores fizeram foi pescar alguns desses fótons e dar-lhes a eternidade em termos quânticos, ou seja, transformá-los em fótons reais, luz que pode ser detectada por um sensor e medida. Para capturar os fótons virtuais, os pesquisadores simularam um espelho movendo-se a uma fração significativa da velocidade da luz. O fenômeno, conhecido como efeito de Casimir dinâmico, foi observado experimentalmente pela primeira vez.
“Como não é possível fazer um espelho mover-se rápido o suficiente, nós desenvolvemos outra técnica para obter o mesmo efeito”, explica o professor Per Delsing, coordenador da equipe. “Em vez de variar a distância física até um espelho, nós variamos a distância elétrica de um circuito elétrico que funciona como um espelho para micro-ondas.”
O “espelho” consiste em um sensor quântico conhecido como SQUID (Superconducting Quantum Interference Device), que é extremamente sensível a campos magnéticos. Alterando a direção do campo magnético vários bilhões de vezes por segundo, os cientistas fizeram o “espelho” vibrar a uma velocidade equivalente a 25% da velocidade da luz. Isso é cinco vezes mais do que a tentativa anterior, quando os cientistas afirmaram pela primeira vez ter produzido luz a partir do nada - aquele artigo, contudo, ainda não havia sido aceito para publicação em uma revista científica, o que significa que outros cientistas não haviam avaliado o experimento.
“O resultado foi que os fótons apareceram em pares do vácuo, e nós pudemos medi-los na forma de radiação de micro-ondas”, disse Delsing, ou seja, exatamente como a teoria previa.
O que acontece durante o experimento é que o “espelho” transfere uma parte de sua energia cinética para os fótons virtuais, o que os ajuda a se “materializarem”. Segundo a mecânica quântica, vários tipos de partículas pululam no vácuo quântico. Os cientistas acreditam que foram capazes de detectar os fótons porque eles não têm massa.
“É necessário relativamente pouca energia para excitá-los e tirá-los do estado virtual. Em princípio, podem-se criar outras partículas do vácuo, como elétrons e prótons, mas isso vai exigir um bocado mais de energia”, disse Delsing.
Agora os cientistas querem estudar em detalhes esses fótons emergentes: como eles surgem aos pares, os cientistas acreditam que eles possam ser úteis para o desenvolvimento de computadores quânticos, com seus qubits de partículas entrelaçadas.
(Inovação Tecnológica)
Nota: Quando essa pesquisa começou a ser desenvolvida, alguns naturalistas (que creem que o Universo surgiu do nada – ou sempre existiu! – sem a necessidade de um poder sobrenatural) se precipitaram e me disseram: “Tá vendo? É possível criar algo do nada.” Imprudentes, ainda não aprenderam que, nessas horas, é preciso paciência para aguardar novas pesquisas. E as pesquisas vieram e os termos foram aclarados. Resumindo: o vácuo quântico não tem nada a ver com o “nada”. Conforme escreveu William Lane Craig, em seu livro Em Guarda, “para a física moderna, o vácuo não é o que o leigo entende como ‘vácuo’, ou seja, como nada. Antes, para a física o vácuo é um mar de energia flutuante regido pelas leis da física e que tem uma estrutura física. Dizer a um leigo que com base nessas teorias podemos dizer que algo veio do nada significa distorcê-las. Se devidamente entendido, o ‘nada’ não significa apenas o espaço vazio. O nada é a total ausência do que quer que seja, até mesmo do próprio espaço. Como tal, a condição de nada não possui literalmente falando nenhuma propriedade, uma vez que não existe nada para ter propriedades! É uma tolice, portanto, o que esses popularizantes da física argumentam quando dizem ‘O nada é instável’ ou ‘O universo encapsulou e passou a existir a partir do nada’!” (p. 83).[MB]