Ao observar a foto de um ornitorrinco, o que vem à sua
mente? Animal que bota ovos como aves e répteis, tem bico de pato, pelos como
os mamíferos e cauda achatada parecida com a de um castor. Essas são apenas
algumas de suas características. Você já deve imaginar que esse animal
inusitado causa muito alvoroço no mundo científico, deixando todos confusos e
curiosos. No fim do século 18 alguns de
seus espécimes chegaram à Grã-Bretanha. No início os naturalistas pensaram que
ele seria uma falsificação e procuraram por marcas de costuras que poderiam ter
sido feitas por um taxidermista no intuito de fraudar uma nova espécie. Os
ornitorrincos são monotremados – mamíferos que botam ovos e pertencem à
subclasse Prototheria. Eles não são os únicos que botam ovos entre a classe
Mammalia; temos também algumas espécies de equidna. Eles vivem
principalmente na Austrália, sendo encontrados em córregos em Nova Gales do
Sul, centro e sudeste de Victoria, dentre outras regiões. Alimentam-se dentro
da água.
E seu “bico”? Diferentemente do bico das
aves, ele não é tão rígido; é seu principal órgão sensorial, com muitos nervos
e poros sensíveis na superfície, respondendo a impulsos produzidos por
criaturas subaquáticas.
Durante os mergulhos, seus olhos e ouvidos
fecham automaticamente, a cabeça se movimenta de um lado para o outro captando
sinais de campo elétrico que são gerados por suas presas. O bico auxilia
grandemente na busca por alimento e localização embaixo d’água.
Os ornitorrincos não são animais grandes,
geralmente apresentam o tamanho de um gato pequeno, medem de 40 a 50 cm e os
machos são maiores que as fêmeas. Possuem esporões nas patas traseiras,
sendo estes conectados a um ducto que chega a uma glândula de veneno.
As fêmeas, assim como os demais mamíferos,
possuem glândulas mamárias que se estendem por toda a barriga no período de
lactação, mas não possuem tetas – os filhotes mamam o leite que é rico em ferro
direto dos poros da mãe.
Esses animais possuem um esqueleto
aerodinâmico, bem adaptado ao seu estilo de vida. Ele é suficientemente pesado
para suportar a musculatura grande que auxilia tanto na natação quanto na
escavação realizada pelos membros anteriores.
Os mamíferos que pertencem ao grupo dos
marsupiais (como os cangurus e gambás) e eutérios (que compõe a maior parte dos
mamíferos - possuem placenta) têm na sua maioria cintura peitoral composta
por dois pares de ossos - escápulas e clavículas. Nos
ornitorrincos os cientistas observaram que “os ossos das cinturas peitoral
e pélvica são bastante semelhantes aos de certos répteis, mas o resto de seu
esqueleto é definitivamente [como o dos] mamíferos. O ouvido interno também é
mamífero, tendo três ossículos de condução sonora: o martelo, a bigorna e o
estribo” (p. 12).[3] A diferença na cintura peitoral dos ornitorrincos está na
presença de procoracóide e ossos interclaviculares, como nos répteis.
Exemplo
de cintura peitoral presente nos mamíferos – escápula e clavícula
Mais abaixo, exemplo
de cintura peitoral de um réptil com a indicação dos ossos que também são encontrados
nos ornitorrincos: procoracoide e interclaviculares.[3]
O posicionamento das pernas também é
semelhante ao dos répteis, mas o movimento na sua base é típico de um mamífero
- possuem ligamentos muito fortes entre a musculatura e os ossos. Fora da água
as pernas posteriores se estendem horizontalmente promovendo um andar arrastado
como o dos lagartos.
Nas vertebras cervicais (do pescoço) eles
possuem costelas rudimentares como em alguns répteis. Mas a mandíbula
inferior é formada por um par de ossos – assim como a de outros mamíferos, além
de sete vertebras cervicais que também são características do grupo ao qual
pertence.
O esqueleto é adaptado para sustentar o
nado, a caminhada e a escavação - atividades necessárias para a sobrevivência
dele.
A calda achatada contém tecido gorduroso
(sendo um meio de armazenamento de energia); cerca de metade da reserva de seu
corpo encontra-se acumulada nela; é uma importante fonte de alimento extra
durante o inverno. Também é utilizada pela espécie no transporte de folhas para
a produção do ninho e a proteção dos ovos - mantendo-os aquecidos além de
promover a estabilização do nado.
Os pelos do corpo são ótimos isolantes
térmicos e ajudam a reter a água mesmo dentro dos lagos. Além dos pelos grossos,
possuem também uma camada interior de pelos mais finos que aprisionam uma
camada de ar sobre os pelos mais externos, e com isso ele mantém certo nível de
impermeabilidade que possibilita que o animal permaneça aquecido mesmo em águas
frias. Em apenas um milímetro quadrado do seu corpo há uma média de 600 a
900 pelos.
Quando jovens apresentam dentição; conforme
entram na fase adulta eles vão sendo substituídos por almofadas queratinizadas.
Possuem um sistema circulatório
duplo/fechado e glóbulos vermelhos anucleados; estas são mais algumas
características de mamíferos.
Em um artigo publicado pela revista Nature,[1] o sequenciamento do DNA de
uma fêmea de ornitorrinco foi realizado e comparado com o genoma de outros
mamíferos e do frango. O interesse estava em encontrar famílias de genes
envolvidos na biologia que ligaria os monotremados aos répteis através de
características como postura de ovos e visão, além de atributos típicos dos
mamíferos (lactação, por exemplo) e outras específicas dos ornitorrincos como o
forrageamento subaquático. Como resultado, nas sequências do genoma encontraram
traços de répteis e de mamíferos - “os ornitorrincos possuem características
ancestrais reptilianas e derivadas de mamíferos”. Seu genoma seria considerado
um amálgama (mistura de características de diferentes classes em um mesmo
indivíduo).
Os ornitorrincos são classificados como
mamíferos primitivos. De acordo com um documentário da Discovery Channel[5]
eles são “criatura[s] altamente sofisticada[s] em fina sintonia com seu meio
ambiente”, além disso “teria[m] sobrevivido por tanto tempo não apesar das suas
estruturas arcaicas, mas justamente por causa delas”.
De acordo com a bióloga Rebecca Young, da
Universidade do Texas[2]: “[...] eles
estão em algum lugar entre um lagarto e o que pensamos ser um mamífero
placentário semelhante a um humano, mantendo algumas características
reptilianas e mamíferas.”
Em 2010, em um estudo liderado por Warren,[2]
encontraram 83 toxinas no veneno do ornitorrinco. Eles possuem genes “que se assemelham aos genes de veneno de
outros animais, incluindo cobras, estrelas-do-mar e aranhas. É
provavelmente um exemplo de evolução convergente, em que espécies não
relacionadas evoluem características semelhantes.”
“O ornitorrinco
[seria] o único remanescente de um ancestral que divergiu de todos os outros
mamíferos há cerca de 150 milhões de anos [sic].”[6]
Essas são as
considerações feitas por cientistas evolucionistas, obtidas a partir da
interpretação e especulação de resultados de pesquisas. Tais interpretações também
podem ser influenciadas pela cosmovisão do pesquisador – seja ela evolucionista
ou criacionista. Qual seria a maneira correta de interpretar os resultados
obtidos pelas análises do fenótipo do indivíduo e também do sequenciamento do
seu DNA? Não são questões simples.
Há muito para ser
explorado e aprendido sobre essa temática; é necessário conhecer além do
exposto para tirarmos algum tipo de conclusão.
Partindo da citação
retirada do documentário da Discovery Channel (“Criatura[s] altamente sofisticada[s] em
fina sintonia com seu meio ambiente”) e
analisando tudo o que foi colocado sobre a espécie, é nítido que os
ornitorrincos são extremamente bem adaptados ao seu ambiente. Possuem corpo
completamente funcional e complexo, com diversas peculiaridades. São animais
singulares e muito curiosos.
Embora possuam uma
aparência diferente daquela com a qual estamos acostumados, eles são eficientes
e muito bem estruturados. Qual a probabilidade de esse “indivíduo” com toda a
sua complexidade ter se originado sem qualquer direcionamento ou designer?
Moema Rubia Patriota
Referências:
[1] Genome analysis of the platypus reveals
unique signatures of Evolution
[2] How the Venomous, Egg-Laying Platypus Evolved
[3]Fauna of Australia:
ORNITHORHYNCHIDAE. https://www.environment.gov.au/system/files/pages/a117ced5-9a94-4586-afdb-1f333618e1e3/files/16-ind.pdf
[4] Australian Natural History Serie – Platypus, fourth
edition, 2008, Tom Grant
[5] Ornitorrinco: Um Sobrevivente
Silencioso (Dublado) Documentário Discovery Channel
[6] Which Animals Have Barely Evolved?