Uma nova polêmica foi criada em torno da
ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves: sua opinião a
respeito da teoria da evolução. Nas imagens de uma entrevista concedida por ela
em 2013, Damares responde sobre o papel da igreja evangélica na política e
observa que os cristãos perderam influência nas escolas. “A igreja evangélica
perdeu espaço na história. Nós perdemos o espaço na ciência quando deixamos a
teoria da evolução entrar nas escolas, quando nós não questionamos. Quando nós
não fomos ocupar a ciência. A igreja evangélica deixou a ciência para lá e
‘vamos deixar a ciência sozinha, caminhando sozinha’. E aí cientistas tomaram
conta dessa área”, diz a ministra no vídeo. Em nota, o ministério informou que
“a declaração ocorreu no contexto de uma exposição teológica que não tem
qualquer relação com as políticas públicas que serão fomentadas” pela pasta.
A teoria da evolução, reconhecida por grande
parte da comunidade científica, defende que, a partir de ancestrais comuns, os
seres humanos e outros tipos de vida sofrem mudanças evolutivas de uma geração
para outra. No entanto, ela ainda é questionada por muitos cientistas, como o
físico Adauto Lourenço, mestre em Física pela Clemson University (EUA). Ele
apresenta evidências científicas que desmentem a tese defendida pelos
evolucionistas.
“O problema é que o que sabemos hoje de
seleção natural está ligado à quantidade de informação genética que um
organismo tem. Para que a seleção natural ocorra, algo deve se transformar em
outra coisa. Mas a informação genética disponível não faz com que ‘isso’ se
transforme ‘naquilo’”, disse Lourenço em entrevista ao Guiame.
“Vamos pegar um exemplo prático: a boa pata
de um réptil. Vamos imaginar que essa boa pata iria evoluir e, lá na frente,
esse animal se tornaria uma ave. Para que essa boa pata se transforme em uma
boa asa, no meio [do processo] ela não seria nem uma boa pata, nem uma boa asa.
A seleção natural faria com que isso deixasse de existir. A seleção natural é
um mecanismo que impede o processo evolutivo; exatamente o contrário daquilo
que muitos acreditavam”, esclarece.
Lourenço lembra que o naturalista Charles
Darwin, quando escreveu seu livro, disse que o maior problema com sua teoria é
que não havia evidências de evolução. “A quantidade de evidências mostrando que
a evolução nunca aconteceu, no registro fóssil, na genética, na biologia, nos
processos naturais, é esmagadora. Continua sendo ensinado aquele mecanismo de
forçar a pessoa a aceitar por intimidação. Hoje um aluno não pode mais dizer
que não concorda com isso”, observa. [...]
(GuiaMe)
Nota: Minha posição, assim como a da Sociedade Criacionista
Brasileira, continua sendo pelo não ensino do criacionismo nas escolas públicas,
não porque ele não merecesse ser ensinado ao lado da hipótese da evolução, mas
porque o modelo seria distorcido ou mal explicado por professores que só
conhecem (quando conhecem) o evolucionismo. Além disso, em um estado laico, não
convém levar para as aulas de ciência e biologia uma estrutura conceitual que
integra ciência e religião. Mas isso seria um grande problema? E o
evolucionismo seria mesmo ciência pura? E se não, seria conveniente apresentá-lo
como fato, verdade absoluta? Em outro post voltarei a essas três perguntas. Agora
quero ponderar outro aspecto da celeuma.
O vídeo em que a ministra fala sobre o ensino
da teoria da evolução é de cinco anos atrás e foi gravado em um contexto
totalmente diferente do atual. É verdade que as palavras de Damares não têm
aquele rigor científico nem filosófico, mas expressam uma opinião dela que, em
partes, tem lá sua razão. Vejamos.
Ela disse: “Nós perdemos o espaço na ciência
quando deixamos a teoria da evolução entrar nas escolas, quando nós não
questionamos.” Damares tem razão. A ciência foi descoberta por homens de
profunda convicção religiosa e fé na Bíblia Sagrada. Cientistas como Newton,
Galileu, Pascal e outros nos legaram o pensamento científico e o harmonizavam
bem com a religião. Faziam pesquisa científica para descobrir como Deus criou o
Universo e a vida. Quando o darwinismo dominou o ambiente acadêmico, acabou
impedindo a discussão ampla a respeito das origens. Os evolucionistas mais
honestos e bem informados admitem que a teoria da evolução contém graves
insuficiências epistêmicas e falha em responder muitas perguntas, mas procuram
evitar esses questionamentos justamente para não dar espaço para a “hipótese
concorrente”, o criacionismo. E por quê? Porque querem manter sua posição
naturalista, dando as costas para tudo o que não pertença aos domínios do mundo
dito natural.
Damares também fala em “questionamento”. E
que mal há nisso? Não deveria ser justamente na universidade que o pluralismo
de ideias teria que ser aceito e promovido? Não é papel da imprensa questionar
e apresentar pelo menos duas faces de uma mesma história? Mas não. Ao tornar
hegemônica e inquestionável a teoria da evolução, essas mesmas pessoas blindam
esse modelo conceitual e o tornam inquestionável.
A ministra (que na época não era ministra)
disse também: “A igreja evangélica deixou a ciência para lá e ‘vamos deixar a
ciência sozinha, caminhando sozinha’. E aí cientistas tomaram conta dessa área.’”
Bem, os cientistas têm mesmo que “tomar conta” dessa “área”. Mas que os
evangélicos se distanciaram da ciência, isso é verdade. Essa atitude inclusive
faz com que muitos cristãos abracem crendices, desprezem o estudo profundo das
Escrituras Sagradas (deixando de lado, por exemplo, a arqueologia, a
hermenêutica e a exegese, por exemplo) e digam verdadeiras asneiras quando o
assunto é ciência (terraplanistas e militantes antivacinação que o digam...).
Só mais um detalhe: quando os presidentes
anteriores indicavam algum ministro, quase ninguém se interessava pelo assunto,
a não ser quando essa pessoa era citada em alguma investigação por corrupção. É
interessante e positivo o recente interesse por política e pela vida das
pessoas que estão sendo indicadas para cargos públicos, mas chega a ser
hipocrisia ficar vasculhando vídeos e declarações antigos para tentar minar a
autoridade e o currículo dessas recém-empossadas autoridades.
Em outro post vou analisar outros aspectos dessa polêmica. [MB]