sábado, maio 20, 2023

Apocalipse, o tempo do fim e a ciência


Pretendo abordar aqui dois exemplos de como ideias podem se tornar preconceitos a ponto de não permitir que a mente cresça no sentido de entender o que a natureza e a Bíblia estão nos revelando. Dois capítulos na Bíblia afastam a cortina da vida neste mundo tão voltado para interesses imediatos e para a secularização: Apocalipse 4 e 5.

“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas e por Tua vontade elas vieram a existir e foram criadas” (Ap 4:11).

“Os capítulos 4 e 5 [de Apocalipse] apresentam um louvor crescente das criaturas ao Criador: primeiro os querubins ao redor de Seu trono, depois os 24 anciãos O louvam por ter criado todas as coisas e, no capítulo 5, todas as criaturas louvam a Deus. Essas cenas brilhantes de júbilo e louvor estão em acentuado contraste com as que podemos testemunhar entre os seres humanos vivendo nos últimos dias da história da Terra, enquanto o julgamento que decide seu destino para a vida ou para a morte eternas está se encerrando no Santuário Celestial!” (As Profecias na Bíblia: uma introdução ao estudo das profecias de Daniel e Apocalipse, p.79.)

O planeta passou por muitas mudanças desde o tempo em que a Igreja Católica se tornou um poder dominante no mundo ocidental, quando a última tribo ariana (ostrogodos), que se opunha à autoridade da Igreja, foi derrotada pelo imperador católico Justiniano, em 538. Durante a Idade Escura, como ficou conhecida a Idade Média (apesar de alguns rejeitarem essa ideia atualmente), religião e superstição andavam de mãos dadas: “Nos tempos medievais, as pessoas acreditavam enfaticamente em bruxas e espíritos malignos, e os culpavam por má sorte e infortúnio” (Devine, P. Beleifs and Superstitions – medieval graffiti. http://www.medieval-graffiti.co.uk, 01 2018.) 

“Quando o mundo começou a emergir da Idade Escura, com a Renascença e o Iluminismo, com a valorização da razão e do humanismo, ficaram associados com a religião cristã a superstição, o misticismo e o obscurantismo, e isso persiste até hoje para muitos. No entanto, não era assim quando o Cristianismo surgiu. Roger Bacon escreveu: ‘O preconceito contra a Matemática ganhou força pela luta do paganismo contra o cristianismo, em que a magia era usada pelo primeiro e em que os milagres cristãos eram considerados como magia’ (Bacon, R. The Opus Majus. 1897. ed. London, Edinburgh and New York: Henry Frowde, M.A., 1267. v. 01.)

“Muitos pensadores quiseram se distanciar de tudo isso colocando superstição, misticismo e Deus na mesma bagagem e, com o tempo, surgiu a proposta naturalista, que desconsidera qualquer influência sobrenatural na natureza. No entanto, pioneiros da Ciência, como Galileu, Da Vinci e outros, como vimos anteriormente, consideravam que sem Matemática não existe Ciência. Todas as regras do mundo natural dependem da Matemática e ela abrange coisas que não fazem parte do mundo natural. Ela é, portanto, sobrenatural. Quando Charles Darwin publicou A Origem da Espécies, em 1859, com o tempo, as ideias que ele expressou em seu livro acabaram se tornando um dogma da Biologia. E isso apesar de que cada dia surgem mais evidências de que as coisas não funcionam exatamente da maneira como deveriam se a Teoria da Evolução estivesse correta” (As Profecias na Bíblia: uma introdução ao estudo das profecias de Daniel e Apocalipse, p.79.)

A palavra “evolução” significa apenas mudanças ao longo do tempo, mas em Biologia significa mudanças em características de uma espécie ao longo de gerações e que são selecionadas pelo mecanismo de seleção natural. Esse mecanismo determina que mudanças favoráveis em indivíduos, que aumentam as chances de sobrevivência no ambiente, são retidas e passadas aos descendentes, enquanto as desfavoráveis, que diminuem as chances de sobrevivência, tendem a ser eliminadas. Darwin propôs que todas as espécies de organismos vivos tiveram um único ancestral comum a partir do qual se desenvolveram. Com a descoberta dos mecanismos da Genética, por Gregor Mendel (1856-1863), as modificações nas espécies passaram a ser atribuídas a mutações que ocorrem nos genes e a Teoria da Evolução passou a ser conhecida como Síntese Evolutiva Moderna. Darwin acreditava que as modificações nos organismos eram um processo lento e contínuo: “Não vemos nada dessas mudanças lentas em progresso, até que o ponteiro do tempo tenha marcado o longo lapso das eras” (Darwin, C. On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Albemarle Street, London: John Murray, 1859).

1. Primeiro exemplo

Diversas pesquisas modernas têm trazido à luz evidências de que os organismos não aumentam suas chances de sobrevivência por mutações que são aleatórias nos genes e que não é necessário um processo lento que dure longas eras. Só para citar algumas destas pesquisas:

  • Um estudo com cinco espécies de tentilhões das Ilhas Galápagos demonstrou que as modificações nessas espécies foram, principalmente, devidas a mecanismos epigenéticos e não a mutações aleatórias nos genes. Esses mecanismos fazem parte das estratégias com que os organismos são dotados para regular seus genes de forma a enfrentar desafios do ambiente (Kinner, M. K. et al. Epigenetics and the evolution of Darwin’s finches. Genome Biology And Evolution, v. 6, p. 1972-1989, 2014).
  • Descobertas sobre tentilhões por Peter e Rosemary Grant, que passaram quatro décadas na Ilha Dafne Maior, em Galápagos, evidenciaram que espécies podem mudar muito rapidamente quando necessário. Eles testemunharam o surgimento de um novo tipo de tentilhão, mais robusto do que os que viviam nessa ilha, ao longo de alguns poucos anos em que períodos de chuva e seca se intercalaram e vários tentilhões morreram. Em poucos anos, eles presenciaram o que Darwin acreditava que levaria eras. Foi algo que aconteceu em poucos anos e surgiu devido a mudanças no ambiente que colocavam os tentilhões em risco (Cressey, D. Darwin’s finches tracked to reveal evolution in action. Nature, London, v. 2009.1089, p. 1, 2, 2009).
  • Outras pesquisas que apontam para mecanismos que são acionados para preservar a espécie em face de mudanças ou ameaças do ambiente são as que foram realizadas a partir da descoberta de bactérias capazes de digerir náilon e plástico. Essas bactérias desenvolveram essas habilidades rapidamente na ausência de outros substratos com que pudessem se nutrir (Kinoshita, S. et al. 6-aminohexanoic acid cyclic dimer hydrolase. a new cyclic amide hydrolase produced by acromobacter guttatus ki 72. European Journal Biochemistry, v. 80, p. 489-495, 1977. YOMO, T. et al. No stop codons in the antisense strands of the genes for nylon oligomer degradation. PNAS, v. 89, p. 3780-3784, 1992. Prijambada, I. D. et al. Emergence of nylon oligomer degradation enzymes in pseudomonas aeruginosa pao through experimental evolution. Applied and Environmental Microbiology, v. 61, p. 2020-2022, 1995. Flashman, E. How plastic-eating bacteria actually work – a chemist explains. https://theconversation.com/how-plastic-eating-bacteria-actually-work-a-chemist-explains-95233).
  • Um estudo, publicado em 2008, descreve modificações em uma proteína (do tipo Trim) que é expressa em linfócitos (células de defesa) de duas linhagens diferentes de macacos. Essas modificações produziram uma proteína muito mais potente para combater vírus. As modificações nas duas linhagens de macacos são diferentes, mas tiveram resultados parecidos. A proteína que foi modifcada pertence a uma família de proteínas que reconhece e combate alguns tipos de vírus, inclusive HIV-1. Houve uma inserção de um pseudogene nas vizinhanças do gene que produz a proteína antiviral desses macacos. Esse pseudogene faz parte do código de uma proteína (Ciclofilina A) capaz de se ligar à cápsula proteica de algumas formas de vírus. Normalmente os genes passam por um processamento depois de se replicarem e antes de serem traduzidos para proteínas, mas, no caso dessas proteínas Trim antivirais, o gene da proteína que faria o processamento dos genes delas mutou e permite que haja uma proteína híbrida Trim-Ciclofilina A. As modificações são incrivelmente coordenadas: uma inserção de um pseudogene interessante contra vírus próximo exatamente do código de uma outra proteína interessante contra vírus, seguida de mutação justamente no gene que poderia impedir que a proteína híbrida se formasse. O autor desse artigo comenta que é difícil provar que a seleção natural favoreceria esse tipo de mutação, pois o pseudogene sozinho não codificava nada útil para a célula. Como há uma frequência alta desse tipo de mutação em duas espécies de macacos, ele acredita que ela já foi evolutivamente vantajosa alguma vez. Mas todas essas incríveis coincidências parecem fazer parte de mecanismos programados para permitir a sobrevivência em ambientes hostis (Newman RM, Hall L, Kirmaier A, Pozzi L-A, Pery E, et al [2008]. Evolution of a TRIM5-CypA Splice Isoform in Old World Monkeys. PLoS Pathog 4(2): e1000003. doi:10.1371/journal.ppat.1000003).
  • Em um artigo sobre “código de barras de DNA”, o autor comenta que “as espécies são ilhas no espaço de sequência”. Com isso, ele quer dizer que as evidências que ele encontrou no DNA das mitocôndrias das espécies indicam que elas não demonstram terem ido mudando paulatinamente ao longo do tempo para darem origem umas às outras, ou seja, elas são suficientemente diferenciadas e separadas como ilhas (Stoeckle, M., Thaler, D. Why should mitochondria define species? Human Evolution, v. 33, p. 1-30, 2018).

Concluindo, as modificações nas espécies que são significativas para sua sobrevivência parecem não atender a dois pressupostos da Teoria da Evolução: a de mutações aleatórias e a de longas eras de transformações lentas.

2. Segundo Exemplo

Atualmente, alguns criacionistas parecem pensar que admitir que existe uma equação matemática que indica que o Universo foi criado é algum tipo de negação de Deus ou do poder Dele.

Equações matemáticas e a criação do Universo por Deus não são coisas que se contrapõem, assim como o fato de o ser humano ter sido formado do material do pó da Terra não contradiz o fato de que Deus o formou. O material do pó da Terra foi o meio que Deus usou para criar os seres humanos. Matemática é intrínseca à personalidade de Deus; ela é o fundamento das Suas leis físicas e morais. Maupertuis, um polímata francês do século 18, descobriu o que hoje é conhecido como o Princípio da Ação Mínima, uma equação da qual se originam as leis físicas básicas. Ele descobriu esse princípio a partir da leitura da Bíblia, a qual diz que tudo quanto Deus faz é bom. Esse princípio é um princípio de otimização. Desse princípio, as leis morais são derivadas; tudo quanto Deus faz segue esse princípio. As equações das leis físicas foram deduzidas a partir desse princípio. Dentre essas, existe uma que implica que o Universo foi criado. São as duas revelações de Deus em harmonia: a Bíblia e a natureza (leis naturais).

Acredito ser importante, ao estudarmos a Bíblia e a natureza, permitir que elas nos esclareçam, que elas se revelem. A tentativa de fazê-las se adaptar às nossas suposições, aos nossos preconceitos e à nossa razão humana falível resulta em cegueira. Isso pode acontecer com qualquer um que aceite ideias a priori e se apegue a elas antes de testar ideias contrárias, sejam elas pressupostos religiosos ou teorias supostamente científicas que não usam realmente Ciência.

(Graça Lütz é bióloga e bioquímica)