terça-feira, maio 09, 2023

As três mensagens angélicas e o criacionismo

Uma reflexão oportuna em complemento à lição da Escola Sabatina desta semana ("Adorando o Criador")


As três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12 resumem a missão do povo de Deus no tempo do fim. Essas mensagens referem-se à forma como o evangelho eterno deve ser apresentado nesta época.

A primeira mensagem estabelece os dois fundamentos da missão:

  1. Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo.
  2. Adorai Aquele que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas.

O primeiro fundamento refere-se ao período profético atual e sua conexão com o plano da salvação, bem como com a questão da norma do juízo e a correta relação entre fé e obras. Essa parte tem sido bastante bem explorada na teologia adventista, exceto por um ponto que depende do segundo fundamento.

O segundo fundamento é a mensagem criacionista, que tem sido vista de maneira simplista e distorcida. Destaco então alguns dos pontos mais importantes.

1. No tempo do fim, o inimigo estaria muito experiente, eficiente e especialmente empenhado em enganar.
2. Deus proveu duas armas principais para combater os enganos do inimigo e para proporcionar um grande aprofundamento no conhecimento:
  • A primeira arma é uma motivação para que a Bíblia fosse estudada de maneira mais sistemática e profunda. A Reforma Protestante proporcionou o ambiente para isso. O estudo das profecias foi grandemente beneficiado.
  • A segunda arma é uma metodologia de estudo que permite superar as limitações da razão humana: a revolução científica apresentou um novo significado para a palavra “ciência” a partir de uma cosmovisão criacionista: a ideia foi a de que Deus é perfeito, sistemático e criou tudo o que existe usando padrões matemáticos de Seu próprio caráter; por outro lado, a razão humana tem-se mostrado insuficiente e não confiável para lidar com certos aspectos da realidade; propôs-se, então, encontrar e utilizar padrões matemáticos usados por Deus na criação e manutenção do Universo e usá-los para ler o que está escrito no livro da natureza, ao invés de apenas admirar suas gravuras; a metodologia matemática que se obtém dessa forma foi chamada de Ciência e está intimamente ligada à missão criacionista.
3. O inimigo contra-atacou de duas maneiras:
  • Criando viés e empecilhos ao estudo da Bíblia, de maneira a obscurecer ensinamentos importantes;
  • Induzindo um conceito racionalista de ciência, uma contrafação que fosse compatível com o humanismo; por exemplo, o chamado “método científico” (que é essencialmente tentativa e erro) faz parte dessa contrafação.

A mente humana é incapaz de lidar corretamente com domínios que estejam longe do cotidiano. Essa limitação é herdada pela Filosofia, que é a forma mais organizada do entendimento coletivo humano. A ciência humana, que é uma construção social, possui a mesma limitação, pois está subordinada à Filosofia. O método científico, por exemplo, depende de hipóteses que podemos imaginar.

Por outro lado, a verdadeira Ciência não está sujeita e essas limitações e apresenta as seguintes características principais:

  1. Permite penetrar em áreas inacessíveis a qualquer outra abordagem.
  1. Permite lidar corretamente com assuntos que não fazem sentido para a razão humana. Isso inclui fenômenos físicos contraintuitivos, mas não se limita a eles. A razão humana pura, quando consegue opinar sobre esses assuntos, chega frequentemente a conclusões falsas.
  1. Permite prever, até em detalhes quantitativos finos, fenômenos nunca antes observados ou sequer imaginados; fenômenos que desafiam a razão humana e mesmo a imaginação.

Apesar de os conceitos da ciência humana haverem predominado na literatura, inclusive na criacionista, foi a tradição de pesquisa e metodologia que veio do conceito de Ciência como metodologia matemática que causou, direta e indiretamente, o aumento exponencial do conhecimento humano nos últimos séculos bem como o desenvolvimento sem precedentes da tecnologia, graças a um conhecimento profundo de leis físicas e de como lidar com relações matemáticas mais complexas.

Entre os primeiros e mais importantes resultados do uso da verdadeira Ciência, estão conhecimentos sobre a natureza e universalidade da lei de Deus, em seus aspectos físicos (como a realidade funciona) e morais (como agir para maximizar a saúde, a felicidade, e assim por diante).

A perfeição do caráter divino, que também se manifesta na forma de amor, implica em que tudo o que Ele faz é perfeito, o que significa que as leis físicas são otimizadas em todo o Universo e em qualquer outro universo que por acaso exista. Isso nos dá uma poderosa ferramenta matemática para estudar leis físicas: algo que tem sido chamado de princípio da ação mínima, descoberto no século 18. Esse princípio nos permite obter equações que descrevem as leis físicas de maneira muito mais abrangente do que palavras poderiam fazê-lo.

As leis físicas estabelecem relações de causa e efeito, entre outras coisas. Isso significa que nossas ações (incluindo pensamentos) têm consequências. Muitas dessas consequências induzem sofrimento, injustiça e morte. Outras consequências melhoram a qualidade de vida, a felicidade, o convívio e assim por diante. As regras que nos ajudam a tomar as decisões que levam às melhores consequências chamam-se leis morais.

O sofrimento, a injustiça e a morte entraram neste mundo pela desobediência a leis morais, mas Deus tem um plano para restaurar a Terra e garantir a vida eterna a todos os que aceitarem Seu plano. O preço da salvação foi integralmente pago na cruz. Nada do que fizermos pode acrescentar um centavo a esse pagamento. Porém, nossa adesão a esse plano inclui aceitar ser transformados para conseguir viver em harmonia com as leis morais a fim de que, no futuro, não tornemos a trazer o mal de volta à existência. É por isso que a norma do juízo divino é a lei moral e nossa aceitação do plano que nos coloca novamente em harmonia com essa lei.

A Bíblia traz informação suficiente para entendermos o essencial e aceitarmos o plano da salvação. Mesmo assim, referências que ela faz a assuntos que transcendem ao cotidiano humano tendem a ser mal-entendidas por causa de limitações da intuição. Porém, foi a Bíblia que forneceu as informações que levaram à descoberta da Ciência como metodologia matemática, que é a única ferramenta que nos permite ir além do nível trivial no estudo das leis de Deus.

Conhecimentos científicos nessa área são importantes para entendermos temas ligados ao plano da salvação e à hora do juízo na qual vivemos. Isso também faz parte da missão criacionista.

A missão criacionista consiste no uso dos métodos matemáticos da verdadeira Ciência para o estudo mais profundo tanto da revelação escrita quanto da revelação natural a fim de que se possa apresentar com propriedade a Deus como Criador de todas as coisas e como justo Juiz cujo tribunal está em sessão neste momento.

Ao tomar nossa parte nessa missão, nos deparamos com “estranhas formas de erros religiosos e filosóficos combinados cuja exposição requer conhecimento de verdades científicas como também bíblicas” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 514).

(Eduardo Lütz é bacharel em Física e mestre em Astrofísica Nuclear pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul)