segunda-feira, setembro 10, 2018

De que tipo é o nosso criacionismo?

De que tipo é o nosso criacionismo? Essa é uma pergunta importante que devemos fazer para nós mesmos antes de nos engajarmos na missão criacionista. Isso porque, como uma criacionista que acredita na Bíblia, entendo o criacionismo mais como uma missão do que como uma luta, no sentido de quem vence e de quem perde. Acredito que essa é uma causa que precisa de aliados, mas também entendo que os métodos são importantes e nem todos que dizem defender o criacionismo decidem seguir os métodos de Cristo, dificultando a possibilidade de se fazer um trabalho conjunto. Nem todos, por exemplo, se alinham com os ideais e os princípios da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), que há mais de 40 anos atua no Brasil divulgando o criacionismo.

Com muita experiência, sabedoria, tato e perseverança, a SCB tem divulgado o criacionismo como uma missão cujo objetivo é alcançar pessoas com a mensagem criacionista. Esse objetivo se cumpre em apresentar e divulgar evidências a partir de estudos e pesquisas para que as pessoas possam tomar decisões de forma inteligente e racional. Para isso, é claro, contam com o auxílio da influência do Espírito de Deus.

Que tipo de influência é essa mencionada acima? Seria como a de muitos que, literalmente, militam na causa criacionista e estão buscando uma conquista mais em termos de uma revolução do que em termos de orientação e mudanças na vida de pessoas? Seria a de uma busca por número de pessoas criando massa crítica, que desejem forçar o caminho, derrubar posições e conquistar lugar por meio de um tipo de poder “político”? De pessoas engajadas em uma luta ou competição, cujo prêmio é um lugar de honra neste mundo e a “prova” de que o “nosso time” é que estava certo?

Não é o nosso orgulho que está em jogo, mas a vida de pessoas. Nesse sentido, não nos cabe julgar quem está fora do alcance da mensagem criacionista e, portanto, deve ser combatido. Aliás, não me parece que seja obra do criacionista combater pessoas ou destruir ideias. Dessa forma, meu pensamento se alinha com o da SCB, que tem a Bíblia como norma fundamental e se preocupa em divulgar conhecimentos, deixando os resultados com Deus.

Pode ser que alguns achem necessária uma postura mais agressiva. Contudo, fariam bem em lembrar de que quando Cristo veio à Terra pela primeira vez muitos esperavam que Ele fosse um conquistador político. Esperavam que Ele depusesse o poder romano e assumisse um governo terrestre. Essa era uma expectativa dos próprios discípulos de Jesus. Provavelmente seja por isso que, quando eles passaram por uma aldeia de samaritanos que não quiseram receber o Mestre, perguntaram se deviam mandar fogo do céu para consumir aquelas pessoas! Os samaritanos não quiseram receber Jesus justamente porque Ele se dirigia a Jerusalém e havia uma disputa entre eles e os judeus. Jesus Se recusou entrar nessa disputa ou conquistar honra e poder político.

“Ele porém, voltando-Se, repreendeu-os e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.
Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las” (Lucas 9:55, 56).

Há uma tendência que se tem acentuado nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos, e em alguns outros lugares, de evangélicos mais militantes, que acreditam que a falta de apoio político ou de leis que protejam os direitos dos cristãos, sejam problemas que limitam a liberdade de consciência. O filme “God is Not Dead 2”, por exemplo, trata desse tema. Com a boa intenção de proteger os direitos dos cristãos, muitos estão engajados em conquistar espaço na política, enquanto buscam estender a influência do Cristianismo em todos os setores da sociedade (e a Academia é um deles) na forma de uma conquista em termos de números e poder, e não por meio da branda influência do Espírito de Deus. A história demonstra que isso não teve bons resultados no passado, mas acabou lançando o mundo na Idade Escura e nos braços da Inquisição (resultado da união entre Igreja e Estado, ou poder político para o Cristianismo).

Concluindo, antes de levantar qualquer bandeira em favor do criacionismo, faríamos bem em avaliar de que espírito somos. Porque, se o que nos move é o desejo de conquista e não o de nos deixar usar para permitir que outros possam ser orientados e possam tomar decisões inteligentes e voluntárias, então, a despeito de toda a nossa boa vontade, corremos o risco de estar do lado errado nas cenas finais da história da Terra.

Maria da Graça Lütz