sexta-feira, junho 24, 2022

A Cultura Casarabe

Em 25/5/2022, foi relatada pela revista Nature[1] a descoberta feita pelos arqueólogos Iriarte, Prümers, Betancourt e colegas, utilizando o sistema LiDAR (um radar que usa laser infravermelho), dos restos arqueológicos de cidades da Cultura Casarabe, que existiu entre cerca de 500 d.C. até 1.400 d.C., anteriores, portanto, à chegada dos colonizadores europeus nas américas: “Lidar reveals pre-Hispanic low-density urbanism in the Bolivian Amazon” (Lidar revela urbanismo pré-hispânico de baixa densidade na Amazônia Boliviana – tradução minha).

Essa cultura, que construiu cidades no meio da floresta amazônica antes dos europeus chegarem por aqui, e se localizava nos Llanos de Mojos, Bolívia, no sudoeste da Amazônia, em dois locais muito grandes, um com 147 ha (chamado de Cotoca) e outro com 315 ha (chamado de Landívar). A área total da cultura Casarabe atinge cerca de 3.400 km2, com o maior dos assentamentos com aproximadamente 500 km2.

Segundo os autores do estudo, arqueólogos e o professor José Iriarte, da Universidade de Exeter, e seus colegas, “a arquitetura cívico-cerimonial desses grandes locais de assentamento inclui plataformas escalonadas, além das quais estão estruturas em forma de U, montes de plataforma retangulares e pirâmides cônicas (que têm até 22 metros de altura). Os grandes locais de assentamento são cercados por bancos poligonais concêntricos ranqueados e representam nós centrais que estão conectados a locais de baixo escalão por estradas retas e elevadas que se estendem por vários quilômetros. A enorme infraestrutura de gestão da água, composta por canais e reservatórios, completa o sistema de assentamento em uma paisagem antropogenicamente modificada. Nossos resultados indicam que o padrão de assentamento da Cultura Casarabe representa um tipo de urbanismo tropical de baixa densidade que não foi descrito anteriormente na Amazônia.[2] (Tradução minha)

A agricultura era intensiva associada à aguacultura, com diversidade na organização sociopolítica, sistemas de controle de água, que abrangiam cerca de 120 mil km2, área aproximadamente equivalente à da Inglaterra.

A “domesticação” da Amazônia por essa cultura atingiu áreas enormes, em que o sensoriamento remoto moderno mostrou a presença de 189 grandes sítios monumentais, conhecidos como lomas, 273 locais menores e 957 km de canais e calçadas, em que a arqueologia mostrou que eram habitados o ano todo. Eram habitados por agricultores que plantavam milho, mandioca, arroz,[5] caçavam e pescavam.

Os achados incluem terraços de cinco metros de altura cobrindo 22 hectares – o equivalente a 30 campos de futebol – e pirâmides cônicas de 22 metros de altura. Os pesquisadores descrevem também uma infraestrutura maciça de gestão de água, composta por canais e reservatórios.[2]

A tecnologia do LiDAR permitiu aos cientistas Iriarte, Prümers, Betancourt e colegas mapear 24 sítios arqueológicos do povo Casarabe, inclusive o Cotoca e o Landívar, que são do tamanho de cidades.[3]

O professor Iriarte destaca: “Nosso sistema lidar revelou terraços construídos, calçadas retas, recintos com postos de controle e reservatórios de água. Existem estruturas monumentais [cada uma] a apenas uma milha de distância, conectadas por 600 milhas de canais – longas calçadas elevadas conectando locais, reservatórios e lagos.[5]

A figura 1 e a Figura 2, a seguir, mostram os grandes “assentamentos” Cotoca e Landívar:[1]

Figura 1: O sítio Cotoca. a, Ocupação da área de Cotoca lidar. b, Sítios e principais características arqueológicas reveladas pelo lidar na área de Cotoca. c, Imagem lidar do grande local de assentamento Cotoca com seções transversais A-B e C-D. m.a.s.l., em metros acima do nível do mar. (Tradução minha.) Figura 2 (à direita): a, Localização do transecto lidar para a área de Landívar. b, plano geral do site em que a seção mostrada em c está marcada. c, Imagem lidar com cortes de perfil. Recursos numerados: 1-5 montes de plataforma; 6-11, calçadas; 12, estrutura de função desconhecida. d, Profile corta A-B e C-D. (Tradução minha.)



A imprensa nacional repercutiu a descoberta nos meios eletrônicos, aqui[2], aqui[3], aqui[4], aqui [5] e aqui[6].

Essas grandes cidades antigas abandonadas não foram as únicas descobertas no meio das florestas pelo mundo. Outras cidades arqueologicamente comprovadas de urbanismo agrário de baixa densidade, como se referem os autores do estudo, foram relatadas sob as florestas tropicais do Sudeste Asiático, Sri Lanka e América Central.[1]

Relatei em meu livro sobre o Dilúvio,[7] a descoberta feita em 2018 na Guatemala, pelos arqueólogos, da cidade Maia de Péten, com cerca de 60 mil edifícios, entre tumbas, palácios e pirâmides (uma com 30 metros de altura), no Departamento de Petén, sob a selva amazônica, invisível de cima, pois está coberta pela floresta. Foi utilizada a mesma tecnologia a laser, chamada de LiDar, para fazer sensoriamento 3D do que existia abaixo da floresta e do relevo do solo.

A Figura 3 a seguir mostra parte dessa grande descoberta, ainda inexplorada pelas dificuldades de acesso e pela enorme cobertura da floresta sobre o local.

Figura 3: Cidade Maia de Péten, escondida sob a floresta amazônica no Departamento de Péten, na Guatemala.


Créditos: FUNDACIÓN PATRIMONIO CULTURAL Y NATURAL MAYA. EFE. El Pais. (2018)

Essa descoberta fez com que os historiadores e arqueólogos recalculassem a população Maia, que deveria chegar a pelo menos 10 milhões de pessoas, muito mais do que as estimativas anteriores.[8] Estima-se que a cidade de Péten foi fundada em torno de 1000 a.C. e desapareceu[9] em torno de 900 d.C.

Outro artigo, mais antigo, de 2008, relata a descoberta,[10] na região do Alto Xingu da Amazônia brasileira, no estado do Mato Grosso, de 28 áreas residenciais pré-históricas, que poderiam se estender por áreas de cerca de 17.500 km2 a até 50.000 km2.

Prümers, Betancourt e colegas destacaram em seu artigo[1] que assentamentos com mais de 100 ha excedem a maioria dos outros assentamentos da mesma cultura, e que são um fenômeno muito recente na história e são observados no mundo todo.

O esforço humano para fazer essas construções, terraços artificiais e edifícios de plataformas foi enorme, sendo a terra retirada de áreas próximas ao centro do assentamento. Em Cotoca a terra removida (uma faixa de 50 a 80 metros de largura) se transformou em lagos que se enchem nas chuvas.[1]

Para a área de Landívar foram movidos e assentados aproximadamente 276.000 m3, ao passo que em Cotoca foram 570.690 m3. Eles destacam que para Cotoca a terra movida é dez vezes a quantidade para a construção do Akapana (53.546 m3), a maior estrutura de Tiwanaku, nas terras altas bolivianas, que existia simultaneamente à cultura Casarabe.[1]

Cotoca tinha papel central dado o “impressionante sistema de canais e calçadas que irradiam da plataforma base em todas as direções cardeais, conectando-se com locais de nível inferior, o rio Ibare ao sul, e lagos a leste. Um canal de 7 km trouxe água da Laguna San José para Cotoca, indicando a escala de gestão paisagística e mobilização do trabalho”.[1] (Tradução minha.)

Cosmovisão criacionista bíblica

Não posso deixar de apresentar, como criacionista bíblico, a cosmovisão que temos sobre o desenvolvimento da história humana no planeta, que difere profundamente da visão tradicional ensinada nos bancos escolares de todos os níveis de nossa educação formal, em que a teoria da evolução é a base da História, e sua inferência é de que evoluímos de seres brutos e ignorantes que moravam em cavernas, caçavam e colhiam o que podiam comer.

Dessa cosmovisão surgiram teorias de que os humanos tiveram ajuda tecnológica extraterrestre para fazer tais construções, pois não se concebe que os humanos tenham sido plenamente capazes de construí-las, e faziam isso porque podiam.

A Bíblia relata que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, inteligente, com linguagem para comunicação e apto a desenvolver tecnologias que o humano moderno poderia desenvolver.

O evento do Dilúvio relatado nela, que trato em meu livro,[7] coloca a origem da humanidade atual como descendente dos três filhos de Noé e suas esposas, e temos evidência genética desse fato, com a análise mitocondrial[16] (não temos informações se Noé teve outros filhos ou filhas após o Dilúvio), e seus descendentes relatariam não só tal evento como, eventualmente, a própria história da origem da humanidade de acordo com a Bíblia, com a perda de informação nas histórias relatadas ao longo dos séculos e milênios posteriores.

Isso é observado nos mais de 270 relatos de dilúvio em povos antigos sem contato com os hebreus ou cristãos modernos e a Bíblia.

Sir James George Frazer (1854-1941), influente antropólogo nos primeiros estágios dos estudos modernos de mitologia e religião comparada, reuniu em três volumes, Folk-Lore in the Old Testament ("O folclore no Antigo Testamento", 1918), totalizando 1808 páginas, tais relatos do Dilúvio, entre outros, do mundo todo, comprovando o hiperdifusionismo cultural, o que, além da própria história do dilúvio, também encontrou histórias da criação, muitas similares ao conteúdo do Gênesis bíblico. Obviamente, tal hiperdifusionismo cultural não é aceito pela Academia, que utiliza a narrativa da teoria da evolução humana como pressuposto de seus estudos e pesquisas.

Você pode acessar os volumes do trabalho de Sir James George Frazer (1854-1941) aqui[13], aqui[14] e aqui[15].

O hiperdifusionismo humano e cultural é uma comprovação do texto bíblico, que diz: “Essas são as famílias dos filhos de Noé, segundo as suas gerações, em suas nações; e delas foram disseminadas as nações da Terra depois do Dilúvio” (Gênesis 10:32).

O evento da Torre de Babel, que relata a confusão das línguas, também fez com que a humanidade de então migrasse por todo o planeta, levando o conhecimento de construção de cidades e suas respectivas tecnologias para os novos locais onde se assentariam. É o que se observa pelo mundo todo, conforme relatei em meu livro[7] em diversos exemplos.

Artigos interessantes sobre a migração para as américas podem ser lidos aqui[11] e aqui[12].

Os povos originados de Babel levaram o conhecimento e a tecnologia de construção, megaconstruções de cidades, que envolviam liderança vigorosa, administração e mobilização de recursos materiais e humanos, planejamento minucioso, para geração de alimentos (agricultura intensiva), transporte, utilizando os recursos naturais disponíveis localmente, e tirando deles o máximo proveito.

Destaco que os povos antigos não construíam vilas ou aldeias onde pretendiam morar definitivamente, mas construíam cidades e isso já acontecia antes do Dilúvio (Gênesis 4:17).

É o que vemos nas descobertas arqueológicas.

Tire suas próprias conclusões.

(Celio João Pires é pesquisador e autor de livros criacionistas)

Referências:

[1]Prümers, H., Betancourt, C.J., Iriarte, J. et al. Lidar reveals pre-Hispanic low-density urbanism in the Bolivian Amazon. Nature (2022). <https://doi.org/10.1038/s41586-022-04780-4>. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41586-022-04780-4#Bib1>. Acesso em: 25.05.2022.

[2] Oliveira, Ingrid. Civilização pré-colonial na Amazônia boliviana construiu “cidades” na floresta, revela estudo.  CNN. São Paulo, SP. 26.05.2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/civilizacao-pre-colonial-na-amazonia-boliviana-construiu-cidades-na-floresta-revela-estudo/>.

Acesso em: 27.05.2022.

[3] Lopes, José Reinaldo. Estudo confirma que Amazônia tinha pirâmides de terra batida. Folha de São Paulo. São Carlos, SP. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/05/estudo-confirma-que-amazonia-tinha-piramides-de-terra-batida.shtml>. Acesso em: 25.05.2022.

[4] Lopes, José Reinaldo. Estudo confirma que Amazônia tinha pirâmides de terra batida. Folha de São Paulo. São Carlos, SP. Disponível em: <https://www.msn.com/pt-br/noticias/newsscienceandtechnology/estudo-confirma-que-amazônia-tinha-pirâmides-de-terra-batida/ar-AAXIRFx?li=AAggNbi>. Acesso em: 25.05.2022

[5] Da Redação. Isto é Dinheiro. Varredura a laser da Amazônia revela rede oculta de pirâmides. 27.05.22. Disponível em:

<https://www.msn.com/pt-br/noticias/ciencia-e-tecnologia/varredura-a-laser-da-amaz%c3%b4nia-revela-rede-oculta-de-pir%c3%a2mides/ar-AAXM9oA>. Acesso em: 27.05.2022.

[6] G1. Pesquisa descobre 'cidades' da era pré-colonial na Amazônia com pirâmides de até 22 metros de altura. 26.05.2022. Disponível em:

<https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/05/26/pesquisa-descobre-cidades-da-era-pre-colonial-na-amazonia-com-piramides-de-ate-22-metros-de-altura.ghtml>. Acesso em 27.05.2022.

[7] Pires, Celio João. O Dilúvio: Impactos de asteroides, as extinções em massa, as glaciações, a formação do Atlântico e a Arca de Noé. 1ª ed. Curitiba, PR. Ed. Do autor, 2019. Pg. 605. Disponível em: <https://www.deusexisteumdesafio.com/capitulo/o-diluvio-impactos-de-asteroides-extincoes-em-massa-as-glaciacoes-a-formacao-do-atlantico-e-a-arca-de-noe>. Acesso em: 03.06.2018.

[8] LA CIUDAD MAYA DESCUBIERTA EN GUATEMALA, EN IMÁGENES. El País. 13.02.2018. Disponível em: < https://elpais.com/elpais/2018/02/12/album/151842

9337_635840.html#foto_gal_1>. Acesso em: 03.03.2018.

[9] DESCUBRIERON UNA GIGANTESCA CIUDAD MAYA EN LA SELVA DE GUATEMALA. Diário de Cultura. 06.02.2018. Ed. 3032. Disponível em: <www.diariodecultura.com.ar/museos-y-artes-plasticas/descubrieron-una-gigantesca-ciudad-maya-en-la-selva-de-guatemala/>. Acesso em: 04.03.2018.

[10] Heckenberger, Michael J., et al. “Pre-Columbian Urbanism, Anthropogenic Landscapes, and the Future of the Amazon.” Science, vol. 321, p. 1214. no. 5893, 29.08.2008, pp. 1214–17. JSTOR, <http://www.jstor.org/stable/20144705>. DOI: 10.1126/science.1159769. Acesso em: 03.06.2022.

[11] Alves, Everton. A Atlântida e a migração para as Américas após o período do gelo. Criacionismo. 21.02.2018. Disponível em:

 <http://www.criacionismo.com.br/2018/02/a-atlantida-e-migracao-para-as-americas.html>.Acesso em: 03.06.2022.

[12] Alves, Everton. A grande aventura americana: rotas migratórias. Criacionismo. 08.04.2018. <http://www.criacionismo.com.br/2018/04/a-grande-aventura-americana-rotas-de.html>. Acesso em: 03.06.2022.

[13] Sir James George Frazer (1854-1941); Frye, Northrop. Folk-Lore in the Old Testament: studies in comparative religion, legend and law, vol.1. 1919. London: Macmillan. 608 páginas. Disponível em: <https://archive.org/details/folkloreintheol01frazuoft/page/n8/mode/2up>. Acesso em: 04.06.2022.

[14] Sir James George Frazer (1854-1941); Frye, Northrop. Folk-Lore in the Old Testament: studies in comparative religion, legend and law, vol.1. 1919. London: Macmillan. 604 páginas. Disponível em: <https://archive.org/details/folkloreinoldtes02frazuoft/page/n6/mode/2up>. Acesso em: 04.06.2022.

[15] Sir James George Frazer (1854-1941); Frye, Northrop. Folk-Lore in the Old Testament: studies in comparative religion, legend and law, vol.1. 1919. London: Macmillan. 596 páginas. Disponível em: <https://archive.org/details/folkloreinoldtes03frazuoft/page/n6/mode/2up>. Acesso em: 04.06.2022.

[16] JEANSON, Nathaniel T. On the Origin of Human Mitochondrial DNA Differences, New Generation Time Data Both Suggest a Unified Young-Earth Creation Model and Challenge the Evolutionary Out-of-Africa Model. Answers in Genesis. 27.04.2016. Disponível em: <https://

answersingenesis.org/genetics/mitochondrial-dna/origin-human-mitochondrial-dna-differences-

new-generation-time-data-both-suggest-unified-young-earth/>. Acesso em: 24.03.2018.