Na revista Veja do dia 7 de abril, foi publicada uma resenha do novo livro do físico Marcelo Gleiser. Trata-se do livro Criação Imperfeita, que dias após seu lançamento já ocupava o sexto lugar na lista de livros mais vendidos de Veja. Segundo a revista, Gleiser “decifra o significado de algumas das mais importantes conquistas da ciência e conduz o não iniciado pelos acertos e desacertos de dois milênios de tentativas de ‘desvendar a mente de Deus’. Desacertos, sim: para Gleiser, aquilo que conhecemos por meio da ciência pode parecer sólido e definitivo – mas está sempre prestes a se desmanchar no ar. [...] Para ele, tudo o que conhecemos se restringe a uma minúscula fração do que de fato existe. Ainda que disponha de instrumentos poderosos de investigação e medição, a física contemporânea é fruto da mente humana e, portanto, limitada à nossa capacidade de ver e interpretar a realidade. Pode-se afirmar que, se a beleza está nos olhos de quem a vê, a ciência está na mente de quem a faz.”
De acordo com a resenha, uma das bandeiras mais polêmicas de Criação Imperfeita é: Por que buscar uma Teoria de Tudo? Que “tudo” é esse, pergunta o físico, e por que procurar unidade num universo que já se sabe guardar tanta diversidade? “Gleiser se sente à vontade para desafiar todo tipo de dogmatismo – da concepção de um universo elegante defendida por Brian Greene aos ataques intransigentes do biólogo Richard Dawkins à religião. Não se trata, argumenta ele, de descartar a importância dos avanços científicos alcançados por essa ilusão de beleza simétrica na natureza. Trata-se tão somente de admitir que a verdade não necessariamente é bela e simples. E que a boa ciência é avessa ao dogma – a esse ou qualquer outro.”
Nota: Às vezes, Gleiser me parece contraditório (ou camaleônico). Quando li seu primeiro livro A Dança do Universo, considerei-o um autor científico moderado e equilibrado. O livro é interessante (embora outros físicos tenham contestado muitos dos seus dados) e não faz ataques a essa ou aquela crença. Mas, com o tempo (e talvez a fama), Gleiser passou a dar estocadas nos criacionistas, a ponto de considerar “criminoso” quem ensina o modelo. Agora, em seu novo livro, ele abranda novamente o discurso, admitindo que “aquilo que conhecemos por meio da ciência pode parecer sólido e definitivo – mas está sempre prestes a se desmanchar no ar”, e que “a boa ciência é avessa [a qualquer] dogma”. O que dizer, então, do dogma naturalista que impera no meio científico, embora seja puramente filosófico? Se nada em ciência é definitivamente sólido e definitivo, por que não se discutir mais as bases do evolucionismo insistentemente defendido por Gleiser, em lugar de blindar a teoria e evitar as críticas? Vai entender...[MB]
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