Lendo a reportagem sobre o plano de Dawkins e Hitchens de processar o papa Bento XVI, é notório como o ateísmo não consegue lidar com as consequências de suas pressuposições filosóficas. Se “Deus está morto”, qual é o padrão moral que o ser humano deve se espelhar? “O homem é a medida de todas as coisas”, um cético poderá responder. Mas ele terá que responder outra pergunta: Qual homem? (por homem entenda comportamento) Hitler ou Madre Tereza? Stalin ou Gandhi? Pinochet ou Jesus? A ética centralizada no ser humano, como proposta por Kant, não funcionou e pior: trouxe consequências catastróficas para nossa geração.
Veja as palavras do importante filósofo ateu Kai Nielsen, da Calgary University, no Canadá: “Não fomos capazes de mostrar que a razão exige o ponto de vista moral, nem que todas as pessoas realmente racionais não deveriam ser individualistas egoístas ou não morais clássicos. A razão não decide aqui. O que pintei para você não é agradável. A reflexão sobre isso me deprime... A razão prática, pura, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não o levará à moralidade” (“Why should I be moral?”, American Philosophical Quarterly 21 [1984], p. 90; ênfase minha). Um ateu sincero admitindo as limitações do ateísmo!
Não estou dizendo que ser ateu é sinônimo de ser depravado. Conheço diversos ateus com um comportamento exemplar quando o assunto é cidadania e filantropia. Não é esse meu ponto. O que estou dizendo é que se não existe um padrão (para os teístas, Deus) para diferenciar entre o certo e o errado, “todas as coisas são permitidas”, como bem disse Fyodor Dostoievsky. Estupro, assassinato, pedofilia, genocídio e outras atrocidades podem ser explicadas por uma visão relativa da moralidade, mas, em nosso íntimo, todas elas nos incomodam.
Concluo com uma citação de C. S. Lewis: “Num tipo de simplicidade assustadora, removemos o órgão e exigimos a função. Fazemos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Rimos da verdade e ficamos chocados ao encontrarmos traidores em nosso meio. Castramos e esperamos que o castrado seja reprodutor” (The Aboliton of Man, p. 35).
Dawkins e Hitchens estão lutando para Deus ser removido da sociedade, mas ainda querem uma moralidade absoluta! Alguém conseguiria explicar isto, por favor?
(Luiz Gustavo Assis é pastor em Caxias do Sul, RS, e escreve para o site Outra Leitura)