“Distraídos venceremos”, criou, exclamou e escreveu Paulo Leminski certa vez, usando a boutade para título de um de seus trabalhos. “Nós vamos ficar cada vez mais distraídos”, disse o escritor americano Nicolas Carr, ex-editor-executivo da revista Harvard Business Review e professor do célebre Massachusetts Institute of Technology (MIT). Em polêmica entrevista a O Globo, na segunda-feira (6/12, Economia, p. 10), ele, sem meias palavras: “Meu medo é que estamos perdendo nossa capacidade e habilidade para esse tipo de pensamento.” Refere-se a pensamento crítico, memória, lógica, pensamento conceitual e algumas formas de criatividade. Diz que “as coisas que no passado foram consideradas essenciais para uma vida intelectual rica, como contemplação, reflexão e instrospecção” estão sendo abandonadas com o advento de novas tecnologias. E avisa: “O que vemos com a internet é que e as tecnologias digitais em geral é que toda a ênfase está no ritmo rápido de troca de informação e na capacidade de achar toneladas de conteúdo. [...] Os aspectos básicos da tecnologia são esses: links, mecanismos de buscas, alertas, interrupções, multitarefas, multifuncionamento. Esse sistema não nos encoraja nem nos dá oportunidade de fazer coisas que necessitam de atenção mais profunda.”
Ele disse também, em oportunidades anteriores, que as equipes de Tecnologia de Informação (TI) nas empresas são inúteis.
Gilberto Scofield Jr, que o entrevistou, anotou também outras bombas: “Você circula com muita rapidez, obtém informações rapidamente, mas não vai fundo em nada.” E fez uma advertência às redes telefônicas, que não estão dando a devida atenção às necessidades da computação em rede:
“O Google está construindo uma rede de banda larga super rápida nos EUA. Eles querem ter o domínio da infraestrutura e garantir a oferta de serviços, caso as teles usem o poder de conectividade que possuem para interferir no tráfego de dados na internet.”
À afirmação de que “os educadores acham que uma das ferramentas mais preciosas para o aprendizado são os recursos multimídia”, ele contrapõe: “Os estudos não mostram isso. Multimídia requer que a pessoa mude o tempo todo o seu foco. E o fato é que, se você está mudando o tempo todo o seu foco, a sua habilidade de aprender se reduz. O que não significa que multimídia seja sempre ruim, se ela for preparada com fins específicos.”
As reflexões de Nicolas Carr são valiosas, principalmente vindo de quem vêm: um intelectual antenado às novas tecnologias, mas um crítico de suas desordens e de seus excessos, de uma anarquia digital que assombra os usuários capazes de pensar sobre as novidades.
A falta que faz um editor nos conteúdos de jornalismo na rede! Os internautas não são poupados de nada. O luxo e o lixo vêm no mesmo recipiente. Alta qualidade técnica, mas conteúdos doidos e desconexos, misturados com o que não se pode misturar, empobrecem severamente a riqueza digital.
Distraídos são vulneráveis. Concentrados têm a melhor defesa do homem: a sua capacidade de pensar.
(Deonísio da Silva, Observatório da Imprensa)
Nota: Vivemos numa época em que se exige grande poder de reflexão, mas as mídias rápidas e superficiais vão noutra direção. A internet é uma tremenda ferramenta para o bem (e para o mal também, infelizmente), mas se nos roubar a capacidade de analisar todas as coisas a fim de reter o bem (1Ts 5:21), acaba sendo grandemente prejudicial. Use a web com moderação e sabedoria, mas nunca deixe de fazer leituras profundas em bons livros e, principalmente, na Bíblia Sagrada.[MB]
A propósito, o Nobel de literatura Mario Vargas Llosa escreveu ótimo artigo que foi publicado no Estadão de hoje. Ele afirma que "seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria. A exemplo de escrever, ler é protestar contras as insuficiências da vida."