Um estudo realizado na Universidade de Rice (EUA) mostra que apenas 15% dos cientistas das principais universidades daquele país veem a religião e a ciência como estando em conflito permanente. Apenas 15% dos entrevistados veem a religião e a ciência como sempre em conflito. Outros 15% dizem que os dois nunca estão em conflito. Mas 70% acreditam que a religião e a ciência apenas algumas vezes estão em conflito. O estudo mostrou que a maioria dos que acreditam em um conflito permanente tem um tipo particular de religião em mente (e de pessoas e de instituições religiosas). Grande parte dos entrevistados atribui a crença no conflito entre ciência e religião a problemas na esfera pública, sobretudo o ensino do criacionismo versus evolução e as pesquisas com células-tronco.
Ao longo da história, a ciência e a religião têm aparecido como estando em conflito perpétuo. Mas o novo estudo sugere que apenas uma minoria dos cientistas acredita que religião e ciência exigem fronteiras. “Quando se trata de questões como o que é a vida, formas de compreensão da realidade, as origens da Terra e como a vida se desenvolveu sobre ela, muitos veem a ciência e a religião como estando em desacordo e até mesmo em conflitos irreconciliáveis”, conta Elaine Howard Ecklund, coordenadora da pesquisa.
Mas, excluídos os fundamentalismos de ambas as partes, a maioria dos cientistas entrevistados por Ecklund e seus colegas acredita que tanto a religião quanto a ciência são “caminhos válidos de conhecimento” que podem trazer um entendimento mais amplo de questões importantes. Aproximadamente metade dos cientistas expressou alguma forma de identidade religiosa.
“Grande parte do público acredita que, conforme a ciência se torna mais proeminente, a secularização aumenta e a religião decresce”, disse Ecklund. “Descobertas como essa entre cientistas de elite, que muitos acreditam não serem religiosos, põem definitivamente em questão as ideias sobre a relação entre a secularização e a ciência.”
O estudo identificou três estratégias de ação utilizadas por esses cientistas de elite para gerenciar os limites entre a religião e a ciência e as circunstâncias em que os dois poderiam se sobrepor.
- Redefinição de categorias - os cientistas gerenciam o relacionamento ciência-religião alterando a definição de religião, ampliando-a para incluir formas não institucionalizadas de espiritualidade.
- Modelos de integração - os cientistas usam deliberadamente a visão de outros cientistas influentes que eles acreditam que integraram com êxito as suas crenças religiosas e científicas.
- Discussões - os cientistas se engajam ativamente em discussões sobre as fronteiras entre ciência e a religião.
Veja uma lista de outras conclusões do estudo:
68% dos cientistas entrevistados se consideram espirituais em algum grau.
Os cientistas que se veem como espirituais/religiosos são menos propensos a ver a religião e a ciência como sendo irreconciliáveis.
No geral, mesmo os cientistas mais religiosos foram descritos em termos muito positivos pelos seus pares não religiosos, o que sugere que a integração da religião e da ciência não é tão desagradável para todos os cientistas.
Os cientistas como um todo são substancialmente diferentes do público norte-americano na forma como veem o ensino do design inteligente nas escolas públicas.
Quase todos os cientistas - tanto religiosos quanto não religiosos - têm uma impressão negativa da teoria do design inteligente. [Aqui creio que o preconceito ainda fala alto e que questões políticas acabam atrapalhando a discussão franca e educada de ideias.]
(Diário da Saúde)
Nota: Gostei da admissão de que existe fundamentalismo de ambas as partes, porque sempre tenho dito que os ultradarwinistas são tão dogmáticos quanto aqueles que eles acusam de ser fundamentalistas, ou seja, os criacionistas. Se os cientistas tivessem real noção do que advogam os criacionistas bíblicos bem informados (que nada têm contra o método científico, muito pelo contrário), creio que os percentuais de cientistas que creem e não veem incoerência entre ciência e religião seriam ainda maiores. De qualquer forma, 50% e 70% já são números capazes de deixar Richard Dawkins e sua turma loucos de raiva. Pelo jeito, as campanhas neoateístas e a doutrinação de crianças não estão surtindo muito efeito – nem mesmo estre os cientistas, o que dirá entre a população geral.[MB]
Leia também: "Concepção de Deus altera níveis de preocupação e estresse" e "Religiosos são mais equilibrados"