Verdadeiro plano de voo |
Esta
é a tarambola dourada siberiana, ou Pluvialis
fulva. Ela pesa 200g e coloca ovos que demoram 24 dias pra abrir. São aves migratórias, e isso é espetacular! De uma forma realmente singular para essa
espécie. Por quê? Porque essas aves não sabem nadar. Ou seja, se caírem na
água, morrem. Além disso, elas vivem no Alaska. No inverno, elas migram para o Havaí.
É simplesmente um voo de 88 horas, e são 88 horas ininterruptas. Não dá pra
parar porque não tem terra alguma no trajeto: apenas mar, e isso, pra essa ave,
seria a morte. Para se prepararem para esse voo de 88 horas ininterruptas, elas
começam a comer desmedidamente, e ganham cerca de 70g de energia queimável. Durante
o voo, essa ave queima, em média, 1g por hora da energia que consumiu na alimentação,
e aí há um problema. Isso dá 70 horas de combustível para a ave, em um voo de
88 horas. Ela conseguiria sobreviver mais um pouco até o desgaste e a morte.
Sim, elas chegam ao Havaí. Como?
As
tarambolas douradas siberianas voam em formação, e alternam os líderes dessa
formação em tempos cronometrados (a exemplo da maioria das aves migratórias). Quem
está mais atrás consome menos energia por causa do vento que é barrado pelos
que estão na frente. Quanto mais na frente, na formação, mais energia se gasta.
Além
da comida, elas perdem cerca de metade do peso corporal para conseguir chegar ao
Havaí. Imagine você viajar com 100kg e chegar com 50kg!
A
questão é: elas chegam exatamente na
hora em que não conseguiriam mais seguir em frente (88 horas exatas). Se o voo
tivesse 89 horas, morreriam.
Segundo
a teoria da evolução, essa ave teve que ir se adaptando, melhorando a
capacidade de voo até conseguir queimar os 70g de energia, entrar em formação com
líderes cronometrados, e voar 88 horas ininterruptas entre o Alaska e o Havaí. Acontece
que qualquer ave anterior a essa, que teria evoluído para a tarambola dourada siberiana,
não conseguiria evoluir porque morreria no processo. Qualquer animal
supostamente anterior a ela não conseguiria fazer o que ela faz e, portanto,
morreria, não evoluiria.
(Lucas Mombaque e Ebenezer Lobão, biólogo
e mestre em zoologia)