Recentemente
li em uma matéria publicada pelo jornal O
Globo sobre uma fraude no Museu Nacional da Holanda, envolvendo uma amostra
de rocha que, supostamente, seria uma “pedra lunar”. A amostra teria sido
doada, na ocasião, pelo embaixador norte-americano na Holanda, Willian
Middendorf, ao primeiro-ministro holandês Willem Drees. Segundo o jornal, a
doação teria sido feita por ocasião de uma “turnê mundial” dos três astronautas
norte-americanos que integraram a missão Apollo 11. O fato curioso teria sido
descoberto por um especialista em questões espaciais que afirmou achar
“estranho” e até mesmo duvidoso que a Nasa, a agência espacial americana, teria
um desprendimento assim tão grande de abrir mão de uma raríssima amostra de material
lunar somente para agradar ao primeiro-ministro holandês. Mas foram os geólogos
da Universidade de Amsterdã que, mediante análises microscópicas, descobriram
que, na verdade, se tratava de uma amostra de madeira petrificada e nem de
perto teria procedência lunar. O mais curioso é que, segundo o museu, somente o
seguro da tal pedra teria custado 50 mil euros. Hoje, após a descoberta, a
amostra poderia ser vendida no máximo por 50 euros.
Esse
fato me fez lembrar de uma aula muito interessante que tive durante meu
mestrado sobre a formação das grandes províncias magmáticas do mundo. Lembro-me
bem de que minha professora relatou sobre uma então recente discussão que
estava ocorrendo durante os congressos de geofísica e de geologia a respeito de
outra suposta fraude em alguns modelos geológicos que serviram de base para
muitos artigos científicos.
Segundo
alguns geofísicos, muitos pesquisadores que criaram modelos para a formação de
ilhas oceânicas a partir de “hotspot” teriam usado de muita “criatividade” para
a explicação dos processos vulcânicos associados. Alguns chegam até mesmo a
achar que as tomografias mantélicas, feitas muitos anos atrás para sustentar
essas hipóteses, foram manipuladas. Um grande grupo de geólogos simplesmente
desacredita nessas informações, deixando essa discussão longe de ter um fim. Em
virtude disso, alguns cientistas até propõem outros modelos para a formação de
vulcanismo, como o pesquisador Don Anderson, do Instituto de Tecnologia da
Califórnia, nos Estados Unidos. Segundo ele, os tradicionais modelos que
mostram estreitos jatos de magma vindo das profundezas da Terra e disparando
pelo meio de uma montanha em formato de cone, devem ser banidos dos
livros-textos.
“Mas
esse quadro está errado”, garante o professor Anderson. Segundo ele e seu
colega James Natland (Universidade de Miami), esses estreitos canais de magma
que dariam origem aos vulcões não existem nem fazem sentido – não existe, por
exemplo, uma explicação da energia necessária para trazer o material até a
superfície.
“Plumas
vindas do manto nunca tiveram uma boa base física ou lógica”, diz Anderson,
referindo-se ao formato de pena frequentemente usado pelos livros-textos para
ilustrar os jatos de lava que alimentam os vulcões. Segundo o autor, para
tentar detectar as hipotéticas plumas, os geólogos analisam a atividade sísmica
medida por várias estações espalhadas por uma grande área. O tipo de material
que essas ondas atravessam altera suas propriedades, o que pode ser usado para
deduzir o tipo de material atravessado. Mas ninguém detectou os canais
estreitos de lava em pesquisas feitas em áreas repletas de vulcões – no Havaí,
no Parque de Yellowstone e na Islândia.
Agora,
em parte graças a estações sísmicas melhores e mais adensadas, a análise de
sismologia do planeta é boa o suficiente para confirmar que não existem “plumas
mantélicas” estreitas, garantem Anderson e Natland. Em vez disso, os dados
revelam que há grandes pedaços do manto, em movimento ascendente lento, com
mais de mil quilômetros de largura, afirma o pesquisador.
O
fato é que hipóteses podem ser comprovadas ou não. Modelos podem ser refeitos,
abandonados, substituídos... Isso normalmente faz parte das pesquisas
científicas. O grande problema reside na má-fé de alguns “pesquisadores” que
manipulam imagens e/ou dados para comprovar suas teorias e embasar suas
pesquisas. Não será difícil você achar na internet várias outras matérias
abordando as fraudes cometidas por esses supostos
pesquisadores para sustentar suas teorias. O fato é que precisamos ter os olhos
bem abertos! Vejo que, quando falamos de criacionismo, parece que estamos
falando de algo extremamente bizarro e sustentado em cima de mentiras. Mas será
que tudo o que os cientistas lhe mostram como verdade é, de fato, verdade? O
bom senso não serve somente ao estudarmos o planeta segundo a ótica
criacionista; o bom senso serve ao usarmos qualquer lente para estudar a
criação.
(Hérlon Costa é geólogo formado pela UFPA e
mestre em Geologia Exploratória pela UFPR)
Fontes:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1284661-5603,00-PEDRA+LUNAR+DE+MUSEU+HOLANDES+ERA+NA+VERDADE+MADEIRA+PETRIFICADA.html
Mantle
updrafts and mechanisms of oceanic volcanism, Don L. Anderson, James H. Natland,
Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. published online: DOI:
10.1073/pnas.1410229111