Não temos nenhuma dúvida de que plantas são seres vivos porque participam de todo o ciclo da vida: nascem, desenvolvem-se, reproduzem-se, envelhecem e morrem. Outras características dos seres vivos incluem a presença de células, a capacidade de reagir a estímulos, como luz e temperatura, e a capacidade de evolução (no sentido correto da palavra). Mas, do ponto de vista bíblico, qual função as plantas desempenhavam na criação? Esta é a terceira e última parte desta série sobre as plantas. Então recomendo a leitura anterior dos textos sobre a criação das plantas e a problemática de elas estarem prontas antes de a luz solar chegar livremente ao nosso planeta.
Quando definimos o que é vida, entramos em uma discussão de larga escala. A princípio, biologicamente falando, ser vivo é qualquer coisa capaz de se reproduzir, evoluir e manter um metabolismo.[1] E aqui não temos dúvidas de que ácaros, bactérias, fungos de queijo gorgonzola, protozoários e algas são seres vivos. O "super ser vivo" tardígrado, que é capaz de sobreviver de -270 ºC até 150 ºC, é um dos mais notáveis nessa imensa lista.
Tardígrado, o super ser vivo |
Segundo Mayr, tentativas para definir a “vida” são feitas com frequência. Tais
esforços são simplesmente fúteis, pois hoje está perfeitamente
claro que não há uma substância especial, um objeto ou uma força
que possam ser identificados com a vida. Contudo, os processos
da vida podem ser definidos. Não há dúvida de que os organismos
vivos possuem certos atributos que não se encontram - ou
não se encontram da mesma forma - nos objetos inanimados.[2]
Porém, falando em um sentido bíblico, a definição das Escrituras soa um pouco diferente. Os animais e o ser humano são considerados "almas viventes". As plantas são consideradas “alimento". Para a Bíblia, a planta não morre quando é ingerida. Apenas cumpre seu papel na criação, que é o de alimentar o ser humano e os animais.
Veja o que diz Eclesiastes 3:19, 20: "Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó."
O texto de Eclesiastes não inclui as plantas como “seres viventes”. Isso não é um erro científico, pois a intenção do autor não era tratar esses conceitos cientificamente dentro dos padrões de definições que usamos atualmente. A intenção dele é mostrar a função criativa de cada coisa.
O autor de Gênesis também faz isso. Ele escreve que tudo o que voa são aves e tudo o que está nos mares é peixe. Sabemos que o morcego, o pterossauro, os golfinhos e as baleias não entram nessa classificação. Porém, o autor não queria fazer uma divisão taxonômica moderna dos seres vivos. Não devemos entender essas passagens com uso de anacronismos, mas, sim, olhar pela ótica do escritor. Qual era a intenção de quem escrevia?
Em Gênesis a função dos animais é se reproduzir, do homem é se reproduzir e dominar, e das plantas alimentar o homem e o animal. Isso fica claro em Gênesis 9:3, quando Deus diz que a partir da saída da arca, além da erva verde que Deus havia dado anteriormente, os homens poderiam ingerir a carne de certos tipos de animais também.
Essa definição das plantas vai muito além de mera curiosidade. E aqui eu chego ao ponto especulativo do texto. Havia morte antes do pecado de Adão e Eva? Se eles comiam alimentos de origem vegetal, ingeriam alimento. E esse processamento de alimentos gera morte celular? Havia função do sistema excretor?
Biologicamente falando, morte é o cessamento das atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um sistema outrora classificado como vivo.
Quando comemos uma fruta, “matamos células” dessa fruta. O material ingerido deve ser devolvido à terra para reciclagem - ciclo biológico. Cada átomo que ingerimos ou é excretado ou é mantido no organismo. Nenhum átomo é desintegrado. Os átomos circulam entre o organismo e o ambiente.[3]
A conclusão desse problema é bem simples. Do ponto de vista biológico, as plantas são seres vivos e a ingestão delas causa "morte" do alimento ingerido. Do ponto de vista das Escrituras, a função das plantas é alimentar os seres vivos (homem e animais), e por isso a ingestão delas não causaria morte no sentido estritamente bíblico. Quando uma planta era ingerida, não era sinal de morte antes do pecado, mas sim de algo natural criado para aquela função.
Alex Kretzschmar
Alex Kretzschmar
Referências:
[1] Margulis, Lynn, Dorian Sagan. 2002. O Que É Vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
[2] MAYR, Ernst. O desenvolvimento do pensamento biológico: diversidade,
evolução e herança. Tradução de Ivo Martinazzo. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1998.
[3] Rubim, M. A. L. 1995 Ciclo de vida, biomassa,
e composição química de duas espécies de
arroz silvestre da Amazônia Central.
Dissertação de mestrado, Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia/
Fundação Universidade do Amazonas.
Manaus, Amazonas. 126 p.