Cientista é impedido de discutir as origens do Universo e da vida
Marcos N. Eberlin é, desde 1982, professor doutor titular da Universidade Estadual de Campinas onde coordena o Laboratório ThoMSon, um dos grandes centros de referência mundial na técnica de espectrometria de massas. Realizou pós-doutorado na Universidade Americana de Purdue, Estados Unidos, e tem orientado diversos mestres, doutores e pós-doutores. Eberlin é hoje um dos cientistas brasileiros de maior destaque; é membro da Academia Brasileira de Ciências, comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, vice-presidente da Sociedade Internacional e também da Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas; e ganhador de vários prêmios, entre eles, o mais recente: o prêmio Scopus-Capes 2008. Eberlin é ainda autor de mais de 320 artigos científicos com mais de três mil citações. Sua destacada atuação levou ao convite para proferir palestra na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Unicamp, sobre assunto relacionado às suas pesquisas. Tudo estava acertado. Título e resumo devidamente fornecidos à organização do evento, e sua conferência programada e anunciada na web para terça-feira, 15 de julho, com o título “A Vida e o Universo: Um Grande Acidente ou Design Inteligente?” Mas tudo mudou no dia 2 de julho, quando o cientista foi informado, laconicamente via email (ao qual tive acesso), que “por decisão do Coordenador Geral da 60ª SBPC, estamos cancelando sua conferência”.
Ao questionar os motivos do súbito e unilateral cancelamento, o Dr. Eberlin esclarecereu que ele “falaria como um cientista preocupado em entender o Universo e a vida sem qualquer preconceito, sem restrições, sem idéias pré-concebidas de como o Universo e a vida devem a priori ser”. Disse ainda que “a palestra será desapaixonada, e focará na importância de conhecermos todas as teorias que procuram racionalizar o Universo e a vida, e não só o paradigma predominante. Isso é ciência, é progresso, é o que se espera de uma sociedade que quer promover o progresso da ciência. Que ela examine, discuta, ouça e retenha o que é bom, o que se mostra racional, inteligente”.
Eberlin comentou ainda que tinha ficado feliz em verificar que a SPBC brasileira (ao contrário de outras) não tinha fugido ao debate abrindo suas portas para a discussão acadêmica de uma teoria que ganha destaque a cada dia. “Como cientistas devemos então examiná-la e, se dela discordamos, confrontá-la com contra-argumentos científicos. Essa é a graça da ciência”, concluiu o professor e acadêmico, acrescentando que sua palestra “teria o mérito de expor os argumentos científicos de uma teoria cientificamente defensável, de colocar os ouvintes em contato com as teses do Design Inteligente e as teses naturalistas. Eu os convidaria a refletir cientificamente sobre o tema. É assim que a ciência progride: discutindo suas teses, confrontando seus críticos.”
Mesmo com toda a argumentação científica e racional apresentada por Eberlin, a SBPC manteve o cancelamento, mostrando assim, infelizmente, que também na SBPC no intelligence is allowed! A coordenação, quando questionada, se justificou dizendo que “a SBPC, como sociedade científica, respeita profundamente a diversidade cultural e religiosa”, mas que “assuntos que envolvam matérias de fé são valorizados mas não tratados em nossas reuniões. A questão do ID é, no nosso entender e da atual Diretoria, matéria de cunho pessoal. Várias sociedades científicas americanas também se manifestaram no sentido do ID não ser tratado na academia. Portanto, não encaramos esse cancelamento como confronto mas apenas alinhamento operacional.”
Eberlin lamentou esse “alinhamento operacional” e com a confirmação do cancelamento de sua palestra ele assim se manisfestou: “Não sei se viveremos para ver, mas a história vai se repetir”, previu o cientista. “Na queda de um paradigma, os que detêm o poder na Academia fazem de tudo para que a fragilidade de seus argumentos não seja de forma alguma confrontada ou divulgada. Agem até com deselegância, não há pudor. Pois quando uma teoria é solida, bem fundamentada na razão e nas evidências, não há por que temer o contraditório. Mas aos poucos as evidências começam a falar mais alto que as nossas paixões; mais alto que as nossas opiniões; mais alto que a nossa crença ou religião – sobrenatural ou naturalista –, e a ciência avança, progride. O medo do novo é inerente à natureza humana, mas precisa ser vencido! E será! A história irá contar os fatos – de como sociedades cientificas se recusaram a se render à absoluta objetividade cientifica do DI. Quem viver verá!”
Eberlin lembrou também algumas teorias científicas predominantes mas equivocadas que caíram e tornaram-se página virada na história da ciência: o flogístico, o éter luminífero, os quatro elementos, a geração espontânea. Mas “não com pouca resistência, não com pouca luta, não com poucos cancelamentos de palestras acompanhadas de justificativa alguma. E foi nessas quedas que a ciência reconheceu suas fragilidades e mais avançou”, disse.
O químico, submetido à Inquisição sem fogueiras da SBPC, silenciado mas não abatido, conclui explicando que “o DI não é religião, não trata de fé, trata de razão, de raciocínio lógico. Trata de evidências inquestionáveis que toda uma geração de jovens que não se deixa mais enganar, e com acesso à internet, começa a descobrir, apesar de alguns detentores do poder acadêmico procurarem esconder. As teses do DI podem ter implicações filosóficas, mas não dependem delas.” E concluiu: “DI é ciência em sua essência.”
Pena que os “guardiões da ciência” assim não entendam, ou por entender assim temam... Pena que a ciencia não seja, como deveria, o fórum da livre discussão de teses, sem preconceitos, sem compromissos predefinidos. Pena que não procure, como deveria, o pleno conhecimento sobre o Universo e a vida. Que a ciência, na visão de muitos de seus líderes, seja declarada e protegida como território exclusivo de religião naturalista, onde não se admite questionamento da fé absoluta - e muitas vezes irracional - do poder absoluto das leis naturais. Mas, felizmente, embora se tente sufocá-las, vozes têm se levantado, cada vez mais fortes, com autoridade, e com mais e mais freqüência, para mudar esse estado de coisas, para reestabelecer a correta interpretação dos fatos científicos sobre a vida e o Universo.