domingo, julho 27, 2008

O que perdi e o que ganhei


Certa vez, disse a um de meus alunos (daquele tipo meio rebelde) que eu gostaria muito de ter tido a oportunidade que ele tinha: de poder estudar num colégio adventista. Nasci em lar católico e fui alfabetizado numa escola estadual [mais detalhes aqui]. Depois estudei em duas escolas técnicas. Na segunda, onde me formei como técnico em química, conheci a mensagem adventista por intermédio de um colega de classe consciente de seu papel como missionário. Fui batizado aos 19 anos e sempre lamentei o fato de não ter conhecido a Igreja Adventista antes e de não ter podido desenvolver meu caráter e aprender as primeiras lições da vida numa escola da Igreja. Daí meu sentimento de indignação com aquele aluno que parecia não dar valor ao tesouro que tinha ao alcance da mente e do coração.

Alguns meses depois do meu batismo, em 1991, mudei-me para Florianópolis, a fim de iniciar a faculdade de Jornalismo na UFSC. Cheguei a pensar em trancar a matrícula, depois de dois anos de estudos, a fim de cursar Teologia no Unasp (na época, ainda IAE – campus central). Aconselhado por amigos, terminei o curso de Jornalismo, com a intenção de, em seguida, iniciar o teológico. Mas a falta de recursos financeiros me impediu de realizar o sonho (só que eu não sabia que Deus tinha outros planos para mim e compensaria toda a frustração).

Procurando ser fiel aos mandamentos divinos, recusei boas ofertas de emprego na área de comunicação e acabei por aceitar um convite para lecionar História no Colégio Adventista de Florianópolis. E foi justamente ali que tentei fazer aquele aluno ver o quão privilegiado ele era por estudar numa escola adventista (o que depois ele acabou compreendendo, graças a Deus).

Foi ensinando que aprendi que “a verdadeira educação significa mais do que avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro” (Ellen G. White, Educação, p. 13). Isso é que é educação. E que tremenda responsabilidade participar nesse processo ensino-aprendizagem.

Pude acompanhar de longe e ter como parâmetro professores cuja vida vale mais que muitos compêndios. Homens do quilate de um Orlando Ritter, um Pedro Apolinário – que vontade de ter estudado com mestres como eles... Mas Deus ainda me reservava uma tremenda compensação.

Depois de lecionar por dois anos e meio, recebi um chamado para trabalhar na Casa Publicadora Brasileira, inicialmente na Editoria de Livros Didáticos. Aos poucos, o sonho de Deus para mim se mostrava mais e mais claro. Mas tinha mais.

Em julho de 2006 tive o privilégio de iniciar o mestrado em Teologia, no Unasp. Finalmente, depois de muitos anos, pude experimentar o ambiente de um internato adventista e ver realizado um desejo havia muito acalentado. No primeiro dia de aula, olhei para os lados e vi dezenas de pastores desejosos de adquirir mais conhecimentos e experiência para levar avante o ministério. Meus olhos se encheram de lágrimas e agradeci a Deus em silêncio o privilégio que Ele estava me dando.

Meu bondoso Senhor compensou tudo aquilo que não pude experimentar anteriormente e me fez lembrar das palavras do apóstolo Paulo: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13, 14).

A educação adventista, que nasceu no coração de Deus, deve continuar fazendo exatamente isso: levar homens e mulheres a olharem para a frente, para o alvo máximo do ser humano – a vida eterna com Jesus.

Michelson Borges