Uma nova tecnologia ligada a uma importante descoberta, pode abrir amplas janelas para entender o funcionamento do cérebro. No fim do ano passado foi anunciada a descoberta de circuitos de neurônios especiais que podem trafegar dados em velocidades até 3 mil vezes maiores que a rapidez normal entre certas áreas do cérebro. O mais surpreendente é que esses circuitos estão em áreas que até recentemente se consideravam inúteis no cérebro. Tradicionalmente os cientistas concentraram seus estudos no mapeamento e funcionamento dos neurônios, as principais células nervosas, tentando monitorar como elas disparam potenciais elétricos que conduzem mensagens ao longo do seu corpo e liberam neurotransmissores químicos nos pontos de contatos com outros neurônios.
Os neurônios estão principalmente no que se chama "massa cinzenta" que ocupa a metade do volume do cérebro. A outra metade, chamada de "massa branca" é constituída de longos filamentos com poucos neurônios.
Pouquíssimo se sabia da função dessa massa branca, que se parece uma cabeleira de filamentos isolados por uma substância gordurosa isolante chamada mielina. Sabia-se que danos nesse encapamento de mielina, quando rompido por doenças, pode ser uma das causas do mal de Alzheimer, assim como fios elétricos desencapados podem causar curtos-circuitos danosos.
O que se descobriu recentemente é que as longas fibras brancas desempenham um papel importante na transmissão de informações dentro do cérebro. Essas fibras, aparentemente, funcionam como se fossem conexões de banda larga popularizadas na Internet. George Bartzokis, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia, explica as recentes descobertas na edição de dezembro da Technology Review: "Graças às camadas de isolamento que impedem a fuga de impulsos elétricos, as fibras com mielina podem mandar sinais aproximadamente 100 vezes mais rápidas que as não isoladas. A mielina também faz transmissão de mais informações por segundo, reduzindo o tempo de espera entre sinais. Com isso os neurônios blindados por mielinas podem processar 3 mil vezes mais informações. Isso é crucial para a fala e processamento da linguagem," diz Bartzokis.
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Três trechos me chamaram a atenção de maneira especial:
"Os neurônios formam conexões que lembram rios correndo numa planície, seguindo leitos de menor resistência. ... esses caminhos, pela experiência e aprendizado, acabam formando feixes densos em direções predominantes. O reforço de conexões muito usadas acaba alterando sua forma, da mesma maneira que músculos muito exercitados ficam mais fortes e definidos." [Isso quer dizer que aquilo que lemos, assistimos, ouvimos, pensamos acaba "moldando" o cérebro e tornando mais fácil ou mais difícil pensar de determinada maneira. "Pela contemplação somos transformados", já dizia Ellen White, há um século.]
"Seres humanos têm mais de 100 bilhões de neurônios que fazem entre eles mais de 100 trilhões de conexões, as chamadas sinapses. Para se ter ideia da complexidade, um dos dispositivos mais complicados produzidos pela tecnologia, o microprocessador Intel duocore mais avançado tem apenas 400 milhões de transistores, os equivalentes aos neurônios."
"O cérebro é essencialmente um computador que cria sua fiação durante o desenvolvimento e que pode refazer seus circuitos", explica Sebastian Seung, um neurocientista computacional do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
[Curioso como, quando o assunto é extremamente complexo, o jargão darwinista baseado no tempo e no acaso desaparece e dá lugar, ainda que discretamente, à sugestão de design inteligente. - MB]