Estava lendo sua postagem “A moça de vestido curto e nossa imagem ‘lá fora’”. Moro na Espanha há quase quatro anos, onde trabalho e estudo. Como aqui é um país em que existem muitos imigrantes de todas as partes, temos contato com várias culturas e gosto de saber a opinião dessas pessoas sobre o Brasil e o que conhecem do nosso país. A grande maioria só fala em samba, futebol, pobreza, favelas, e alguns homens quando sabem que sou brasileira, pensam que já podem chegar “atacando” porque “somos mulheres fáceis”. Fico indignada com isso! Quando veem que sou diferente, então mudam o discurso e me tratam com respeito. São poucas as pessoas que destacam o que o Brasil tem de bom, como os lugares, as regiões, a cultura, etc., pois não conhecem muito além do que citei acima. Os que falam bem são aqueles que de alguma maneira tiveram contato com um brasileiro ou esteve como turista no país, porque o marketing do Brasil é pobre, sob meu ponto de vista.
Não gosto de generalizar, pois sempre há exceções, mas o que se nota quando está aqui é que o conceito de muitos a respeito das brasileiras (me refiro não apenas à Espanha, mas à Europa) é de que a maioria é prostituta. O mal disso é que até provar que não somos objetos de prazer, que temos conteúdo, que somos pessoas que também têm pudor, custa bastante e sofremos às vezes com preconceitos. Algumas pessoas nos julgam antes de nos conhecer, generalizam.
Quem estuda e não o faz em tempo integral, pode trabalhar algumas horas, se quiser, só que muitas vezes não consegue atuar na área. Então alguns buscam trabalhos do tipo cuidar de crianças ou cuidar de pessoas idosas (que é o meu caso). Lembro-me da primeira vez que me ofereci para cuidar de uma criança e praticamente fiz toda a entrevista com a mãe do bebê por telefone. Ela simpatizou muito comigo; queria me conhecer pessoalmente e talvez perguntar mais algumas coisas. Disse que seguramente me contrataria. Sou adventista desde pequena, fui bem vestida, mas quando, ao conversar com a mulher, ela descobriu que sou brasileira, ela inventou uma desculpa esfarrapada e disse que não ia precisar mais.
Outra amiga passou pela mesma situação e explicou à atual chefe dela o que havia passado, e a senhora lhe disse: “É porque ninguém gosta de contratar brasileira, porque ela tem fama de ser mulher fácil, insinuante, e ninguém quer perder o marido pra uma dessas, já que os homens europeus têm principalmente as brasileiras como referência quando querem apenas 'curtir' e ter uns momentos de prazer.” Isso é lamentável.
Infelizmente, a culpa é nossa mesmo, pelo que você comentou na sua postagem: “Esse é o cartão-postal que apresentamos aos turistas”, corpos semi-desnudos, futebol e favelas. Estou há bastante tempo aqui e é muito raro passar uma notícia do Brasil nos telejornais, e quando passa algo é sobre as matanças descontroladas nas favelas do Rio e São Paulo, guerras entre os policiais e traficantes, inundações, miséria, etc.
Quando fazem festas brasileiras aqui, além do samba, também ensinam danças “superculturais”. Outro dia um espanhol me mostrou vídeos no YouTube com mulheres brasileiras dançando funk. Essa é uma das imagens deprimentes que esse espanhol vai ter do Brasil e passar às demais pessoas que perguntarem alguma coisa a respeito.
Enquanto muitas mulheres aderem a esse tipo de comportamento ou danças e enchem o peito pensando que são as “boas”, que isso é algo positivo e motivo de orgulho, no fundo não passam de um simples pedaço de carne que serve para saciar o prazer de alguns e depois serem descartadas como nada.
Hoje vendo essas coisas de fora do Brasil, confesso que às vezes tenho vergonha desse comportamento de muitas compatriotas, e a mídia abusa disso: “mulher melancia”, mulher sei-lá-o-quê – enquanto as pessoas de fora estão dizendo: “Que insignificancia!” E, claro, essa também é a opinião dos homens que as usam como objeto, pois nunca levariam uma mulher dessa a sério para se relacionarem, salvo se ele estiver no mesmo nível.
(Eliana Freitas, da Espanha)