Um crânio de seis mil anos encontrado em Papua-Nova Guiné é o
registro da vítima morta por um tsunami mais antigo, de acordo com uma
pesquisa publicada nesta semana. Em 1929, o geólogo australiano Paul Hossfeld
descobriu parte de um crânio humano nos arredores da cidade litorânea de
Aitape, em Papua-Nova Guiné. Uma equipe internacional de cientistas retornou
recentemente ao local para tentar descobrir o que matou esse indivíduo. A
análise deles, que está disponível no PLOS One, mostra que o crânio foi
enterrado sob destroços com distintas características de um tsunami. “[Nós]
concluímos que o crânio foi encontrado em destroços de um tsunami e ele talvez
represente a vítima mais antiga do desastre no mundo”, escreveram os
pesquisadores no estudo.
A parte do crânio é apenas uma na pequena quantidade de restos
mortais descobertas na área, e acredita-se que ele pertencia a uma arcaica
espécie humana conhecia como Homo erectus. A
datação por radiocarbono dá entre 5 a 6 mil anos de idade para o crânio, o que
significa que os restos foram um dia parte de um ser humano moderno.
Em 2014, a equipe liderada por James Goff, um antropólogo da
Universidade de Nova Gales do Sul e o primeiro autor do novo estudo, retornou
ao local, Paniri Creek, onde o crânio foi originalmente encontrado, na
esperança de localizar novas evidências. Noventa anos atrás, Hossfeld não se
importou em registrar nenhuma evidência local, como coletar amostras do solo ou
analisar camadas estratigráficas; em vez disso, escreveu uma descrição da área,
incluindo a informação de onde o crânio foi encontrado.
“O que fizemos foi chegar ao local e colher amostras de
sedimentos para que a análise de laboratório nos contasse mais sobre a idade e
deposição histórica da área”, disse o coautor Mark Golitko, professor
assistente de antropologia na Universidade de Notre Dame, em um comunicado. “Pudemos
usar técnicas científicas modernas para entender um pouco mais sobre como esse
lugar foi formado e o que estávamos de fato observando.”
Os pesquisadores fizeram a análise química de solo e sedimentos
encontrados dentro e ao redor do local, enquanto mediam o tamanho dos grãos.
Eles também descobriram a presença de diatomáceas preservadas – criaturas
aquáticas unicelulares que podem dizer quais eram as condições da água durante
aquele tempo. Quando diatomáceas morrem, elas ficam com um pequeno casco ao seu
redor e então afundam até a base do mar. A equipe de Goff colocou o sedimento
sob o microscópio e contou as diatomáceas, o que permitiu determinar a
temperatura, salinidade e energia da água quando as diatomáceas morreram.
“Os destroços em que o crânio foi encontrado têm
diatomáceas puramente marinhas, que vieram das águas oceânicas que inundaram a
área”, explica Golitko. “É uma água oceânica de muita energia – energia o
suficiente para quebrar os pequenos cascos de sílica que as diatomáceas constroem
ao seu redor.”
Estes três itens combinados – a grande energia da água, as
assinaturas químicas e o tamanho dos grãos dos sedimentos – sugerem a presença
de um tsunami no momento em que o crânio foi enterrado.
“Pudemos confirmar o que suspeitávamos”, disse Goff. “As
semelhanças geológicas entre os sedimentos no local em que o crânio foi
encontrado e os sedimentos deixados durante a tsunami de 1998 que atingiu a
mesma costa nos permitiram entender que populações humanas nessa área sofreram
com maciças inundações por milhares de anos.”
Os autores dizem que o indivíduo Aitape foi ou violentamente
morto pelo tsunami, ou seu túmulo foi destruído pelo tsunami, o que nos leva a
sua cabeça – mas não ao resto do corpo – sendo levado ao oceano e depois de
volta para a costa onde foi enterrado com outros destroços. Mas a teoria do
“túmulo”, dizem os pesquisadores, é improvável.
Apesar do tsunami, as pessoas continuaram a morar nessa região
da Papua-Nova Guiné. Para o futuro, os pesquisadores gostariam de aprender mais
como as pessoas viviam na área naquele tempo e nos períodos de desastres
naturais para entender como eles respondiam a estes riscos. Conforme os
cientistas concluem no estudo:
[Tsunamis] podem ter contribuído para um mundo muito mais dinâmico
no senso de comunidade e mobilidade individual e uma crescente confiança em
estratégias de redução de riscos, incluindo o estímulo e a manutenção de
alianças sociais abrangentes… [tendo] um papel significante na distribuição de
materiais, novas ideias e práticas pelo [sudoeste do] Pacífico, como
documentado nos registros arqueológicos do holoceno médio.
Então, por mais destruidores que os tsunamis possam ter sido (e
continuam a ser), estes recorrentes desastres naturais podem ter reunido
comunidades, impulsionando o desenvolvimento humano. Nesse caso, foi um passo
para trás e dois para frente.
(PLOS One, via Gizmodo)
Nota: Uma megainundação catastrófica ocorrida
há cerca de quatro mil anos... Existem muitas evidências de algo parecido, na
mesma época (mesmo estrato geológico), em várias partes do mundo, incluindo o
fato de que cerca da metade dos sedimentos continentais é de origem marinha.
Faz pensar... [MB]