Em 1977, durante festa em casa de amigos, um homem de 44 anos alcoolizou e drogou uma adolescente de 13 anos. A seguir, investiu contra a menina, que tentou rechaçar a agressão. Ele então a obrigou a fazer sexo. Denunciado, respondeu a processo. Em troca da confissão, negociou com a promotoria abrandar a denúncia de estupro pelo crime de relação sexual com menor. Na primeira oportunidade, evadiu-se do país, e por mais de três décadas evitou a prisão. Até que finalmente veio a ser detido na Suíça. Ponto para a justiça humana? Aplauso planetário? Ao contrário, muitas vozes – vozes de políticos e celebridades – se levantaram em defesa do facínora. Os argumentos foram os mais estapafúrdios possíveis: “O sujeito perdeu parentes no Holocausto, teve a esposa grávida brutalmente trucidada por uma gangue de lunáticos, onde fica a liberdade de expressão?” [sic]. Mas o que indignou seus defensores foi a indiferença das autoridades ao talento e ao sobrenome do réu, Roman Polanski.
Eis aonde chegamos: o currículo artístico de uma celebridade deve conceder-lhe imunidade legal, não importa a perversidade de seus crimes. Pior, desde o primeiro parágrafo da notícia, pareceu-me que o cerco de proteção a Polanski traía cumplicidade. Miseravelmente, confirmou-se, ao menos em parte, que se trata mesmo de uma confraria de aliados objetivos da pedofilia. Um dos políticos mais estridentes da claque do tarado foragido, o Ministro da Cultura da França, Frédéric Miterrand, escreveu em 2005 um livro de nome A Má Vida, no qual narra em primeira pessoa suas aventuras sexuais com garotos adolescentes em bordéis tailandeses (o primeiro-ministro Sarkozy, que blindou Miterrand após o escândalo, até elogiou sua obra, digo, seu livro). Agora, nas palavras de Veja, “os franceses sabem que, quando seu ministro sai de férias, ‘a moral ocidental, a culpa de sempre, a vergonha que eu carrego explodem pelos ares; e que o mundo caminhe para a perdição’”.
Infelizmente, o mundo vem-se rendendo célere ao apelo do velho pederasta. Não é à toa que Jesus teve que vaticinar esta sombria profecia: “Quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”
(Marco Dourado, Curitiba, PR)