Depois de ter passado momentos agradáveis em Puerto Piritu, continuo buscando chegar à primeira capital dos dez países que terei que percorrer até chegar a Atlanta. A próxima cidade a 110 km chama-se Cúpira e depois dela terei mais 160 km para alcançar Caracas. Viajo no momento junto ao mar do Caribe. Pelas “janelas” da gorducha consigo ver o mar. São águas de um verde forte, aparentemente calmas aqui da pista distante. Penso que quando encontrar o primeiro ponto de entrada para o mar, irei me banhar nessas águas. Ainda não senti na pele essas águas. Já me banhei no Oceano Atlântico e Pacífico (quando estive no Peru). Agora será uma satisfação refrescar-me em águas tão longínquas de minha pátria.
Avanço nesse desejo e quando avisto uma trilha, que segue paralela à estrada, desço e em poucos minutos estou frente a frente, a alguns passos, das águas verde-musgo do Caribe, pelo menos na costa que chego agora. Para minha satisfação ser maior, há junto à beira-mar onde cheguei duas árvores à distancia exata para armar minha rede de selva. Também por perto não há casa alguma. É uma parte um tanto deserta e longe de Puerto Piritu e Cúpira. Assim me banho e em seguida armo minha rede e me deito, tendo como manto o frescor das árvores e o som do mar como cantiga de ninar. Esse momento não podia terminar de outra forma, senão em um sono profundo e exato no ponto para recarregar minhas baterias.
Bem na hora em que me apareceu a trilha, eu estava cansado e com a pele muito queimada do sol. Por isso dei graças a Deus quando desci para a beira-mar e encontrei a trilha. Que beleza! Que maravilha! Que fantástico! Mais que bom! Um banho de spa completo, ou seja, descanso, sombra, música suave e água fresca.
Por isso, quando acordei, já às quatro da tarde, estava completamente desligado do meu compromisso de chegar a Cúpira antes do pôr do sol desta sexta-feira. É a primeira vez que isso acontece. Acho que fui embalado pelos anjos de Deus. Eles me cantaram uma música suave usando as ondas encapeladas do mar do Caribe como cordas e a brisa do vento como bojo de um violão. Foi o sono mais curto e mais sublime de toda a viagem. Já dormi em muitos hotéis e quartos confortáveis de várias casas, mas nenhum é semelhante aos momentos que passei aqui. A solidão, associada à paz e à calma serena do lugar em que me encontro me transportaram aos palácios da Terra Prometida e foi como chegar aos braços do meu Salvador.
Se esta natureza corroída, maltratada e transformada por milhares de anos de pecado pode me dar esta deslumbrante sensação, imagine como será desfrutar dos rincões criados por Deus em nossa Pátria Celestial...
Eu quero estar lá, por isso resolvo desarmar a rede e continuar a viagem. Certo é que prefiria não ter compromisso com mais nada e, parando o tempo, ficar aqui até o fim do mundo. Como entendo que para encerrar a história deste planeta condenado é preciso trabalhar para levar o evangelho eterno a todas as nações, apressando assim a volta de Jesus, irei me levantar e fazer o possível para alcançar a cidade de Cúpira e encontrar meus irmãos para acertar com eles a oportunidade de pregar no sábado.
Com as energias renovadas pelo sono celestial, chego fácil a Cúpira e sou guiado por anjos invisíveis até a igreja adventista da cidade. Para minha alegria ser completa, encontro a igreja e ela está aberta, em semana de oração. Pela graça de Deus, após a apresentaçao de uma carta de recomendação, os irmãos me cedem espaço para pregar e testemunhar e muitos entregam a vida ao Salvador.
No domingo cedo, deixo Cupira e sigo no afã de conquistar a primeira capital, Caracas. Mas, antes, outro milagre deve acontecer. Convido você a vir aqui a este blog para ler a parte três deste relato e sentir a mão do Todo Poderoso sobre minha vida.
Estou a caminho de Atlanta, de bicicleta. Parece impossível mas não é porque Deus está aqui. Venha comigo!
(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)