Resumo: O carvão no sul do Brasil tem um alto teor de cinzas, podendo ser melhor denominado siltito carbonoso. Surpreendentemente, a estratificação cruzada hummocky (HCS) foi encontrada em diversas camadas de carvão da Formação Rio Bonito. Apesar da ocorrência de HCS em ambientes marinho-rasos indicar uma gênese atribuída à ação de tempestades, outras causas, como inundações catastróficas, têm sido sugeridas recentemente. No caso dos depósitos brasileiros de carvão, a presença de sedimentação deltaica foi reconhecida por diversos autores. A frequência e íntima relação de fácies encontrada nas ocorrências de carvão na Bacia do Paraná, envolvendo rochas geradas por fluxos gravitacionais subaquosos e, por outro lado, o característico carvão encontrado, requerem a proposição de um novo modelo deposicional e um re-arranjo estratigráfico nas unidades atualmente definidas. Mudanças atuais na percepção dos eventos geológicos, a partir de novos conceitos filosóficos, conduzem à interpretação da sedimentação como resultado de eventos rápidos e de grande energia refletindo um pensamento neo-catastrofista que substitui o tradicional gradualismo. Essa visão, aplicada aos depósitos brasileiros de carvão, leva à proposição de um modelo deposicional não uniformitarista, que aceita a teoria da formação de depósitos de carvão a partir de matéria vegetal alóctone, transportada por eventos de alta energia, nesse caso, inundações catastróficas. [Grifos meus, para destacar a mudança de paradigma em Geologia; MB.]
(Romana Begossi, "Inundações Catastróficas e sua Relação com os Depósitos de Carvão da Bacia do Paraná". Tese doutoral, UERJ)