Cientistas e naturalistas, incluindo o professor Richard Dawkins e Sir David Attenborough, estão comemorando uma vitória sobre o movimento criacionista depois que o governo ratificou as medidas que vão impedir grupos antievolução de ensinar o criacionismo nas aulas de ciências. O Departamento de Educação revisou seu modelo de contrato de financiamento, permitindo que o secretário da Educação retire dinheiro de escolas que não cumpram critérios rigorosos relacionados com o que elas ensinam. Com o novo acordo, o financiamento será retirado de qualquer escola gratuita que ensine que o que eles alegam são “evidências baseadas em opiniões ou teorias” que vão “contra o que está estabelecido cientificamente e/ou evidências históricas e explicações” [leia-se: que vão contra a filosofia darwinista].
A British Humanist Association (BHA), que liderou uma campanha contra o criacionismo - o movimento que nega a evolução darwiniana [nega apenas a hipotética macroevolução] e afirma que a Terra e toda a vida foram criadas por Deus - descreveu o movimento como “altamente significativo” e previu que ele teria implicações para outros grupos religiosos que procuram atuar em escolas.
Dawkins, que foi um dos principais expoentes na campanha, deu boas-vindas à confirmação de que os criacionistas não receberão financiamento para atuar livremente nas escolas, se procurarem retratar suas opiniões como ciência. “Congratulo-me com todos os movimentos para garantir que o criacionismo não seja ensinado como fato nas escolas”, disse ele. “Leis governamentais como essa são extremamente bem-vindas, mas eles precisam ser devidamente aplicadas.” [...]
Vários grupos criacionistas têm manifestado interesse em abrir escolas nas vilas e cidades em toda a Inglaterra, incluindo Bedford, Barnsley, Sheffield e Nottingham. Críticos dizem que eles procuram promover o criacionismo, ou a doutrina do “design inteligente”, como uma teoria científica e não como um mito ou metáfora. [...]
O acordo de revisão do financiamento foi aproveitado por anticriacionistas que estão pressionando por concessões mais amplas do governo. “É claro que algumas escolas religiosas estão ignorando as leis e continuam a ensinar mito como se fosse ciência”, disse Dawkins. “A evolução é fato, apoiada pela evidência de uma série de disciplinas científicas, e prestamos um grande desserviço aos nossos jovens, se não formos capazes de ensiná-lo corretamente.”
(The Guardian)
Nota: A posição da Sociedade Criacionista Brasileira (e deste blogueiro filiado a ela) é a de que o criacionismo não seja ensinado nas aulas de ciência, já que o modelo criacionista lida com aspectos científicos e teológicos. No entanto, seria interessante que os alunos tivessem acesso às críticas ao darwinismo, oriundas de suas insuficiências epistêmicas. Seria bom que os alunos aprendessem a diferença entre macro e microevolução; que o darwinismo está “contaminado” pela filosofia naturalista e que esta não é científica, uma vez que não pode ser submetida ao método científico (naturalismo metodológico). Seria bom que, nas aulas de ciência, os alunos, a despeito de não aprenderem sobre criacionismo, pudessem aprender muitas outras coisas sobre ciência (método) e evolução (aspectos factuais e hipotéticos). Mas, lamentavelmente, eles são doutrinados no naturalismo, enquanto pensam que estão apenas aprendendo sobre ciência. O que está acontecendo na Inglaterra é mais uma Inquisição sem fogueiras. O ateu ultradarwinista Richard Dawkins abomina o Tribunal do Santo Ofício católico, mas tenho a impressão de que, se pudesse, mandaria os criacionistas para a fogueira, com aquele sorrisinho de canto de boca que lhe é peculiar. Já que não pode riscar o fósforo, ele ao menos estoura seus rojões em comemoração à truculência do Departamento de Educação britânico. Pelo menos assim poderão calar esses odiados criacionistas! Condenando-os ao silêncio (inclusive os defensores da Teoria do Design Inteligente, muitos dos quais nem criacionistas são), cessa o incômodo de ter que debater o assunto das origens e preserva-se à força a hegemonia acadêmica e midiática do darwinismo naturalista ateu (sim, porque, no fundo, é isso o que quer o autor de Deus, Um Delírio). O que os criacionistas farão com a evidência de design inteligente que lhes vêm da genética pós projeto genoma, cujas revelações converteram o próprio diretor desse projeto, o ex-ateu Francis Collins? O que farão com as observações advindas da estratigrafia, que lhes mostram imensas formações de estratos planos-paralelos (como os do Grand Canyon) que apontam para uma megainundação com grande deposição de sedimentos? O que farão com as evidências científicas de que as mutações geralmente são deletérias (veja-se o caso das drosophilas) e de que a microevolução não é capaz de promover o “surgimento” de novos planos corporais nem tampouco nova informação complexa e específica? Terão que dizer que tudo isso e muito mais não passa de mito. Por lei, os criacionistas não poderão dizer que o criacionismo é baseado em evidências! Bico calado! Que mundo é esse que Dawkins quer legar a seus descendentes? Um mundo em que os discordantes são calados à força da lei e em que a teoria darwinista permanecerá blindada das discussões que podem ameaçar seu viés filosófico. “Deus não existe e eu o odeio.” Esse é o verdadeiro slogan motivador das atitudes de Dawkins. Esse senhor precisa de terapia. Fósforos na mão dele são um perigo![MB]
Em tempo: No Brasil também há gente preocupada com o criacionismo (clique aqui para conferir). Ficaram de cabelo em pé com nosso tuitaço de sexta-feira, dia 14, o qual colocou a tag #criacionismo em primeiro lugar nos Trend Topics e a manteve lá por quase quatro horas. Infelizmente, muitos ainda acham que o criacionismo nasceu no coração de fundamentalistas norte-americanos que querem impô-lo à força por via política. Os primeiros nomes importantes do criacionismo norte-americano (é bom especificar, porque Adão e Eva já eram criacionistas), entre eles, adventistas como o biólogo Frank Marsh, nada tinham que ver com política. Os bem-informados sabem que a Igreja Adventista defende a separação entre Igreja e Estado. No Brasil, não foi diferente. O matemático adventista Orlando Ritter é tido como um dos primeiros defensores do criacionismo, no Brasil, a usar argumentos científicos. O fundador da Sociedade Criacionista Brasileira (com 40 anos de história), o ex-agnóstico Dr. Ruy Vieira, sempre foi professor universitário e nunca se valeu da política para defender a abertura para discussão dos modelos criacionista e evolucionista. Portanto, pessoal, não se pode julgar o todo pelas partes. Não devemos colocar todos os criacionistas debaixo do mesmo guarda-chuva. Assim como há darwinistas que discordam uns dos outros (isso era mais evidente especialmente nos tempos em que Stephen Gould e Dawkins se engalfinhavam por aí), nem todos os criacionistas aprovam os mesmos métodos de divulgação de suas ideias. Uma coisa é o criacionismo, outra são os criacionistas.[MB]
quarta-feira, janeiro 18, 2012
Dawkins comemora vitória sobre criacionistas
quarta-feira, janeiro 18, 2012
criacionismo, educação, evolucionismo