[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Ao menos nos EUA, a evidência é indiscutível. Em uma pesquisa do grupo Gallup na véspera do aniversário de 200 anos do nascimento de Charles Darwin, no dia 12 de fevereiro de 2009, apenas 39% dos americanos responderam que “acreditam na teoria da evolução”. Não há dados semelhantes no Brasil, mas imagino que os números sejam semelhantes ou piores [há sim, confira aqui]. A mesma pesquisa relaciona o resultado com o nível educacional dos respondentes. Apenas 21% das pessoas com ensino médio completo ou menos acreditam na evolução. O número sobe para 53% nos graduados e 74% em quem tem pós-graduação [mas é claro. Isso é resultado da doutrinação no naturalismo filosófico que vai corroendo a visão crítica da pessoa, preparando-a para aceitar a hipótese macroevolutiva como se fosse sinônimo de fato científico; além disso, praticamente não há professores que queiram ou se aventurem a lecionar evolução de uma perspectiva mais crítica, analisando suas insuficiências]. Outra variável investigada foi a relação do resultado com frequência à igreja. Dos que acreditam em evolução, 24% vão a igreja semanalmente, 30% ao menos uma vez por mês e 55% nunca vão. Quanto mais crente, maior a desconfiança em relação à teoria de Darwin. [O contrário é verdadeiro: quanto mais ateu, maior a aceitação do darwinismo como fato, possivelmente porque o darwinismo – se corretamente compreendido – se trata de uma teoria naturalista ateia – mesmo que alguns religiosos tentem se convencer do contrário, ou seja, de que seria possível hibridizar evolucionismo com a Bíblia. Criacionistas bem informados não têm receio de ler a vasta literatura evolucionista disponível no mercado; curiosamente, são poucos os evolucionistas com quem tenho conversado que admitem ter lido um ou dois bons livros criacionistas. A verdade não precisa temer o confronto e o pesquisador sincero deve estar disposto a seguir as evidências levem aonde levar.]
Por outro lado, a evidência em favor da evolução também é indiscutível. Ela está no registro fóssil, datado usando a emissão de partículas de núcleos atômicos radioativos [verdade? O registro fóssil mostra que as inúmeras formas transicionais que deveriam existir simplesmente não existem; mostra também que a vida simplesmente “explode” com toda a sua complexidade no chamado período Cambriano; e mostra que a superposição de camadas se deu de maneira rápida e catastrófica, já que os extratos geológicos são plano-paralelos sem evidência na área de contato entre eles de erosão ou exposição às intempéries]. Rochas de erupções vulcânicas (ígneas) enterradas perto de um fóssil contêm material radioativo. O mais comum é o urânio-235, que decai em chumbo-207 [por que Gleiser não se pergunta: Por que datar um fóssil a partir de uma rocha vulcânica enterrada com ele? Quem disse que a tal rocha tem a mesma idade do fóssil? E quem disse que o processo de decaimento do urânio-235 até o chumbo-207 se deu de maneira linear no tempo, intocado, de tal forma que possamos assumir que a taxa de decaimento nunca variou? Quem disse que podemos confiar nas estimativas com respeito às quantidades dos elementos pai e filho na amostra de rocha? E a atividade vulcânica, não teria promovido alterações nos relógios radioativos? “Por que duvidar da evolução?”, pergunta Gleiser; por esse e outros muitos motivos]. [...]
A evidência em favor da evolução aparece também na resistência que bactérias podem desenvolver contra antibióticos [mais uma vez esse argumento das bactérias... “Por que duvidar da evolução?”, pergunta Gleiser; porque seus defensores vivem trombeteando exemplos de microevolução – aceitos pelos criacionistas – como se fossem exemplo de macroevolução; porque os evolucionistas acreditam que uma baleia evoluir de uma ameba é a mesma coisa que uma bactéria adquirir resistência a antibióticos, muito embora continue sendo bactéria]. Quanto mais se usam antibióticos, maior a chance de que mutações gerem bactérias resistentes [só isso]. Esse tipo de adaptação por pressão seletiva pode ser investigado no laboratório, sujeitando populações de bactérias a certas drogas e monitorando modificações no seu código genético [perfeito, e o mesmo tipo de investigação vem sendo feita há cem anos com as drosophila. Resultado? Clique aqui para conferir].
Posto isso, pergunto-me por que a evolução causa tanto problema para tanta gente. Será que é tão ofensivo assim termos tido um ancestral em comum com outros primatas, como os chimpanzés? [Note como é típico este argumento evolucionista: as pedras parecem ter milhões de anos; as bactérias adquirem resistência a antibióticos; portanto, somos descendentes de um ancestral comum dos macacos e humanos (ancestral esse totalmente hipotético); isso é que é argumento non sequitur, mas o físico Gleiser parece não perceber isso. “Por que a evolução causa tanto problema para tanta gente”? Bem, na verdade, causa problema para aqueles que têm coragem de duvidar dela; para aqueles que, embora sejam chamados de “crentes”, resistem a crer numa teoria cuja fundamentação teórica é a filosofia naturalista, essa, sim, impossível de ser submetida ao método científico; causa problema para aqueles que pensam que a sociedade é democrática e que temos liberdade de expressão e, por isso, decidem manifestar sua discordância do establishment científico/educacional/político.]
A nossa descendência é ainda muito mais dramática: se formos mais para o passado, todos os animais que existem e descenderam [como ele pode afirmar isso com tanta certeza?] de um único ancestral, o Último Ancestral Universal Comum (na sigla Luca, em inglês), que provavelmente era um ser unicelular. [“Provavelmente”? Então que se prove! Depois de mais de um século e meio da publicação das ideias de Darwin, essa teoria (no que diz respeito à macroevolução, repito) continua tão especulativa quanto quando foi imaginada na cadeira de balanço do naturalista inglês – imaginada, sim, porque o microscópio nem permitia ver a complexidade contida dentro de uma “simples” célula que deveria ser semelhante ao suposto ser unicelular primordial que querem nos fazer crer que era tão simples que poderia ter “surgido”.]
Essa desconfiança do conhecimento científico é muito estranha, dada a nossa dependência dele no século 21. (De onde vêm os antibióticos e iPhones?) [Com todo respeito, mas isso é jogo sujo! Como Gleiser pode misturar tecnologias desenvolvidas por seres inteligentes e as hipóteses macroevolutivas naturalistas da biologia evolucionista? O que iPhones têm a ver com o suposto ancestral comum e com fósseis interpretados sob a lente darwinista?! Criacionistas não desconfiam do conhecimento científico – como Gleiser tenta induzir. Desconfiam, sim, de hipóteses metafísicas que tentam se passar por ciência experimental. Isaac Newton, Galileu Galilei e outros grandes cientistas do passado ajudaram a criar o método científico e não precisaram da evolução para fazer boa ciência. Agora quem pergunta sou eu: Por que endeusar essa hipótese e ficar tão chocado com aqueles que querem submetê-la à crítica? Não é exatamente assim que a ciência avança? Por que Gleiser sai de seus domínios na física para defender seus amigos evolucionistas contra os críticos? Que eles mesmo se defendam!] O problema parece estar ligado ao Deus-dos-Vãos, a noção de que quanto mais aprendemos sobre o mundo, menos Deus é necessário [clique aqui para ler uma parábola relacionada com essa ideia]. Os que interpretam a Bíblia literalmente [lá vem o físico dizer como se deve interpretar a Bíblia...] veem nisso uma perda de rumo. Se Deus não criou Adão e Eva e se não nos tornamos mortais após a “queda do Paraíso”, como lidar com a morte?
Uma teologia que insiste em contrapor a fé ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. Mesmo que não acredite em Deus [deu para perceber], imagino que existam outras formas de encontrar Deus ou outros caminhos em busca de uma espiritualidade maior na vida. [Termino parafraseando o que Gleiser disse: uma teoria que insiste em contrapor a filosofia naturalista (que posa de método e confunde tecnologia com ciência) ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. E querem saber, Gleiser e Folha? Cada vez que leio um texto como esse duvido ainda mais da evolução. – MB]
(Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo, 22/01/2012)
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