segunda-feira, janeiro 30, 2012

Revista publicará pesquisas científicas que falharam

Hipóteses perdidas, experimentos que falharam e resultados que não foram encontrados em pesquisas científicas agora terão um lugar ao sol. Ou pelo menos um lugar para serem publicados. Um novo periódico científico, batizado de Journal of Errorology (Revista de Errologia), surgiu para contar a história de trabalhos que não seguiram o rumo esperado. O objetivo da publicação, de acordo com o editor, o biólogo brasileiro Eduardo Fox, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é discutir os furos de paradigma. “Conhecer um experimento que falhou ou teve um resultado inesperado pode ser muito interessante para os cientistas”, explicou Fox. “É importante ter acesso às experiências que não funcionaram. Isso evita que outros cientistas cometam o mesmo erro”, analisa o cienciometrista Rogério Meneghini. Ele é coordenador do Scielo, base que reúne 911 revistas científicas da América Latina.

Hoje, a maioria dos periódicos científicos não publica informações de pesquisas que “falharam”. O foco dos trabalhos são os resultados positivos. Esse padrão dos artigos científicos é, inclusive, ensinado em cursos de técnica de escrita feitos por editoras de periódicos e empresas especializadas na área. Algumas revistas até publicam resultados inesperados – mas desde que já tenham uma explicação lógica.

“Estamos interessados em publicar situações em que os pesquisadores chegaram e que ainda não têm explicação científica”, afirma Fox. A ideia é promover a discussão dos cientistas-leitores na própria revista.

“Essa situação inesperada aconteceu comigo. Tinha hipótese de que, ao silenciar um determinado gene [suprimir sua função], uma abelha operária pudesse se desenvolver numa abelha rainha”, conta o biólogo da USP de Ribeirão Preto, Francis Nunes. “Mas meus dados mostraram que não houve tal modificação. Em termos científicos, tais episódios não são considerados erros. São uma rejeição de uma hipótese.”

O Journal of Errorology está aberto para receber trabalhos de cientistas de todo o mundo pelo site. Mas, de acordo com o editor, o grupo responsável pela publicação – uma sociedade científica internacional chamada Souls (Society Of United Life Sciences) – estuda alternativas para selecionar os textos recebidos.

Hoje, os periódicos científicos têm um comitê que analisa os trabalhos por meio de pares (conhecida como peer-review): são dois cientistas para cada artigo recebido. “Sabemos que esse sistema é falho e que muitos cientistas só aprovam o que lhes interessa”, diz Fox. A ideia é que os cientistas que interagirem nas discussões on-line sobre os artigos atuem como uma espécie de peer-review externo.

Outra novidade do Journal of Errorology é que ele será totalmente eletrônico. “As publicações eletrônicas concentram os cientistas mais jovens. Mas é um caminho sem volta para as revistas científicas”, conclui Fox.

(Folha.com)

Nota: Será que alguma edição dará destaque à macroevolução?[MB]