domingo, julho 30, 2017

Cadáveres que contradizem Deus ou mais forçação de barra?

Os cananeus viveram no atual Líbano há 4.000 anos. Inventaram um dos primeiros alfabetos conhecidos, mas quase não há referências diretas a eles, provavelmente porque os papiros nos quais escreviam não sobreviveram à passagem do tempo. “Realmente não sabemos nada sobre eles de fontes diretas, porque todas foram destruídas, e o pouco que conhecemos é através de outras fontes, como a Bíblia”, explica Chris Tyler-Smith, geneticista do Instituto Sanger do Wellcome Trust, no Reino Unido [como se a Bíblia não fosse uma “fonte direta”]. Segundo o Antigo Testamento, Deus mandou seus fiéis matarem todos os cananeus, e o texto afirma que suas cidades foram arrasadas. Mas as escavações arqueológicas em alguns desses assentamentos mostram que eles estiveram presentes de forma contínua durante a Idade de Bronze e a do Ferro, o que parece descartar que tenham sido eliminados.

A equipe de Tyler-Smith analisou cinco cadáveres de cananeus enterrados há 3.600 anos em Sidon (Líbano), uma das principais cidades cananeias. Encontrar DNA em restos tão antigos e numa zona tão quente e úmida teria sido uma tarefa quase impossível até poucos anos atrás. A equipe recorreu a uma técnica que já permitiu sequenciar o primeiro genoma antigo de um africano: ela consiste em perfurar o osso temporal, o mais denso do corpo. Graças a essa técnica, foi possível extrair DNA suficiente do osso moído para sequenciar o genoma completo dos cinco cananeus e compará-lo com o de 99 libaneses atuais.

Os resultados do estudo – publicado na revista da Sociedade de Genética Humana dos EUA – indicam que os cananeus não foram aniquilados. Seu DNA continuou sendo transmitido de geração em geração, e hoje é predominante em todos os libaneses.

“Mais de 90% do DNA dos libaneses atuais vêm daquela população”, ressalta Tyler-Smith, o que é surpreendente, pois a contínua passagem de povos e civilizações por esta região do Mediterrâneo ao longo dos séculos deveria ter diluído o parentesco direto com os cananeus. O estudo indica que os cananeus descendiam de grupos de agricultores que se estabeleceram no Oriente Médio durante o Neolítico, e que há 5.000 anos se cruzaram com imigrantes chegados do leste da Eurásia. [...]

O trabalho mostra como a análise de DNA antigo pode ajudar a revelar a história de outros povos que não deixaram textos escritos. Neste estudo, foi analisado apenas o DNA de habitantes atuais do Líbano, mas a equipe quer ampliar o escopo do trabalho. “Esta linhagem deve ser comum entre toda a população do Oriente Médio, e podemos estar bastante seguros de que seu peso será similar nos habitantes dos países vizinhos”, comenta Tyler-Smith.


Nota: Comparando o texto bíblico com textos correlatos, percebe-se que o autor usa de hipérboles quando diz, por exemplo, que Deus mandou matar toda criança de peito. Hipérbole não é literal e isso encontra eco em documentos egípcios e hititas. Os amalequitas, por exemplo, são “exterminados” por Saul. Aí reaparecem “exterminados” por Davi e voltam a aparecer em outro período. Além disso, é bom lembrar que a Bíblia registra que os israelitas desobedeceram a Deus não destruindo os cananeus (Josué 17:12, 13; Juízes 1:27-33 e 2:1-3), que continuaram vivendo “numa boa”. Há uma passagem interessante em que Deus diz que os cananeus iriam sobreviver:O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim e disse: ‘Tirei vocês do Egito e os trouxe para a terra que prometi com juramento que daria a seus antepassados. Eu disse: Jamais quebrarei a Minha aliança com vocês. E vocês não farão acordo com o povo desta terra, mas demolirão os altares deles. Por que vocês não Me obedeceram? Portanto, agora lhes digo que não os expulsarei da presença de vocês; eles serão seus adversários, e os deuses deles serão uma armadilha para vocês” (Juízes 2:1-3). Longe de refutar a Bíblia, a pesquisa mencionada acima confirma mais uma vez sua historicidade. Basta gastar um tempinho lendo suas páginas para perceber isso e evitar a forçação de barra útil para vender jornal e ganhar likes.

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