O profeta Isaías é um importante personagem bíblico,
tendo um livro próprio no Antigo Testamento e centenas de citações no Novo
Testamento. De acordo com os textos sagrados, ele viveu no reino de Judá entre
os séculos 8 e 7 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e
teve participação na defesa de Jerusalém contra o cerco do rei assírio
Senaqueribe. Entretanto, nenhuma evidência arqueológica de sua existência era
conhecida. Até agora. “Aparentemente nós descobrimos a impressão de um selo que deve ter
pertencido ao profeta Isaías, numa escavação científica, arqueológica”,
celebrou Eilat Mazar, pesquisadora do Instituto de Arqueologia da Universidade
Hebraica de Jerusalém. “Nós encontramos a marca de um selo do século 8 a.C. que
deve ter sido feita pelo próprio profeta Isaías a apenas três metros de onde
havíamos descoberto uma impressão de selo do rei Ezequias de Judá.”
A descoberta foi revelada nesta quinta-feira, em artigo publicado
na revista Biblical Archaeology Review.
O artefato foi encontrado num sítio arqueológico em Ophel, uma área entre o
Monte do Templo e a Cidade de Davi, usada na antiguidade como complexo
residencial da família real. Em escombros numa área adjacente a um edifício que
funcionou como padaria real, os arqueólogos encontraram 34 pequenas peças de
argila com impressões de selos, com os nomes de seus donos.
Os pedaços de argila tinham apenas um centímetro de diâmetro e
alguns estavam bastante danificados. Entre as peças, uma traz o nome do rei
Ezequias, cuja descoberta fora anunciada em dezembro de 2015. Os pesquisadores
também conseguiram identificar sete impressões pertencentes a familiares de uma
pessoa chamada Bes, provavelmente alguém importante na administração de Judá no
período. Mas o artefato mais intrigante tinha a inscrição “Yesha’yah“, o nome
em hebraico de Isaías, seguido pelas letras “N”, “V” e “Y”, as três primeiras
para a palavra “profeta” em hebraico (Navi, soletrada como nun-beit-yod-aleph).
“Porque a peça está levemente danificada no fim da palavra NVY,
não sabemos se originalmente ela terminava com a letra hebraica Aleph”,
afirmou Mazar. “O que resultaria na palavra em hebraico para “profeta” e
identificaria de forma definitiva como uma assinatura do profeta Isaías. A
falta dessa última letra, entretanto, deixa em aberto essa possibilidade. O
nome de Isaías, entretanto, está claro.
Segundo os textos sagrados, o reino de Judá era vassalo do reino
assírio, mas Ezequias se rebelou. Para conter a revolta, Senaqueribe cercou
Jerusalém com centenas de milhares de soldados em 701 a.C. Ezequias, então,
procurou o conselho do profeta, que recomendou resistir ao cerco, seguindo as
palavras de Deus.
“E quanto ao rei da Assíria, o seu exército não chegará a entrar
em Jerusalém, nem disparará as suas armas ali, nem mesmo desfilará perante as
suas portas, nem sequer construirá uma torre a partir da qual poderia atacar as
suas muralhas. Regressará à sua terra pelo caminho por onde veio sem ter
penetrado na cidade, diz o Senhor. Pela minha própria honra a defenderei, e
pela memória do meu servo David”, conta o livro de Isaías. “Nessa noite o anjo
do Senhor veio até o campo dos assírios e matou 185.000 soldados. Os que
ficaram vivos, quando se levantaram pela manhã, ficaram estupefatos perante
todos aqueles mortos na sua frente.”
O Antigo Testamento conta outros episódios em que Ezequias
procurou Isaías, indicando que o profeta era bastante próximo e um dos
principais conselheiros reais. “Se for o caso de a peça ser realmente do
profeta Isaías, então não seria surpresa encontrá-la perto de uma pertencente
ao rei Ezequias dada à relação simbiótica entre o profeta Isaías e o rei
Ezequias descrita na Bília”, disse Mazar.
(O Globo)