Cientistas
pensavam que as galáxias Via Láctea e Andrômeda eram únicas: elas têm anéis de
galáxias anãs menores orbitando de maneira que parece sincronizada. Mas quando
uma equipe de cientistas recentemente observou outra galáxia, percebeu que ela
também parecia pastorear um rebanho de anãs em uma dança estranha e
sincronizada. Isso não deveria acontecer. Uma equipe internacional de quatro
pesquisadores notou o comportamento na galáxia elíptica Centaurus A, a 30
milhões de quilômetros de nossa Via Láctea. Galáxias anãs deveriam viajar
aleatoriamente em torno de sua galáxia-mãe, baseado na teoria padrão de como as
galáxias se formam. Ver mais uma galáxia com esse comportamento estranho é
altamente improvável e coloca em dúvida o próprio modelo que os cientistas usam
para entender estruturas em nosso Universo.
Claro,
é de se esperar que se encontre uma galáxia com esse comportamento, disse o
autor do estudo, Oliver Müller, da Universidade da Basileia, na Suíça, em
entrevista ao Gizmodo. “Mas duas ou três é impressionante. Deveria haver caos
puro, e não ordem”, disse Müller. “Encontrar
em todos os lugares em que procuramos essa ordem extrema, onde esperamos
desordem, é estranho.”
O
modelo que físicos usam para explicar o comportamento do Universo desde o Big
Bang é chamado de “Lambda-CDM”. Ele é basicamente apenas um sumário do que
sabemos sobre o Universo: começou com uma explosão [sic], contém galáxias em
uma vasta rede cósmica com vazios entre elas, tem substâncias estranhas
chamadas de matéria escura e energia escura, está se expandindo, e essa
expansão está se acelerando. O modelo prevê que, durante a formação, as
galáxias anãs deveriam tanto aparecer e se mover aleatoriamente em torno de
suas galáxias anfitriãs.
A
nossa galáxia-natal, a Via Láctea, e a Andrômeda jogaram água no chope desse
modelo, com discos de galáxias anãs orbitando-as meio que como os anéis de
Saturno. Talvez essas duas galáxias fossem anexos, pensaram alguns. Ou talvez tenha
algo de errado com nosso Grupo Local de galáxias, que contém a Via Láctea e a
Andrômeda.
Os
pesquisadores usaram dados de uma pesquisa de galáxias coletados pelo
Telescópio Parkes, na Austrália, para observar a Centaurus A, que não faz parte
do Grupo Local. Seu disco de galáxias anãs fica de frente para nós, então os
pesquisadores puderam usar o efeito Doppler para ver a luz de 14 galáxias anãs
esticada em um lado da Centaurus e triturada no outro. Em outras palavras,
parecia que as galáxias anãs estavam se movendo para longe de nós de um lado e
em nossa direção do outro, como um disco giratório. Os pesquisadores publicaram
essa história na quinta-feira (1) no periódico Science.
Basicamente,
os cientistas esperavam que a Centaurus A tivesse aleatoriamente organizado as
galáxias anãs, mas, em vez disso, ela pareceu ter um anel de galáxias se
movendo em conjunto como a nossa própria galáxia, indo contra as suposições da
popular teoria padrão do Universo. As
chances de que uma única galáxia tivesse um disco de galáxias anãs coordenadas
desse jeito são de um em um mil. As chances de que três galáxias tivessem são
muito menores, a menos que nossa teoria da formação das galáxias esteja errada.
Isso
provavelmente não atinge nossa teoria da matéria escura, que explica vários dos
movimentos gravitacionais misteriosos que vemos no espaço, disse Müller. “Mas
vou dizer que é um desafio para a maneira padrão como pensamos sobre a formação
desses grupos.” [...]
“A
essa altura, existe uma montanha de detalhes contraditórios como esse que nós,
na maior parte do tempo, jogamos debaixo do tapete proverbial”, disse McGaugh.
“A matéria escura e a energia escura estão por aí há tanto tempo que as pessoas
se esquecem de que nós voltamos para elas. Elas são fadas do dente que
invocamos no início para fazer as coisas darem certo.” E se ninguém encontrar
evidências de matéria escura, disse, então “o paradigma entra em colapso como
um castelo de cartas”.
Portanto,
talvez Müller e sua equipe tenham encontrado mais um anexo estatístico, ou
talvez galáxias isoladas funcionam de maneira diferente de grandes grupos de
galáxias. Ou talvez eles tenham encontrado mais um problema com a teoria
geralmente aceita da cosmologia.