Ontem
assisti ao filme A Teoria de Tudo, inspirado
no livro homônimo escrito pela primeira esposa de Stephen Hawking, Jane. É um
interessante contraponto ao mais recente livro dele, Minha Breve História (cuja resenha publiquei aqui). Em seu livro, Hawking dá mais atenção às suas
teorias e pesquisas, ao passo que Jane revela mais das relações humanas
envolvidas na história de ambos. Jane é cristã e estudou artes; Hawking, como
quase todo mundo sabe, é ateu, físico e cosmólogo, dono de uma mente
matemática. E é justamente isso que torna interessante a comparação entre as
duas narrativas biográficas (ainda quero ler o livro dela). Diferentemente de
Richard Dawkins, o neoateu militante e estridente que não crê na existência de
Deus mas odeia Deus, Hawking parece guardar para si certa revolta com o que “a
vida fez com ele”. Uma das mentes mais brilhantes do mundo vive na iminência de
perder contato com a realidade, já que se comunica precariamente por meio de
movimentos oculares e um computador que interpreta esses movimentos. Uma mente
brilhante limitada há anos por um corpo que definha pouco a pouco. Hawking
deveria ter morrido dois anos após o diagnóstico de sua doença
neurodegenerativa, mas já passou dos 70. Suas pesquisas teóricas o têm levado a
reflexões sobre a origem do Universo e (indiretamente) sobre Deus, embora O
negue. Será que o Criador está concedendo tempo ao cientista?
A Teoria de Tudo é realmente uma história tocante que faz
pensar. A história de Hawking e Jane faz pensar. É um drama sobre fé e ateísmo;
sobre amor e lutas – vencidas e perdidas. Um drama sobre a vida, suas alegrias
e tristezas. Mas, sobretudo, uma reflexão sobre a brevidade da existência
humana e a quase inutilidade de suas conquistas sem Deus. [MB]
Recentemente,
Jane fez alguns comentários interessantes publicados no jornal El Mundo e reproduzidas no site ACI Digital, a respeito de suas orações pelo cientista.
Confira a matéria:
“‘Por
favor, Senhor, que Stephen esteja vivo!’, foi a prece desesperada que Jane
Wilde expressou em voz baixa em 1985, quando lhe disseram por telefone que seu
marido, o agora famoso cientista Stephen Hawking, teria que ser desconectado do
respirador após entrar em coma por uma pneumonia virulenta.
“Jane
recorda esta cena em seu livro [A Teoria
de Tudo], onde conta que se aferrou a Deus nessa ocasião como em muitas
outras vezes. Esse Deus no qual ela sempre acreditou ‘para resistir e manter a
esperança’ frente ao ateísmo fervente de seu marido doente, que desprezava e
inclusive debochava de suas ‘superstições religiosas’, porque ‘a única deusa de
Stephen Hawking é e sempre foi a Física’.
“Em
entrevista com o jornal espanhol El Mundo,
a ex-esposa recorda que os médicos suíços lhe deram a entender que não havia
nada a fazer, e que se ela autorizasse, desconectariam o respirador artificial
para deixá-lo morrer com a mínima dor possível. ‘Desconectar o respirador era
impensável. Que final mais ignominioso para uma luta tão heroica pela vida!
Que negação de tudo pelo que eu também tinha lutado! Minha resposta foi rápida:
Stephen deve viver’, afirmou.
“Os
médicos se viram na obrigação de realizar uma traqueotomia que salvou a vida do
cientista mas também o deixou sem fala, obrigando-o a comunicar-se com a voz
robótica de seu sintetizador. Jane afirma que não se equivocou ao tomar essa
decisão que permitiu ao astrofísico, que [completou] 73 anos em 8 de janeiro e
segue escrevendo livros e dando conferências, seguir vivo.
“Jane
Wilde se casou com Stephen Hawking quando ele tinha 23 anos, então era um jovem
estudante de física que dois anos antes tinha sido diagnosticado com esclerose
lateral amiotrófica, uma enfermidade neurodegenerativa. Entretanto, isso não
desanimou Jane que decidiu dedicar [parte de] sua vida a cuidar do homem que em
pouco tempo se converteria em um dos mais famosos cientistas da história e com
quem teve três filhos.
“Na
entrevista ao diário espanhol, a primeira mulher do famoso astrofísico assegura
que conforme avançava a cruel enfermidade de seu marido, mais dependente dela
ele se tornava, ‘e mais duro era o desafio de banhá-lo, asseá-lo, vesti-lo e
dar de comer em colheradas ao brilhante cérebro com o corpo paralisado’, além
de criar seus três filhos. Diante dessa difícil situação, ela assegura na
entrevista que ‘a chave de sua resistência foi precisamente a fé nesse Deus
rechaçado pelas teorias cosmológicas do professor Hawking’.
“‘Eu
entendia as razões do ateísmo do Stephen, porque se à idade de 21 anos uma
pessoa é diagnosticada com uma enfermidade tão terrível, vai acreditar em um
Deus bom? Eu acredito que não’, admite Jane. ‘Entretanto, eu precisava da minha
fé, porque me deu o apoio e o consolo necessários para poder continuar. Sem
minha fé, não teria tido nada, salvo a ajuda de meus pais e de alguns amigos.
Mas, graças à fé, sempre acreditei que superaria todos os problemas que
surgissem.’
“Em
ocasiões anteriores, Stephen Hawking tinha declarado ao mesmo periódico que ‘o
milagre não é compatível com a ciência’. ‘Ele disse isso? Engraçado... porque
eu acredito que é um milagre que ele esteja vivo. É um milagre da ciência
médica, da determinação humana, são muitos milagres juntos. Para mim, é muito
difícil explicá-lo’, expressou Jane, surpresa pelas declarações do ex-marido. A
doença da qual sofre o astrofísico costuma dar uma estimativa de vida de um ou
dois anos aos pacientes.
“Jane
assegura [em seu livro] que enquanto Stephen ‘caçoava’ da religião, ela ‘necessitava
ferventemente acreditar que na vida havia algo mais que os meros dados da leis
da física e a luta cotidiana pela sobrevivência’, porque o ateísmo de seu
marido ‘não podia oferecer consolo, bem-estar nem esperança em relação à
condição humana’.”