quarta-feira, junho 25, 2014

A breve história de Hawking (e algumas revelações)

Com 15 anos, li Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking e fiquei ainda mais apaixonado por cosmologia e passei a admirar o cientista cuja mente tem viajado tão longe, mas que, ironicamente, está há décadas preso a uma cadeira de rodas, devido à esclerose lateral amiotrófica que tem limitado seus movimentos e foi diagnosticada quando ele tinha 21 anos de idade. Depois li O Universo Numa Casca de Nós, um primor gráfico, também dele. E quando soube que ele havia lançado Minha Breve História, não perdi tempo e comprei o livro. A história é breve, realmente. Tem apenas 140 páginas (na edição em português publicada pela editora Intrínseca). Mas nelas Hawking revela lances curiosos de sua infância e muita coisa dos bastidores do mundo da ciência. Continuo admirando o intelecto de Hawking, apesar de algumas “bobagens” que ele andou dizendo a respeito da fé e de outros assuntos (confira aqui, aqui e aqui). Aliás, lendo o livro, pude perceber nas entrelinhas o porquê da ligeira aversão do cientista pela religião (nada tão escancarado como acontece com Dawkins, por exemplo). 

Hawking nasceu em Oxford, na Inglaterra, no dia 8 de janeiro de 1942. Filho de um médico pesquisador e de uma secretária escocesa, ambos formados pela Universidade de Oxford, o menino desde cedo manifestou interesse por matemática (o que causou certo descontentamento no pai, que queria que ele também fosse médico) e pelas grandes questões da vida, como de onde viemos e para onde vamos. Com cerca de dez anos, esteve sob os cuidados de um tutor na Espanha que, mais interessado em escrever uma peça para o festival de Edimburgo do que em ensinar, obrigava o menino a ler capítulos da Bíblia todos os dias e a fazer uma redação a respeito, segundo ele, para lhe ensinar a beleza do idioma inglês. Hawking parece não ter gostado disso, até porque a versão que ele teve que ler foi a tradicional e antiquada King James. A falta de religião no lar e essa experiência negativa com a Bíblia não foram coisas positivas na vida dele, como veremos mais adiante.

Hawking fala de sua doença, de suas esposas, de seus três filhos e dois divórcios, e dedica mais espaço para discursar a respeito dos assuntos que sempre mais o atraíram: física e cosmologia. Um dos trechos mais reveladores e interessantes, para mim, está nas páginas 71 e 72. Nos anos 1960, a teoria do universo estacionário vinha apresentando problemas (e Hawking chega a agradecer por não ter sido aluno de um professor que defendia essa teoria) com crescentes evidências apontando para um universo em expansão. Hawking escreveu que “dois russos, Evgeny Lifshitz e Isaak Khalatnikov, alegaram ter provado que uma contração geral sem uma simetria exata sempre provocava um repique, com a densidade se mantendo finita. O resultado foi muito conveniente para o materialismo dialético marxista-leninista, uma vez que evitava indagações inconvenientes sobre a criação do Universo. Portanto, tornou-se um artigo de fé para os cientistas soviéticos”.

Isso mostra que a ciência não é um empreendimento isento de interesses escusos. Fico me perguntando, também, a quem interessam os supostos bilhões de anos atribuídos à vida neste planeta... A quem interessa a ideia de que vida pode surgir de não vida e que a complexidade pode surgir a partir do rudimentar, contrariando a própria ciência...  

Outros dois relatos que me chamaram a atenção estão nas páginas 91e 92. Certa ocasião, Hawking fez uma aposta com Kip Thorne. Caso a teoria de Kip fosse a vencedora, Hawking propôs dar-lhe a assinatura de uma revista pornográfica. Caso ele vencesse, Kip lhe daria a assinatura de outra revista pornográfica. Hawking conta: “Nos anos que se seguiram à aposta, a evidência em favor dos buracos negros ficou tão forte que capitulei e dei a Kip a assinatura da Penthouse, para grande desgosto da esposa dele.”

Hawking perdeu dois casamentos. Não deveria atrapalhar o dos outros...

Eu já sabia da moral duvidosa do cientista e que ele era (ou é, não sei) frequentador assíduo de um clube de swing (confira), mas o pior foi saber que ele acabou desperdiçando novamente uma oportunidade de conhecer o Criador do Universo. Eis o segundo relato que começa na página 91: “Enquanto estive na Califórnia, trabalhei com um aluno de pesquisa no Caltech chamado Don Page. Don tinha nascido e fora criado em uma aldeia do Alasca, onde seus pais eram professores da escola e, junto com ele, eram os únicos não esquimós da região. Ele era cristão evangélico e fez o possível para me converter quando, mais tarde, veio morar conosco em Cambridge. Don costumava ler histórias da Bíblia para mim durante o café da manhã, mas eu lhe disse que conhecia bem a Bíblia do tempo em que morava em Maiorca e porque meu pai costumava lê-la para mim. (Meu pai não era crente, mas achava que a Bíblia do rei James era culturalmente importante.)”

Não, Hawking não conhecia a Bíblia, apenas havia tido uma experiência de leitura forçada na infância que o marcou negativamente e levantou nele uma espécie de “blindagem” contra a Palavra de Deus. Que pena... Outra oportunidade perdida (aliás, Hawking também conhece alguma coisa do adventismo: confira).

No entanto, embora não dê importância à religião, o físico admite que a menção a Deus em seu livro Uma Breve História do Tempo ajudou a alavancar as vendas: “No estágio de provas, quase cortei a frase final do livro, que era que iríamos conhecer a mente de Deus. Se eu tivesse feito isso, as vendas talvez houvessem caído para a metade” (p. 110).

De qualquer forma, Minha Breve História acaba sendo uma lição de superação e de que nada deve nos impedir de sempre aprender mais e mais. O autor diz: “Tive e tenho uma vida completa e prazerosa. Acredito que pessoas com deficiência devem se concentrar nas coisas que a desvantagem não as impede de fazer, e não lamentar as que são incapazes de realizar. No meu caso, consegui fazer quase tudo o que queria” (p. 137).

Michelson Borges