sexta-feira, agosto 10, 2018

Instituição evoteísta faz ataque silencioso ao criacionismo


Este blog reconhece o esforço de todas as entidades e organizações que estão defendendo a fé cristã bíblica por meio de uma apologética consistente e racional. Reconhecemos também o grande trabalho que essas mesmas entidades têm feito nos campi seculares tão desafiadores. Precisamos mesmo mostrar a uma sociedade cada vez mais relativista e “desigrejada” que o cristianismo oferece, sim, respostas apropriadas para as grandes questões, e que a Bíblia pode e deve ser o fundamento de uma cosmovisão útil para o entendimento da realidade que nos rodeia. Autores como William Lane Craig, Ravi Zacharias, Alvin Plantinga, Lee Strobel e outros têm dado tremenda contribuição nesse sentido. Ocorre que alguns desses autores e algumas dessas entidades acabam “escorregando” aqui e acolá. Talvez a maior “pisada de bola” seja o ensino da evolução teísta e a alegorização dos primeiros capítulos de Gênesis. Já tratamos aqui no blog das sérias implicações desse tipo de ensino (confira aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). No texto a seguir, originalmente postado no blog “Raciocínio Cristão”, Everton Alves expressa educadamente sua preocupação com uma dessas entidades. [MB]

Recentemente, escrevi a matéria “O avanço do evolucionismo teísta no Brasil” para fins de esclarecimento quanto ao perigo real do intento de harmonizar o evolucionismo com a Bíblia e de que forma essa cosmovisão evoteísta acaba por minar todas as afirmações bíblicas. Ademais, abordei o avanço dessa proposta no Brasil, principalmente por meio da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2).

É válido mencionar, antes de adentrarmos o tema, que a ABC2 vem fazendo um bom trabalho quando o assunto é explorar as ciências humanas. Poucas organizações cristãs no Brasil têm focado o historicismo nessas áreas. A ABC², então, tem se tornado referência sobre esse problema grave para a fé cristã, uma vez que esse tema está relacionado a ideias que vão contra as crenças cristãs dentro da Academia. Portanto, para quem tem interesse em filosofia e epistemologia, a ABC² se torna destaque devido às suas contribuições para esses campos de estudo.

O problema, como o próprio título da matéria diz, é em relação à aceitação e divulgação do modelo evolucionista teísta, por meio de materiais bibliográficos e audiovisuais que a associação tem produzido que, por outro lado, deturpam claramente a Palavra de Deus. Há uma tendência crescente de infiltrar esse tema cada vez mais no meio protestante, uma vez que o catolicismo já o abraçou de vez. Ademais, as publicações da ABC2 têm cada vez mais sido usadas para atacar o criacionismo bíblico literal. É aí que mora o perigo!

Para fins didáticos, defino “evolucionismo teísta” como sendo um modelo conceitual que reconhece, até certo ponto, que Deus é o Criador e mantenedor do Universo e da vida. No entanto, rejeita a interpretação literal do livro de Gênesis quanto à origem da vida e declara que, embora a narrativa afirme a criação especial, ela não é exata, pois os cientistas “demonstraram” que os organismos surgiram por evolução. Por isso, Deus teria criado o ser humano utilizando-Se, para tanto, não da criação ex nihilo (do nada), mas, sim, dos mecanismos evolutivos a partir de animais inferiores.

Histórico de advertências sobre o trabalho da ABC2

Ao longo dos últimos anos, proponentes do criacionismo e do design inteligente vêm expondo, publicamente, a má teologia, a má filosofia e a má ciência presentes no modelo evoteísta. Até onde sei, temos, por exemplo, o caso do professor Christiano P. da Silva Neto, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, que em um breve artigo intitulado “Emergência: grave ameaça à fé cristã”, adverte os criacionistas a ficar vigilantes com essa proposta promovida pela ABC2:

“Durante os anos de 2016 e 2017 entramos em contato com mais de 20 igrejas que estavam recebendo a ABC2 para encontros de fins de semana. Nenhuma delas tinha conhecimento de que estavam abrigando uma organização evolucionista. Algumas, ao serem informadas a esse respeito, cancelaram a programação; outras preferiram manter o acordo que haviam firmado.

“Curiosamente, os livros utilizados pela organização, escritos por conhecidos evolucionistas teístas, foram publicados pela Editora Ultimato, de Viçosa, cujo fundador, hoje falecido, esteve na cerimônia de fundação de nossa associação, em 1979, parabenizando-nos pela realização.

“Não temos a menor ideia do que tem motivado essas pessoas para o trabalho que realizam. Sabemos, entretanto, que eles nos consideram, a nós criacionistas, como perniciosos para o desenvolvimento da fé cristã. Nós, porém, estamos convictos de que a ABPC é, no sentido teológico, um ministério, isto é, uma atividade para a qual fomos devidamente convocados pelo nosso Deus Criador. Através do trabalho que realizamos revelamos o fato de que a natureza e as Escrituras, na pureza de sua narrativa da criação, falam a mesma linguagem sobre nossas origens.”

De igual modo, em 2016, a Sociedade Criacionista Origem & Destino, por meio de seu atual presidente, Johannes Janzen, veio a público com uma matéria intitulada “A morte no mundo e a evolução teísta” criticar o evolucionismo teísta promovido pela ABC2 e o problema filosófico e teológico da entrada da morte em nosso planeta:

“Os escritos do BioLogos têm sido amplamente divulgados no Brasil, principalmente através da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. BioLogos, através de teólogos como Tim Keller, defende a evolução teísta. [...] A Bíblia ensina que a morte entrou no mundo através de Adão (Romanos 5:12). A evolução teísta precisa argumentar que Adão entrou no mundo através da morte. Na visão bíblica, Adão é o pai da morte. Na visão do evolucionismo teísta, a morte é o pai de Adão. A diferença é fortíssima. Essa monstruosidade, de acordo com a teologia do BioLogos, não possui conexão com o pecado humano. Criaturas fofas sempre morreram, muitas delas dolorosamente. E Deus chamou isso de ‘bom’.”

Por sua vez, em 2017, Enézio de Almeida filho, pioneiro e fundador do movimento do design inteligente no Brasil, também alertou publicamente seus leitores ao postar no blog Desafiando a Nomenklatura Científica uma matéria intitulada “Contra a Associação Brasileira Cristãos na Ciência, este livro critica o teísmo evolucionista científica, filosófica e teologicamente”.

Problemas filosóficos e científicos no modelo evolucionista teísta

Quanto ao problema da suposta “harmonização” da Bíblia com o modelo evolutivo, o astrofísico e matemático Eduardo Lütz, palestrante da Sociedade Criacionista Brasileira, afirma em entrevista ao blog Criacionismo:

“É uma tentativa de união de duas coisas incompatíveis. Isso só pode ser feito pela descaracterização de uma das componentes. A componente que tem sido descaracterizada é a Bíblia. Além disso, não se trata de tentar harmonizar Bíblia e Ciência por dois motivos. Primeiro, porque desautorizar afirmações bíblicas não pode fazer parte da harmonização de qualquer coisa com a Bíblia. Segundo, porque evolução darwiniana não é Ciência. É uma estrutura conceitual específica o suficiente para ser filosoficamente atraente e vaga o suficiente para que possamos encaixar nela virtualmente qualquer coisa e depois dizer que tudo é evidência de que a ideia estava certa. Não há uma formalização matemática fundamental e geral desse modelo conceitual, apenas pequenos modelos aqui e ali para tratar de temas periféricos. Ciência é uma caixa de ferramentas matemáticas das quais Darwin não fez uso para montar seu esquema filosófico.”

De fato, Lütz tem razão quando afirma que sempre, quando há uma tentativa de “harmonizar” a Bíblia com um falso tipo de ciência, uma das componentes é descaracterizada; na verdade, quando a proposta evolucionista teísta está no cerne dessa tentativa, curiosamente é a Bíblia que acaba sendo descaracterizada. Podemos ver essa situação sendo admitida em uma matéria no site da ABC2 intitulada “Novos livros da Série Ciência e Fé Cristã”, que trata de um dos seus livros recém-lançado:

“AlisterMcGrath mostra como a fé cristã se adaptou ao darwinismo e pergunta se há um lugar para o design tanto no mundo da ciência como no mundo da teologia.”

Diante disso, fico a pensar: Que audácia, né?

Problemas teológicos no modelo evolucionista teísta

Como vimos no texto anterior, essa proposta é perigosa, pois retira a autoridade e integridade bíblicas, desfaz todo o significado da redenção em Cristo e acaba por derrubar toda a mensagem bíblica posterior; em relação a isso, podemos comparar esse processo com aquela brincadeira de empilhar peças de dominó e empurrar apenas a primeira, o que faz com que todas as demais peças caiam por terra.

Um dos pilares da doutrina da salvação é a criação especial; conforme a interpretação literal que o texto exige, qualquer interpretação que não seja essa é forçar o texto a dizer o que ele não diz. Quer um exemplo? Por que Jesus teria que morrer numa cruz pela humanidade “caída” se essa humanidade, de fato, não tivesse caído em pecado como o texto diz? Esse Jesus teria morrido em vão, certo?

E quanto às menções no Novo Testamento que reiteram a historicidade dos primeiros onze capítulos de Gênesis? Jesus Cristo e Seus apóstolos referiram-se ao relato de Gênesis como factual e não como alegórico. Jesus fez menção aos eventos dos primeiros capítulos de Gênesis (Mateus 19:4 e 24:37) como fato e não alegoria. Além de Cristo, o próprio Deus Pai atestou a historicidade do livro de Gênesis (Êxodo 20:11).

O apóstolo Paulo nos diz que a morte surgiu por causa do pecado (e não que a morte fosse o resultado de erros e acertos ao longo de bilhões de anos por meio de seleção natural agindo sobre mutações aleatórias e sobrevivência do mais apto). Podemos ver isso em Romanos 5:12-21, onde nos é apresentada uma descrição literal da entrada do pecado e da morte no planeta por meio de Adão e a solução para esse problema em Cristo (ver também 1 Coríntios 15:21, 22, 45; 2 Coríntios 11:3; 1 Timóteo 2:13, 14).

Pedro também foi outro apóstolo que entendia os eventos descritos em Gênesis como sendo reais (2 Pedro 2:5 e 3:6). E, para finalizar, Judas, também disse o seguinte: “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre Suas santas miríades” (Judas 1:14).

O ataque silencioso, quase imperceptível contra o criacionismo

Em um artigo traduzido e publicado no site da ABC2, intitulado “O Deus das ondas gravitacionais”, a autora faz o seguinte comentário acerca dos criacionistas:

“Um criacionista acredita que a teoria da evolução é insidiosa porque, à sua maneira de pensar, se aceitarmos a ideia de que a vida surgiu a partir da ‘sopa primordial’ e evoluiu para os seres humanos, como podemos reivindicar que ela foi criada por um Criador divino? Esse tipo de raciocínio surge com tanta frequência que o apelidamos de o ‘Deus das lacunas’. Para os cristãos, o problema de raciocínio com o ‘Deus-das-lacunas’ é que ele coloca a ciência e a fé uma contra a outra.”

Nada mais longe da verdade. Isso porque criacionistas entendem, a partir de Romanos 1:19 e 20 e outras evidências escriturísticas, que tanto a Bíblia quanto o livro da natureza (e a verdadeira ciência) nunca entram em contradição, pelo contrário, ambos nos levam a conhecer mais sobre o Criador e Sua forma de agir neste mundo; por outro lado, a “ciência” a que ela está se referindo, um tipo falso de ciência fundamentado em pressupostos filosóficos naturalistas, baseado em um ínfimo agregado de dados frágeis e contestáveis, essa, sim, de fato, não é possível ser harmonizada com a Bíblia e, por conta disso, estará sempre em caminhos opostos à Palavra de Deus. Por outro lado, em vez de Deus-das-lacunas, poderíamos utilizar a mesma estratégia e rotular o modelo evolucionista como o “Darwin-das-lacunas” ou “milhões e milhões de anos-das-lacunas”, que é o que tem supostamente preenchido as contas acerca da origem da vida a partir da perspectiva evolutiva; porém, essa conta, na realidade, nunca fecha.

Outra matéria traduzida e publicada no site da ABC2 intitulada “Escritura, Ciência e Hermenêutica” vai além, parte para o ataque e diz o seguinte quanto à forma de interpretação literal dos criacionistas:

“Não é de se estranhar que invenções semiteológicas como o criacionismo científico são concebidas a partir desse tipo de ‘química’ teológica e frequentemente entram em contradição com o mundo acadêmico.”

Seria ingenuidade ou simplesmente desonestidade intelectual? Vale a pena lembrar-lhes, caso desconheçam realmente fatos básicos da História da Ciência, que o criacionismo científico aceito pelos pais da ciência foi o trampolim para a verdadeira revolução científica. (Para quem quiser saber mais, recomendo alguns artigos: aqui e aqui.)

Se não bastasse, em entrevista ao site da ABC2, Guilherme de Carvalho, vice-presidente da instituição, quando questionado se a teoria da evolução é incompatível com a cosmovisão cristã, afirmou:

“Eu mesmo me descrevo como criacionista evolucionário [...] e aceito a HNE [História Natural Evolucionária].”

Em seguida, quando questionado se a teoria da evolução não levaria à incredulidade e à apostasia, o vice-presidente da ABC2 não poupou palavras ao atacar o criacionismo:

“Temo que o ‘criacionismo-da-Terra-jovem’ seja não o salvador, mas o responsável pela alienação de muitos cientistas em relação à fé cristã, e de muitos jovens cristãos aspirantes à ciência. Certamente muitos falham em manter a ousadia cristã diante da oposição secular; mas para vários o problema é antes o sentimento de não poderem honestamente abandonar a ciência moderna em favor de um criacionismo científico com credenciais questionáveis. O fato é que a identificação desnecessária de uma fé genuína com o criacionismo científico torna a solução do dilema algo impossível para muitos jovens universitários. E assim eles ganham mais uma razão para abandonar a igreja. O que acontece, na minha opinião, é que o criacionismo científico torna-se involuntariamente aliado dos naturalistas e neoateístas, quando concorda com eles sobre a absoluta incompatibilidade entre a biologia evolucionária e a fé evangélica.”

No caso, percebo uma incoerência e uma manobra estranha e desesperada em virar o jogo contra os criacionistas a fim de conseguir espaço para o evoteísmo nas igrejas evangélicas. “Criacionismo com credenciais questionáveis”? De onde você tirou isso, senhor vice-presidente da ABC2? Qual é sua real intenção?

Bom, quanto à questão de o criacionismo ser aliado dos naturalistas e neoateístas, o fato é que a biologia evolucionária (ciência histórica baseada no naturalismo filosófico), conforme classificado pelo próprio biólogo evolutivo Ernst Mayr, ao contrário da biologia funcional/observacional, é caracterizada por cenários imaginários e narrativas hipotéticas nas quais a experimentação não ocorre. Portanto, neste caso específico, concordamos com o senhor vice-presidente da ABC2, ao ele afirmar que há uma absoluta incompatibilidade entre biologia evolucionária (histórica) e a fé evangélica.