Recebemos,
no início do ano de 2013, uma correspondência de um de nossos associados,
solicitando-nos uma avaliação do livro que estava sendo utilizado como
livro-texto na escola dominical de uma Igreja Batista da Convenção Batista
Brasileira (CBB), no Rio de Janeiro. O motivo dessa solicitação era o fato de
que, segundo a apreciação desse associado, o livro com título Pontos Salientes 2013 continha
argumentos evolucionistas como explicação de nossas origens. Nossa surpresa foi
ainda maior quando, ao recebermos o referido volume, nos demos conta de que ele
havia sido publicado pelo Departamento de Educação Religiosa da Convenção
Batista Brasileira, com indicação para uso no estudo bíblico dominical das
igrejas batistas de todo o país. Isso nos despertou para o fato de que essa
avaliação deveria ser mais completa, por envolver toda uma denominação
evangélica das mais respeitadas em nosso país. Esclarecendo
que o recebimento de solicitações desse tipo gera, para a ABPC, uma obrigação de proceder à avaliação solicitada
e de publicar o resultado desse esforço em seu site, resolvemos, primeiramente,
entrar em contato com a liderança da CBB buscando entender as raízes dessa situação
singular.
Veja aqui uma imagem da carta enviada, em 27/2/2013, ao presidente da CBB, Pr. Luiz
Roberto Silvado, carta esta que também foi enviada ao secretário geral da CBB,
Pr. Sócrates Souza de Oliveira; ao presidente da Ordem dos Pastores Batistas do
Brasil (OPBB), Pr. Estevam Fernandes da Silva; ao presidente da Associação
Nacional de Educandários Batistas (ANEB), Dr. Gézio Medrado; à presidente da Associação
dos Esducadores Cristãos Batistas do Brasil (AECBB), professora Tânia Oliveira
Araújo; e ao diretor geral da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Pr.
Lourenço Stelio Rega. Nossa intenção era a de promover um debate a portas
fechadas, antes que a ABPC tivesse que vir a público com sua avaliação acerca
do referido livro, exatamente para que nenhum ato de injustiça fosse por nós
cometido.
Infelizmente,
parece-nos que a maior parte dos destinatários de nossa carta não percebeu nossa
intenção, mantendo-se, praticamente, em silêncio. Apenas o Pr. Sócrates
Oliveira, secretário geral da CBB, prontificou-se para conversar sobre a
questão em pauta em nome da CBB. Após alguma troca de e-mails a respeito,
tivemos a oportunidade de nos encontrarmos aqui em Belo Horizonte, em 8/5/2013,
por ocasião de uma celebração da qual ele foi o pastor-conferencista.
Conversamos longamente na ocasião, sendo o resultado desse encontro esta carta, a nós enviada em 16/5/2013, em nome da CBB.
Entendemos,
do texto dessa carta, que a CBB evitou entrar no mérito da questão proposta.
Abaixo, um ligeiro comentário dos pontos principais dessa carta:
1.
O item (a) da carta encontra-se prejudicado porque, em nossa carta, explicamos
em detalhes as razões que nos moveram no contato que fizemos com a CBB.
2.
O item (b) afirma que a JUERP é uma editora regular cristã e, como tal,
servindo ao público evangélico em geral, necessariamente não esposa o conteúdo
de todos os livros que publica. Esse entendimento, em nossa opinião, fica
prejudicado pelo fato de a JUERP ser a editora da CBB e, portanto, comprometida
com o entendimento batista das Escrituras. A bem da verdade, esse parágrafo é
totalmente desnecessário, uma vez que a JUERP não figura como editora
responsável pela publicação do livro aqui em pauta.
3.
O item (c) afirma que uma consulta foi feita a vários líderes da denominação
batista e que todos foram de opinião que o referido livro não contraria os
princípios batistas conforme explicitados na Declaração Doutrinária da CBB.
Essa afirmação nos parece óbvia, uma vez que a Declaração Doutrinária dos
batistas foi promulgada antes do advento do evolucionismo, que se deu em 1859,
com a publicação do livro A Origem da
Espécies, de Charles Darwin.
O
mundo, porém, continua em movimento e é inconcebível que os batistas permaneçam
parados no tempo, posicionando-se somente em questões que incidam diretamente
no contexto de sua Declaração Doutrinária. A bem da verdade, esta não tem sido
a conduta da CBB que, em suas últimas reuniões, tem debatido o tema “ordenação
de mulheres ao pastorado”, tema este que também não pertence à Declaração
Doutrinária dos batistas.
Além
disso, não podemos considerar que o conteúdo do referido livro seja apenas o
pensamento teológico de seu autor, na medida em que, em sua capa e contracapa,
encontramos a recomendação da editora e, portanto, da CBB, para que o livro
seja utilizado, em consonância com a revista de mesmo nome, como manual de
estudo na escola dominical das igrejas batistas brasileiras.
Em
nosso encontro em Belo Horizonte, o Pr. Sócrates esclareceu, também, que a
JUERP estava passando por um processo de falência e que a publicação do livro
aqui em pauta era o resultado dessa época conturbada na vida da editora. Ele
também nos informou que a publicação de Pontos
Salientes 2013 havia sido descontinuada, isto é, que esse livro não mais
seria publicado e que a JUERP estava, gradualmente, sendo substituída pela
Convicção Editora.
É
bem verdade que a editora que tem estado presente nas reuniões da CBB tem sido
a Convicção Editora e que essa editora não comercializa o livro aqui referido.
Entretanto, não encontramos, em seu site, qualquer referência indicando ser essa
uma editora da CBB. Apesar de o endereço coincidir com endereços da CBB e de
suas organizações, em seu site, na seção “Quem Somos”, está escrito que “A
Convicção Editora é uma organização cristã com o objetivo de buscar a
excelência na produção de obras que ajudem a edificação da fé, esperança e
amor, de acordo com os padrões das Sagradas Escrituras, contribuindo para a
transformação de vidas”.
Enquanto
isso, a JUERP continua existindo como editora da CBB, com o estoque remanescente
do livro aqui em pauta sendo vendido em seu site, conforme se pode ver aqui; online em 21/4/2014).
Além
disso, no site da JUERP, encontramos uma última atualização, na página
reservada para contatos, e observamos que o nome do Pr. Sócrates Souza de
Oliveira figura como diretor da organização, conforme imagem abaixo extraída do
site da JUERP (online em 21/4/2014).
Assim,
a pergunta que surge é: Qual o propósito da CBB em manter à venda um livro que
nega a veracidade das Escrituras em suas primeiras páginas, indicando-o para
uso na escola dominical das igrejas batistas de todo o Brasil?
É
nossa expectativa que a liderança da CBB não tenha visto nossa incursão nesse
processo como uma ingerência indevida e não bem-vinda em seus assuntos. Essa
incursão se justifica a partir do fato de que não estamos isolados neste mundo
e que a ABPC é um dos braços do ministério criacionista no Brasil, com o dever
de zelar pelo correto entendimento das Escrituras no que diz respeito ao tema
origens. Esperávamos ser convidados para comparecer à reunião da CBB em 2013, e
até nos prontificamos a isso, para quaisquer esclarecimentos que se fizessem
necessários. O completo silêncio por parte da liderança da CBB a esse respeito,
acrescentado o fato de não ter havido um único pronunciamento em suas reuniões
de 2013, nos leva a entender que a CBB não deseja discutir o tema proposto em
um âmbito mais amplo. Só desconhecemos a razão dessa atitude.
Quanto
ao convite que nos foi feito para a produção de um texto de cunho criacionista
sobre as nossas origens, a ser publicado no formato revista para escola
dominical, nós até iniciamos o trabalho, mas tivemos que interrompê-lo em razão
da falta de algumas definições técnicas. O passo seguinte foi entrar em contato
com o Pr. Sócrates em busca dessas definições, o que fizemos diversas vezes por
e-mail sem, contudo, lograrmos chegar a uma conclusão. Para evitar maior
constrangimento pela nossa insistência, desistimos da empreitada.
Em
resumo: o livro é uma publicação do Departamento de Educação Religiosa da
Convenção Batista Brasileira, indicado para uso na Escola Bíblica Dominical. Em
suas primeiras páginas, traçando um paralelo entre conceitos evolucionistas e a
narrativa bíblica da criação, ele expõe claramente a visão evolucionista
teísta, segundo a qual Deus teria criado tudo quanto criou por meio do processo
da evolução, ao longo de bilhões de anos. Seu autor, Almir dos Santos Gonçalves
Júnior, era diretor-executivo da JUERP na época de sua publicação, a Junta de
Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, mas o livro
não traz o selo da JUERP e sim o da Convenção Batista Brasileira.
Clique aqui para
acessar essas páginas.
Para
a ABPC, foi uma surpresa a existência de um livro com o conteúdo e indicação
aqui referidos e publicado sob os auspícios da Convenção Batista Brasileira,
pelas razões que expomos a seguir:
1.
É perfeitamente normal, em organizações como a CBB, divergências entre seus
membros, por exemplo, que uns sejam criacionistas, enquanto outros esposem o
evolucionismo teísta e outros, ainda, até nem se posicionem em relação a essa
questão. Via de regra, tais divergências são resolvidas em reuniões em que os
respectivos temas são extensiva e exaustivamente discutidos. Não temos notícia,
entretanto, de que a questão relativa às nossas origens tenha sido discutida
pela CBB e que o consenso tenha sido o ensinamento do evolucionismo teísta, o
que justificaria a publicação do livro aqui referido.
2.
A polêmica sobre as nossas origens não é estranha à CBB, que conhece bem de
perto a ação criacionista empreendida pela ABPC em nosso país. A ABPC já
apresentou o seu projeto em várias reuniões da CBB e da Ordem dos Pastores
Batistas do Estado de São Paulo. Já proferimos séries de palestras nos colégios
batistas, nas faculdades teológicas batistas e nos principais seminários
batistas ao longo de nossos 34 anos de existência. Em todos esses anos, nunca
foi do nosso conhecimento que os batistas, aqui ou em qualquer outro lugar no
mundo, tivessem qualquer aproximação filosófica com o evolucionismo teísta,
razão pela qual queremos crer que a publicação do referido livro se deva mais a
um descuido editorial.
3.
Desde que aportaram no Brasil em meados do século XIX, os batistas têm
desempenhado papel preponderante na difusão do evangelho, na construção de uma
teologia sadia, baseada em princípios bíblicos e não haveria, agora, nenhuma
razão para um distanciamento dessa herança. A própria ABPC é fruto desse
esforço, na medida em que seu fundador é um batista, o Prof. Christiano P. da
Silva Neto, convertido na década de 50 na Igreja Batista de Vila Mariana e
batizado pelo Pr. Rubens Lopes, de saudosa memória.
4.
Hoje, não faz o menor sentido esposar o evolucionismo teísta em um momento em
que o criacionismo experimenta expressivo crescimento em todas as partes do
mundo. Aqui no Brasil, além da contribuição que a ABPC tem dado ao longo de
seus 35 anos de existência, a Igreja Presbiteriana do Brasil também tem
contribuído expressivamente através de sua instituição educacional, a
Universidade Mackenzie, promovendo congressos, publicando livros, etc. Também a
Sociedade Criacionista Brasileira (SCB) tem
desenvolvido excelente trabalho com vários títulos publicados em português,
além de congressos realizados em várias partes do país. A Assembleia de Deus,
através de sua editora CPAD, também marcou presença, publicando o livro Criacionismo – Verdade ou Mito?, de Ken
Ham. [Faltou apenas mencionar a Casa Publicadora Brasileira, que há mais de cem anos vem publicando literatura e livros
didáticos criacionistas em nosso país]. Outros palestrantes têm se mobilizado
de modo independente, e aqui destacamos o físico Adauto Lourenço, que publicou
um livro extraordinário, com título Como
Tudo Começou, publicado pela Editora Fiel.
5.
Não sabemos quem foram os líderes da denominação batista mencionados na carta
do Pr. Sócrates que, convocados para uma apreciação do livro Pontos Salientes 2013, julgaram-no sem
maiores problemas em relação à nossa fé, mas, por certo, tratava-se de um grupo
constituído de pessoas que ainda não refletiram sobre a importância do
criacionismo. Admitir o evolucionismo, mesmo teísta, é macular a veracidade das
Escrituras logo em suas primeiras páginas, sendo essa tese de fácil defesa.
Afinal, se o homem surgiu na Terra através de um processo de evolução, seja ela
teísta ou ateísta, o fez em grupo, ao longo de milhões de anos. Nesse caso, não
teria havido um primeiro homem, mas um grupo que, de algum modo, se
diferenciava de seus ancestrais, a caminho de se tornarem seres humanos. Assim,
a história que as Escrituras nos contam, do primeiro casal de seres humanos, do
primeiro pecado que teria contaminado a humanidade, seria apenas fantasia da
imaginação de homens que pretenderam, em nome de Deus, explicar a nossa
realidade. Também a figura de Jesus fica manchada, uma vez que Ele se referiu à
criação e ao primeiro casal de seres humanos como história real e, assim, dificilmente
poderíamos considerá-Lo quem Ele dizia que era: o Filho de Deus que veio aqui para
nos resgatar dos nossos pecados.
Para
concluir: não é compreensível que uma denominação evangélica das mais
respeitadas, como a Igreja Batista, permaneça sem se posicionar em relação ao
tema origens, abrindo espaço para filosofias seculares como o evolucionismo,
que melhor se caracteriza como pseudociência. Isso é navegar na contramão da
História e teria sua razão de ser se ainda estivéssemos em meados do século
passado, quando não havia elementos concretos para esse julgamento. Hoje, o
ministério criacionista tem nos brindado com o conhecimento científico capaz de
nos mostrar que só a Criação, conforme descrita nas Escrituras, explica
plenamente a nossa realidade.
Também
não estamos, com esta avaliação, questionando as boas intenções e a sinceridade
do autor do livro em questão e que, neste episódio, era também o professor da
classe da escola dominical a que nos referimos no início deste documento.
Tampouco colocamos qualquer sombra de dúvida sobre sua realidade espiritual,
tendo em vista sua adesão ao evolucionismo teísta. Uma pessoa pode,
perfeitamente, ser cristã e, por estar equivocada quanto às nossas origens, ser
também evolucionista. O problema maior reside no fato de que as pessoas por ela
influenciadas podem não dar o mesmo direcionamento às suas convicções.
Concordamos
com o Pr. Sócrates quando ele menciona a nossa responsabilidade individual
diante de Deus, a necessidade de absoluta liberdade de consciência, o cultuar,
enfim, dos valores democráticos no seio da denominação. O que muitos não têm
percebido é que debater o tema origens é também uma necessidade, considerada a
sua importância e o modo como ele incide na questão da veracidade das
Escrituras.
Neste
episódio, o compromisso da ABPC se encerra com o presente documento. Afinal,
não temos como dar continuidade a esta ação fora de nosso âmbito organizacional
e o máximo que podemos fazer é nos colocarmos ao inteiro dispor da CBB para
participar de suas reuniões em que o tema origens venha a ser debatido. É nosso
parecer, portanto, que o tema origens deva ser objeto de debate por parte da
CBB com o objetivo de alcançarmos um consenso de como se posicionam os batistas
em nosso país a esse respeito e qual a orientação que deve emanar de seu foro
maior, a Convenção Batista Brasileira.
(Christiano P. da Silva
Neto, Impacto)
Nota: Li com tristeza a carta acima, que me foi enviada pelo próprio autor, o irmão Christiano. Num momento em que todos os que creem na Revelação dada por Deus por meio das Escrituras Sagradas deveriam usar todos os recursos à mão para defender o criacionismo bíblico, à luz de Apocalipse 14:6 e 7, ver materiais como esse da CBB sendo publicados, realmente traz desgosto. O ministério criacionista da ABPC, liderada pelo irmão Christiano, tem realizado por mais de três décadas um trabalho consistente de divulgação do criacionismo em nosso país. Eu mesmo fui beneficiado com a leitura de seus livros, quando de minha mudança do evolucionismo para o criacionismo. Admiro a postura corajosa desse irmão batista e espero que a manifestação dele promova uma profunda reflexão por parte da liderança da CBB. [MB]