O estrabismo (vesgueira) ocorre quando um olho fica mal alinhado impedindo que os dois olhos sejam direcionados para o mesmo objeto ao mesmo tempo. Normalmente, ambos os olhos se movem juntos, de maneira que o cérebro produz uma única imagem tridimensional daquilo que os dois olhos veem. No caso do vesgo, as imagens recebidas pelo cérebro são tão diferentes que, para evitar a diplopia (visão dupla), o cérebro pode eliminar a imagem do olho desviado. Isso faz com que a visão desse olho seja gradualmente perdida, perdendo-se também a visão de profundidade.
Com todo respeito aos portadores desse defeito visual, algumas publicações brasileiras têm se mostrado igualmente vesgas. Como era de se esperar, a matéria de capa da revista Veja da semana passada (sobre Charles Darwin) foi o assunto mais comentado, com 236 e-mails/cartas. Em segundo lugar veio a matéria sobre o PMDB, com 16 manifestações. O polêmico Diogo Mainardi ficou em terceiro, com 11.
Mais uma vez, a revista de maior circulação nacional mostrou sua visão sem profundidade ao publicar apenas quatro mensagens de leitores – todos darwinistas. São elas:
“A reportagem ‘A Darwin o que é de Darwin...’ (11 de fevereiro) é de uma didática excepcional. Por influência da religião, fui ‘acordar’ e conhecer Darwin apenas no colegial. Hoje, analiso e vejo que é muito triste privar uma criança do conhecimento de um mundo tão fascinante como o de Darwin, muito mais fascinante que as histórias da Bíblia – que não fornecem respostas lógicas para o desenvolvimento da vida no planeta” (Eduardo Diaz, Valinhos, SP).
“Sou monge beneditino, acredito em Deus, acredito na Igreja – e também em Charles Darwin. Qual o problema? As Escrituras não são, nem querem ser, um livro descritivo do funcionamento da natureza. A Bíblia não é um manual de ciências, e é um grande erro lê-la desse modo. No livro do Gênesis, a narrativa da Criação (por sinal duas, escritas com séculos de diferença) é apenas uma reflexão sobre a condição espiritual humana, dentro do quadro de uma introdução teológica à Aliança entre Deus e seu Povo. Os autores não tinham a mínima intenção de ‘informar’ os leitores a respeito de como o homem apareceu no mundo, mas do porquê da Aliança e da necessidade da redenção. A ciência, por sua vez, nada tem a dizer a respeito de Deus, nem a favor nem contra. Um bom cientista pode ser mau teólogo e, apesar disso, fazer boa ciência; por outro lado, um bom teólogo não pode contradizer a ciência, sob pena de fazer péssima teologia. A ciência e a fé não se opõem porque respondem a perguntas diferentes” (Dom Mateus de Salles Penteado, Ponta Grossa, PR).
“Eu sou evolucionista, mas creio firmemente que antes de todas as explosões da matéria, antes dos Big Bangs, que não sei com que calendário os cientistas fixam em bilhões de anos atrás, antes de tudo, no princípio de tudo, existe o Ser infinitamente poderoso, infinitamente sábio e infinitamente santo, que nós, cristãos, chamamos Deus, autor do universo” (Dom Edvaldo G. Amaral, Arcebispo emérito de Maceió, Recife, PE).
“Quando Albert Einstein afirmou que a ciência sem a religião é manca e a religião sem a ciência é cega, vaticinou que, em alguns aspectos, criacionismo e evolucionismo podem caminhar de mãos dadas” (Edvaldo Araújo, Salvador, BA).
Sem dúvida, e-mails convenientemente escolhidos, como aconteceu na semana passada.
Se Veja dá esse tratamento ao assunto das origens, o que me garante que é honesta quando trata de outros temas? Cancelei minha assinatura faz tempo. E não me arrependo.