quarta-feira, novembro 11, 2009

Adúlteros – é como a evolução nos torna

Dois artigos apresentados no mesmo dia no LiveScience.com são um estudo de contrastes. Um tem como título “Sobrevivendo à infidelidade – O que as esposas fazem quando os homens traem”. O outro, “O ser humano foi projetado para ser monogâmico?”. O fio que os interliga é a evolução. O primeiro artigo admite o sofrimento, a vergonha e o senso de traição que as esposas sentem ao serem traídas pelo marido, bem como os sentimentos de raiva e desonra que os maridos sentem com a infidelidade da esposa. “Muitos cônjuges jamais se recuperam por completo de seus sentimentos de traição e raiva, ainda que continuem juntos”, disse um conselheiro matrimonial. Os homens e as mulheres diferem em suas reações gerais, mas “as reações típicas de ambos os sexos incluem se tornarem irados, tristes, humilhados e deprimidos”. O artigo não forneceu qualquer explicação ou aconselhamento, a não ser métodos estóicos de competição, sugerindo que a evolução tornou as pessoas assim.

Tais diferenças podem ter raízes evolucionistas profundas. “Com base na perspectiva masculina, a infidelidade sexual historicamente colocou em risco sua certeza de paternidade – ‘o bebê da mamãe ou talvez do papai’”, disse Buss [David Buss é professor de Psicologia na Universidade do Texas, em Austin]. O ciúme sexual masculino é, entre outros, uma adaptação desenvolvida para solucionar o problema genético da traição que, no contexto de sua declaração, foi projetada pela evolução. Em nenhum lugar, o artigo sugeriu uma explicação não-evolucionista para esse problema de infidelidade – nem explicou que, se a evolução causou isso, por que não a colocou longe do sofrimento.

O segundo artigo foi além, propondo abertamente a ideia de que o ser humano não deveria ficar obcecado com a fidelidade marital (monogamia), pois os outros animais são promíscuos, ainda que felizmente (veja a informação adicional, “Animal sex no stinking rules” [O sexo animal sem regras sujas]. O artigo afirma que “apenas 3 ou 5% das quase cinco mil espécies de mamíferos (incluindo os humanos) formam laços duradouros e monógamos com os mais notórios sendo os castores, lobos e alguns morcegos”. Isso implica que os cônjuges fiéis deveriam dançar conforme a música, ou pelo menos se livrar de seus bloqueios mentais quanto à promiscuidade. Então, qual é a resposta para as suas questões? Os humanos são feitos para serem monógamos? Não procure aqui por qualquer bússola moral universal. A fidelidade, se valer alguma coisa, é também uma estratégia evolucionista. Psicólogos evolucionistas já sugeriram que os homens são mais suscetíveis a terem sexo extraconjugal; parcialmente, devido à necessidade masculina de “espalhar os genes” ao disseminarem esperma. Tanto mulheres como homens, dizem esses cientistas, tentam melhorar seu progresso evolucionista ao procurarem parceiros de alta qualidade, embora o façam de maneiras diferentes.

A parceria comprometida entre um homem e uma mulher evoluídos, dizem alguns, é para o bem-estar dos filhos. “As espécies humanas evoluíram para formar compromissos entre homens e mulheres, com o propósito de cuidar de sua prole. Portanto, isso é um laço”, disse Jane Lancaster, antropóloga evolucionista da Universidade do Novo México (EUA). “No entanto, esse laço pode se enquadrar em todo tipo de padrões de casamento: poligamia, pais e mães solteiros, monogamia.” O que quer que funcione.

O artigo encerra declarando que a monogamia não é algo natural – é uma regra social, não biológica. “Não acho que sejamos animais monogâmicos”, disse Pepper Schwartz, professora de Sociologia da Universidade de Washington em Seattle. Ela acrescentou que a “monogamia foi criada para haver ordem e investimento, mas não necessariamente porque seja `natural’”. Essa menção é parte de uma série do LiveScience.com chamada Life’s Little Misteries [Os pequenos mistérios da vida].

Conforme a visão difundida nesses dois artigos, os humanos adultos são presos a um verdadeiro inferno, controlados por desejos primitivos, vindos de algum passado animal nunca visto, destinados a causar mágoas, raiva, dor, tristeza, angústia, desconfiança, indignação, humilhação, até mesmo fúria.

(Tradução: Elizandra Milene da Rocha)