domingo, novembro 15, 2009

Projeto Atlanta: Colômbia (parte 3)

Chegar a Medellin foi um sonho. Ver que todos os prognósticos sobre a impossibilidade de alcançar essa cidade pedalando falharam, foi simplesmente magnífico. Em Medellin temos uma importante Clínica Médica e a Universidade Nacional Adventista da Colômbia (Unac). Na Clínica, conheci o Dr. Miguel Moreno, o diretor, que me prestou tremendo auxílio. Apresentou-me a pastores da universidade os quais me abriram espaço para testemunhar ao corpo de alunos desse centro de ensino. Eles disseram ser “impossível” o que estou fazendo. Alguns falaram ser difícil crer em tudo o que já fiz e me proponho a realizar. Esta maratona esportiva e missionária até Atlanta é, segundo a opinião de muitos alunos e professores, completamente inconcebível. Algo meio “louco” de se realizar.

Por que não ir de moto, de avião, de carro, de navio? São tantas as maneiras que se tem para viajar aos Estados Unidos e resolvo ir de bicicleta?! Apenas aqueles que são mais curiosos e tomam tempo para me perguntar e ouvir a razão por que estou viajando assim, é que acabam por entender e mesmo se motivam a apoiar de alguma forma.

A realidade é que a fé que me sustenta a manter esse tipo de ministério assusta alguns. Até a mim mesmo. Após planejar e iniciar uma viagem, mesmo quando todas as promessas de patrocínio falham, como tem ocorrido até agora, eu prossigo até concluí-la, tão-somente movido por uma força que não vem de mim. Essa é a razão por que tenho avançando em meio às guerrilhas da Colômbia, mantendo no coração uma fé quase infantil de que Deus me guardará.

De tanto falar assim, fui advertido por um pastor aqui da universidade que me disse para não confundir confiança em Deus com presunção. Ele assim se expressou: “Uma coisa é você crer e confiar na proteção de Deus. Outra é você se lançar contra o perigo na ‘presunção’ de que Deus tem obrigação de salvá-lo. Você precisa tomar um avião aqui de Medellin até o Panamá. Não continue mais cometendo esse erro de viajar sozinho de bicicleta por essas estradas desertas. Caso não possa tomar um avião, vá de ônibus, que não deixa de ser arriscado, porem o risco é menor.”

Lógico que o nobre pastor falava pensando que eu dispunha de patrocínio e recursos para escolher em que viajar.

Depois outro tomou a palavra e disse: “Não haverá problema. Se ele crê que Deus o protegerá em qualquer situação, isso de um modo ou de outro acontecerá. Vamos deixar que avance e ver no que vai dar. O que podemos fazer é orar. Eu mesmo tive que negociar com as Farcs por seis meses a libertação de um pastor nosso sequestrado por essa gente. O coitado voltou cheio de traumas e até hoje não vive bem. Há muita gente boa nas mãos desses homens, vivendo sob condições terríveis. Alguns há décadas que não veem suas famílias.”

Imagine como ficou minha cabeça após ouvir essas opiniões. Elas me serviam para duas coisas: (1) colocar-me medo e conscientizar-me do perigo que corro; (2) por não poder pagar avião ou ônibus, avançar esperando um milagre e, por ele, chegar mais perto de Deus.

Assim, após os compromissos missionários na Universidade Nacional Adventista da Colômbia, saí escoltado pelo carro de um pastor por uns 25 km, até chegarmos na entrada de um túnel. Aí paramos e oramos. O pastor regressou com sua família a Medellin e eu prossegui rumo à “boca do leão”.

A primeira cidade a alcançar seria Santa Fé. Por uma graça, cheguei em paz. A segunda, Dabeiba, mais de 100 km à frente, também alcancei sem problemas. A terceira, Chigorodo, também com outros 120 km a percorrer.

Foi quando saí de Dabeiba, rumo a Chigorodo, que não me senti muito bem. Havia um deserto grande entre os povoados. Poucos carros passando. Várias motos e selva de todo lado. Eu estava exatamente passando na região onde um pastor nosso foi levado pela guerrilha. Realmente minha situação estava preocupante. Eram quase duas da tarde quando me encontrava em um trecho bem isolado, cercado de floresta densa por toda parte. Algo parecido com a selva amazônica ou a mata atlântica. Uma região cheia de morros e planaltos, bem inacessível. Ótima para se manter qualquer esconderijo.

Foi nessa parte da estrada entre Dabeiba e Chigorodo que, olhando à frente, a uns 200 metros, percebi um grupo de quatro homens. Eles estavam na entrada que dava acesso a uma ponte. Exato lugar por onde eu tinha que passar. Minhas batidas do coração aumentaram em segundos. Senti o perigo à frente. Não havia para onde correr porque já tinham me visto. No entanto, quando estava a uns 50 metros, passou uma moto por mim. Logo o piloto precisou diminuir a velocidade para subir na ponte. Quando fez isso, dois dos rapazes o seguram e ele foi obrigado a descer. Observei dinheiro sendo passado entre eles. Pareciam estar cobrando um pedágio. Aproveitando o envolvimento daqueles homens com o motoqueiro, busquei passar pelo outro extremo da ponte. Nesse instante, ao levantar os olhos à frente, vi dois soldados do exército colombiano descendo para onde estávamos. Eles chegaram no momento exato de me permitir passar incólume pela ponte. Cumprimentei-os com um aceno de cabeça e arranquei com a “gorducha” em velocidade máxima e sem olhar para trás.

Quilômetros depois, após recuperar-me do susto é que fui pensar nas consequências de ser identificado como estrangeiro nesta região da Colômbia.

Estou certo de que foi a mão de Deus que me guiou em paz até este momento por estas terras tão lindas e perigosas. Aqui, ao mesmo tempo em que as belezas nos fascinam, os perigos nos lapidam a alma. Com certeza, há um grande espaço vazio no Céu, porque os anjos de Deus estão aqui. Por isso prossigo e no fim da tarde chego a Chigorodo. Falta-me Apartado e Turbo, as duas ultimas cidade que ainda têm estradas para seguir viajando neste país.

Depois, precisarei cruzar o estreito de Darien e viajar por barco pelas águas do mar azul-turquesa do Caribe para alcançar finalmente a primeira cidade do Panamá. Sim, isso é o que veremos na parte 4 deste relato.

Bom, será que você já pode perceber por que digo que Deus está aqui? Se entendeu, venha comigo, pois Atlanta ainda está muito longe e teremos bons momentos juntos.

Um abraço e até breve.

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

Nota: O Atleta da Fé, George Silva, está enfrentando grandes dificuldades financeiras para prosseguir nessa missão esportivo-evangelística e precisa urgentemente fazer uma revisão na bicicleta. Ele não me pediu isso, mas eu convido: se você puder colaborar de alguma maneira, escreva para ele: georgepalestras@yahoo.com.br