Quase vinte anos atrás, fui convidado para dar estudos bíblicos às sextas-feiras à noite no colégio em que eu mesmo havia feito o curso técnico de química, no ensino médio, em Criciúma, SC. Na época, fazia faculdade em Florianópolis, a quase 200 km de distância, mas viajava todos os fins de semana para ensinar a Bíblia para centenas de alunos – não podia perder essa tremenda oportunidade de partilhar minha fé recentemente abraçada. Com o tempo, me tornei amigo de um jovem de longos cabelos escuros e escorridos. O nome dele é Willian e ele tomava o mesmo ônibus que eu, já que precisava passar perto da casa dos meus pais para ir para a casa dele. Isso permitia que continuássemos a conversa iniciada na sala de aula. Frequentemente, o Willian ficava em minha casa várias horas noite adentro. Nessas ocasiões, estudávamos a Bíblia juntos e orávamos. (A foto acima foi tirada em Joinville, em 1994.)
Willian cortou o cabelo, tornou-se estudioso da Bíblia, leitor voraz de livros religiosos, tomou a decisão pelo batismo e passou a me acompanhar em atividades missionárias (procurei fazer com ele o que o Vanderlei fez comigo). Infelizmente, como eu precisava ficar cada vez mais tempo em Florianópolis, não pude me dedicar tanto ao meu amigo recém-converso. Por esse e outros motivos, aos poucos ele começou a se afastar da igreja. Lembro-me de uma ocasião especialmente triste, quando o Willian foi até a casa dos meus pais para me dizer que não era feliz. E comparou: “Sinto-me como uma formiga fora do formigueiro.” Ele queria viver como os outros adventistas, mas dizia que não conseguia. E como conhecia a vontade de Deus e o destino deste mundo (os bastidores do grande conflito), também não conseguia mais ser feliz como achava que era antes de conhecer a Jesus e a verdade revelada por Ele.
Naquela noite nos abraçamos e choramos. Eu disse ao Willian que havia dado a ele a “coisa” mais preciosa que eu tinha: Jesus Cristo. Disse também que eu não queria que ele se sentisse daquele jeito. Que eu era feliz e que ele também poderia ser, se fizesse de Jesus seu melhor amigo. Mas o Willian acabou mesmo deixando a igreja e se afastando de Deus.
Os anos se passaram. Formei-me, casei-me e mudei para Tatuí, SP. O Willian também casou e se tornou advogado. Praticamente perdi o contato com ele, excetuando um ou outro encontro casual, quando minha esposa, filhas e eu estávamos de férias em Criciúma. Mas nesse tempo todo nunca deixei de orar por ele e convidá-lo a voltar, sempre que podia. Eu sabia que a semente plantada no coração do meu amigo era (e é) forte, e que o solo era (e é) dos melhores.
Hoje recebi este e-mail do Willian e tive que segurar as lágrimas:
“Olá, Michelson, como vai o amigo?
“Sou eu, o Willian. Gostaria de te agradecer por você me enviar esses e-mails, realmente são muito interessantes. Nesse fim de semana estive na Igreja Adventista Central, aqui em Criciúma. Foi muito bom. Quem pregou foi um pastor de Florianópolis.* Um grande sermão. Me senti novamente tocado por Deus. À tarde estive no festival de corais adventistas, realizado no Teatro Elias Angeloni, ali na Prefeitura, lembra? Minha esposa foi comigo.
“Na verdade, como você mesmo sabe, por um longo tempo estive afastado da Igreja e de Deus. Mas, agora, voltei a fazer um estudo bíblico por meio de um convite que recebi de um cliente meu aqui do escritório. Como eu já conhecia a mensagem adventista, aceitei prontamente. Quem está me dando o estudo é o pastor Arildo, um grande sujeito, um cara muito inspirado. Nos últimos dias, Ellen White já dizia que o Espírito Santo desceria sobre o mundo e através da chuva serôdia traria muitas pessoas novamente a Jesus. Talvez Deus esteja me dando mais uma chance, e espero desta vez não perdê-la.
“Acredito que minha esposa também seja uma pessoa sincera, e que Deus com o tempo vai tocar em seu coração. Com muita oração e com meu próprio testemunho, espero que um dia ela também aceite Jesus. As dificuldades serão muitas, mas pra Deus nada é impossível.
“Um grande abraço de seu amigo Willian.”
Deus seja louvado por nos dar essas surpresas aqui na Terra! Fico imaginando quantas outras teremos no Céu!
No fim de dezembro, vou a Criciúma. Quero dar outro abraço no Willian. Mas, dessa vez, as lágrimas não serão de tristeza...
Michelson Borges
(*) O pastor que pregou lá em Criciúma foi o Charles Rampanelli, meu colega de mestrado e servo de Deus.