“Não são revoluções e motins que limpam a estrada para dias novos e melhores, mas uma alma inspirada e em chamas.” Boris Pasternak
Muitos estudos têm sido realizados para descobrir como e por que algumas pessoas reagem com otimismo e perseverança em momentos críticos da vida. Para analisar esse fenômeno, partiremos de um conceito oriundo da física, o termo resiliência, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais de acumular energia quando submetidos a estresse, sem ocorrer ruptura. O cientista inglês Thomas Young foi um dos primeiros a usar o termo, em 1807, em experiências para estudar a relação entre a tensão e a deformação de barras metálicas. Chegou à conclusão de que resiliência é, portanto, a capacidade de um material voltar ao seu estado natural depois de ter sofrido tensão. A psicologia pegou o termo emprestado da física, tentando definir o que acontece com algumas pessoas ao lidarem com problemas, superando obstáculos ou resistindo à tensão em situações adversas. Para alguns estudiosos, e eu me identifico com essa posição, resiliência em psicologia é a habilidade de superação, o que não significa sair ileso de uma crise, pois o sofrimento deixa suas marcas, mesmo que não sejam aparentes. Portanto, pessoas resilientes são aquelas que sofrem, mas conseguem adaptação em momentos complicados, tensos e sem perspectiva de melhores condições.
Em qualquer aspecto da vida, pessoas com estrutura emocional sólida conseguem melhores resultados. As emoções bem conduzidas são componentes importantes e fundamentais para a qualidade de vida. Um dos fatores importantes é desenvolver uma visão lúcida do que acontece conosco e ao nosso redor. A autopercepção é definida como o conhecimento de si próprio, reconhecimento e aceitação de sua história até nos pontos mais traumáticos. Esse é o princípio da maturidade e da boa saúde emocional, pois é comum querermos esquecer momentos que nos trouxeram infelicidade; relembrar às vezes traz más recordações, mas é imprescindível reconhecer essa dor e lidar com ela de maneira corajosa.
O segundo ponto fundamental é o autocontrole: capacidade de equilibrar as próprias emoções. Em outras palavras, é o controle dos pensamentos, algo que nunca podemos perder de vista, pois isso influencia todos os outros mecanismos da mente. Se você conseguir se conhecer bem, será muito mais fácil controlar ou prever um risco de descontrole emocional. Na prática, é importante nunca se colocar na posição de vítima, sempre manter a calma e relembrar todas as situações passadas que foram resolvidas mesmo quando não se tinha uma solução aparente.
E, por fim, mas não menos importante, a automotivação: capacidade de motivar a si mesmo a realizar tarefas e ações necessárias para alcançar seus objetivos, independentemente das circunstâncias. É bom ter ao nosso redor pessoas que nos motivem, mas não podemos depender desse estímulo para tomar nossas decisões. Automotivação é um compromisso primeiramente com Deus, pois Ele já nos deixou promessas de vitória, e em segundo lugar consigo mesmo, porque certas coisas ninguém poderá fazer por você. O propósito de vida é o que nos dá a automotivação; manter o foco faz com que permaneçamos em nosso caminho, pois nos lembraremos sempre de aonde queremos chegar.
Não é fácil desenvolver todos esses mecanismos no dia a dia, quando tudo acontece tão rapidamente. Mas se os três princípios forem lembrados a cada situação difícil, com certeza em pouco tempo se tornará um hábito pensar dessa maneira. Nosso Deus é um Deus de ordem e coerência, por isso é necessário buscar padrões de organização para nossa vida, para não nos desestabilizarmos no primeiro problema. Para ser aquele que demonstrará fé e perseverança será necessário desenvolver um sistema de crenças no qual deveremos atribuir sentido à adversidade (para que estou passando por isso?), buscando o olhar positivo na provação.
A Bíblia nos relata histórias de pessoas que conseguiram resultados surpreendentes por confiar em Deus. Um exemplo é José (Gn 37), alguém que teve a vida repleta de provações, cresceu em meio à adversidade, e se tornou virtuoso e sábio mesmo recebendo influências ruins. Ele não ficou amargurado e nem se ressentiu contra Deus, pelo contrário, buscou um tipo de fé diferente que o transformou em uma bênção para todos os que conviviam com ele. A história de José nos mostra que Deus nos dá capacidade e força para poder aguentar o sofrimento, e que sempre há um propósito – a dor nunca é desnecessária para Seus filhos.
Em meio às turbulências da vida, temos a oportunidade de nos mostrar firmes, pois estamos sendo observados na maneira como nos conduzimos. Que tipo de exemplo você quer deixar? José em seu domínio próprio, paciência na adversidade e sua inquebrantável fidelidade deixou um registro para benefício de todos os que posteriormente vivessem na Terra (História da Redenção, p. 103).
(Juliana de Souza Assis é psicóloga clínica e coordenadora do SEPSI - ECOE, localizado na Zona Sul de São Paulo, SP)