sábado, junho 04, 2011

Daniel 5 – Escolhas

Raynald III viveu no século 14. Era um verdadeiro bom vivant e extremamente gordo, tanto que também ficou conhecido pelo apelido latino Crassus, que quer dizer gordura. Após uma disputa violenta, seu irmão mais novo, Edward, comandou uma rebelião contra ele. Edward capturou Raynald e em vez de matá-lo construiu um quarto ao redor dele, no Castelo de Nieuwkerk, e prometeu que ele poderia recuperar a liberdade assim que conseguisse sair dali. Detalhe: o quarto tinha várias janelas e uma porta de tamanho quase normal, que ficavam abertos, mas impediam a passagem do corpanzil de Raynald. Para recuperar a liberdade, portanto, ele precisava perder peso. Mas Edward conhecia bem o irmão mais velho e todos os dias lhe enviava comidas deliciosas. Raynald não perdeu peso. Pelo contrário, engordou mais e ficou no quarto por dez anos, até que o irmão morreu em batalha. Entretanto, logo em seguida, sua saúde ficou tão arruinada que ele morreu dentro de um ano. Raynald foi prisioneiro do próprio apetite; escolheu a satisfação em lugar da liberdade.

O capítulo 5 de Daniel também fala de escolhas. Pouco mais de vinte anos haviam se passado desde a morte de Nabucodonosor. Quem reinava agora era Nabonido, auxiliado pelo filho Belsazar. A triste cena narrada por esse capítulo mostra o corregente dando uma festa no palácio. Não contente com a bebedeira e as orgias idolátricas, mandou trazer os utensílios que outrora haviam sido utilizados no santuário de Deus, em Israel. Iria se embriagar com os recipientes que haviam recebido o sangue dos cordeiros que representavam a Jesus. O pecado é assim mesmo: uma vez acariciado, leva a pessoa à cegueira, a tal ponto que ela não mais discerne entre o sagrado e o profano.

Quando a mente já estava entorpecida pelo vinho, Belsazar sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha. O que era aquilo? Ele deve ter esfregado os olhos quando viu uma mão misteriosa escrevendo algo na parede branca. Tentando se recompor (embora os joelhos tremessem de medo), ele deu uma ordem: que os encantadores e os feiticeiros fossem trazidos ali imediatamente, a fim de interpretar o que a mão havia escrito. E prometeu que quem fizesse isso seria o terceiro no reino, ou seja, ocuparia função apenas abaixo de Nabonido e dele mesmo.

Belsazar não aprendera a lição. No tempo de Nabucodonosor, ficara mais que provado que os feiticeiros e astrólogos não passavam de charlatães inúteis. E, como tal, mais uma vez falharam; não puderam ler a escrita na parede, o que deixou o rei ainda mais perturbado.

Naquele momento, entrou no salão de festas a rainha mãe (possivelmente uma das esposas de Nabucodonosor). Ela conhecia Daniel e fez lembrar ao rei que o hebreu tinha o “espírito dos deuses santos” (v.11; ela não sabia dizer Espírito Santo, mas tudo bem...). Daniel, agora com mais ou menos 80 anos, foi chamado à presença do rei, que lhe ofereceu todas as riquezas prometidas aos outros sábios. Como quem não deve nada a ninguém, movido pela fé e coragem que o caracterizavam, o profeta disse: “As tuas dádivas fiquem contigo, e dá os teus presentes a outros. Todavia lerei ao rei a escritura, e lhe farei saber a interpretação” (v. 17).

Em seguida, Daniel recapitulou a história da ascensão, queda e conversão de Nabucodonosor. Disse também que, embora Belsazar soubesse de tudo isso, não humilhou o coração (v. 22). Nas palavras de Ellen White, “a oportunidade de conhecer e obedecer ao verdadeiro Deus tinha-Lhe sido dada, mas não tinha sido levada ao coração, e ele estava prestes a colher as consequências da sua rebelião” (Profetas e Reis, p. 529).

De uma forma ou de outra, todos têm oportunidades de escolher o caminho certo. Se usam mal a liberdade que possuem, à luz da verdade que lhes foi apresentada, devem assumir as consequências dessa escolha. Foi o que aconteceu com o inconsequente Belsazar.

A inscrição traduzida por Daniel era um juízo contra Babilônia e seu rei. Dizia: “Mene, mene, tequel e parsim.” Decifrada, fica: “Contou Deus o teu reino e o acabou. Pesado foste na balança, e foste achado em falta. Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e persas” (v. 26-28).

Naquela mesma noite, os persas desviaram o curso do rio Eufrates, que cruzava Babilônia, entraram por baixo dos muros, pelo leito seco, e mataram os guardas sonolentos. O período da cabeça de ouro da estátua de Daniel 2 estava acabado. Os braços de prata agora dominavam o cenário histórico. Dario, o medo, era o novo rei.

Já pensou que você pode estar sendo “pesado” hoje? Agora é o dia da salvação, diz Paulo, em 2 Coríntios 6:2. Qual a sua situação diante de Deus? Para que lado vai pender o prato da balança? Satanás, como o irmão mais velho de Raynald, nos conhece bem. Sabe que pontos fracos explorar para nos manter presos a uma vida de pecado.

Aquilo que ouvimos, lemos, assistimos, pensamos, comemos... de uma forma ou de outra contribuirá para decidir nosso destino. Por isso, devemos fazer escolhas sábias, orientados pela Palavra de Deus e fortalecidos pelo poder do Espírito Santo – o mesmo Espírito de quem Daniel era cheio.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia)

Pense e discuta:

1. Quais as consequências de se manter um pecado consciente e acariciado?
2. Como podemos fortalecer nossa força de vontade para resistir aos apelos do mundo e nos “desviar do mal” (Jó 1:1)?
3. De que forma podemos ser “cheios do Espírito” (Ef 5:18)?

Testemunho da arqueologia

O livro do profeta Daniel, no capítulo 5, menciona que o rei de Babilônia em 539 a.C. era Belsazar. Mas a história oficial afirmava que esse homem nem sequer existira. “Para vexação de tais críticos, W. H. F. Talbot publicou em 1861 a tradução de uma oração – escrita em caracteres cuneiformes – oferecida pelo rei Nabonidus, na qual ele pede aos deuses que abençoem seu filho Belsazar!” (H. Fox Talbot, “Translation of Some Assyrian Inscriptions”, Journal of the Royal Asiatic Society 18 [1861]:195 – citado por C. Mervyn Maxwell, Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel, p. 91 [Casa]. Ver também: Revista Adventista, abril de 1996, p. 11).

Os críticos, então, aceitaram a existência de Belsazar, mas em sua resistência contra a Palavra de Deus, alguns deles continuaram insistindo que Belsazar jamais fora identificado como rei, fora da Bíblia. Até que, em 1924, foi traduzido e publicado o Poema de Nabonidus (Tablete nº 38.299 do Museu Britânico) por Sidney Smith. Esse documento histórico oficial atesta que Nabonidus deixou Babilônia e se dirigiu a Tema, e no trono deixou quem? Belsazar!

E mais: o livro Profetas e Reis, de Ellen White, saiu do prelo em 1917, portanto, sete anos antes da publicação do Poema de Nabonidus. E a afirmação da Sra. White de que Belsazar fora admitido em sua juventude a partilhar da autoridade real, não apenas era desconhecida pela História, na época, como não constava na Bíblia! Como poderia ela ter sabido, em detalhes, que Nabonido havia partilhado sua autoridade real com o filho? Certamente o mesmo Espírito que inspirou Daniel também inspirou Ellen White.

Para vergonha dos críticos, uma vez mais o relato bíblico estava confirmado. Daniel vivia na corte de Babilônia e estava familiarizado com esse costume de o filho assumir o cargo do pai, quando este saia em excursões militares. Portanto, “em instância após instância quando se destacava a inexatidão histórica como sendo prova da autoria tardia e espúria dos documentos bíblicos, o relatório dos hebreus tem sido vindicado pelos resultados das escavações recentes, e comprovou-se que os juízos zombeteiros dos documentaristas carecem de fundamento” (Gleason L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 183, 184).

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