sexta-feira, maio 27, 2011

Daniel 4 - Sempre existe esperança

Pense na pessoa mais teimosa, para quem é quase impossível falar de Deus. Um ateu decidido. Não. Não apenas ateu, mas o mais famoso filósofo ateu de sua época. Esse era o inglês Antony Flew, o maior ateu do século 20. Flew é considerado o principal filósofo dos últimos cem anos (seu ensaio Theology and Falsification se tornou um clássico e a publicação filosófica mais reimpressa do século 20). Ele passou mais de cinquenta anos defendendo o ateísmo. Para piorar, achava que sabia tudo de religião, já que é filho de pastor metodista. Formou-se em Oxford, lecionou em universidades importantes, mas foi justamente a vontade de buscar a razão de tudo que o fez rever seus conceitos sobre a fé.

No livro Um Ateu Garante: Deus Existe (Ediouro), Flew conta como chegou a negar a Deus, tornando-se ateu. Na segunda parte da obra, ele analisa os principais argumentos que o convenceram da existência do Criador. Na página 144, ele escreveu: “Minha jornada para a descoberta do Divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão. Segui o argumento até onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um Ser autoexistente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente.” É um livro que, acima de tudo, mostra que, enquanto há vida, sempre existe esperança. Se houver uma pequena fresta na mente e no coração, Deus pode entrar por ali e Se revelar ao mais teimoso de Seus filhos.

Nabucodonosor também foi “osso duro”, mas Deus soube lidar com ele. Depois de tantas evidências da atuação divina por meio do testemunho dos hebreus fiéis, o monarca orgulhoso precisava de uma lição impressiva. Nos intervalos entre uma batalha e outra, Nabucodonosor dedicou-se a embelezar e fortificar sua capital. Os famosos Jardins Suspensos da Babilônia são obra dele. Além disso, ele construiu 53 templos, 955 pequenos santuários e 384 altares de rua (mesmo tendo recebido provas de que existe apenas um Deus verdadeiro).

O capítulo 4 de Daniel, na verdade, é o testemunho pessoal de uma tremenda conversão. É uma declaração tão impressionante quanto o livro de Anthony Flew, e você já vai saber por quê.

Deus, em Sua misericórdia, concedeu outro sonho ao rei. Desta vez, Nabucodonosor sonhou com uma grande árvore no meio da terra, cuja altura chegava ao céu. Os animais encontravam abrigo debaixo dela e todos se alimentavam de seus frutos. (Interessante é que 19 anos antes, Ezequiel usou o mesmo símbolo da árvore para advertir ao faraó do Egito, conforme Ez 31:1, 14, 18; 29:19; 30:10.)

A certa altura, um anjo desceu do céu com a ordem de cortar a árvore, deixando apenas o tronco com as raízes. O tronco foi atado com cadeias (do aramaico ‘asar, instrumento usado para amarrar animais) de ferro e de bronze. E foi dito: “Seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais na erva da terra. Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe dado coração de animal, e passem sobre ele sete tempos” (v. 15, 16).

Nabucodonosor era mesmo teimoso. Contou primeiramente o sonho aos astrólogos e feiticeiros, para descobrir de novo que esse pessoal não sabia de nada. Então, uma vez mais, Daniel trouxe a interpretação, não sem antes ficar perturbado pelo que tinha que dizer ao rei. A árvore representava o monarca e o cumprimento da profecia dizia respeito unicamente a ele (v. 24). Significava que ele não apenas perderia o poder real por sete anos (sete tempos), como seria acometido de uma doença que praticamente o transformaria num animal (a licantropia é uma doença com sintomas semelhantes). Tudo isso para que ele reconhecesse que é Deus quem tem domínio sobre os reinos do mundo, e o dá a quem quer.

E a cadeia no tronco? Daniel explicou: “Quanto ao que foi dito, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o Céu reina” (v. 26). Em seguida, o profeta apelou: “Ó rei, aceita o meu conselho, desfaze os teus pecados pela justiça, e as tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os pobres, e talvez se prolongue a tua tranquilidade” (v. 27).

Depois de uma previsão como essa e de um apelo poderoso desses, era de se esperar que o rei se arrependesse. Mas não. A teimosia dele só tinha rival em sua vaidade.

Doze meses depois, tempo durante o qual o Egito foi subjugado pela Babilônia juntamente com a impressão da advertência de Daniel, o rei caminhava pelo palácio real e se gabou com as palavras: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para a glória da minha majestade?” (v. 30, grifos meus).

Para Deus, todo pecado é detestável, afinal, ele afasta Seus filhos queridos de Si. Mas se há um pecado especialmente abominável, esse é o orgulho (ou presunção). O adúltero, o ladrão e o assassino, em algum momento, podem se arrepender e pedir perdão. O orgulhoso, no entanto, à semelhança de Lúcifer quando deflagrou a rebelião no Céu, acha-se autossuficiente, capaz de viver sem Deus. Mas o Senhor não desiste fácil de Seus filhos (na verdade, eles é que desistem de Deus), e usou um recurso extremo para abrir os olhos do teimoso e soberbo Nabucodonosor.

Enquanto o rei ainda contava vantagem para si mesmo, o decreto celestial foi pronunciado: “Passou de ti o reino” (v. 31). Em lugar de mármore, o soberano destronado tinha agora a relva debaixo dos pés; seus companheiros passaram a ser os animais do campo, ao invés dos perfumados cortesãos e das belas esposas. Os cabelos e as unhas cresceram. O contraste entre o altivo monarca e a ser bestial era marcante. E isso por sete anos.

O verso 34 diz que no fim daqueles dias, o rei olhou para o céu e seu raciocínio voltou a funcionar. O recado aqui é claro: só existe vida de verdade quando estamos ligados ao Céu. Desligados de Deus, olhando apenas para a terra, para as coisas deste mundo, não passamos de animais racionais (quando muito). Baladas, bebedeiras, glutonaria, sexo sem compromisso (a lista de coisas ruins vai longe) são reflexos da loucura humana em sua correria cega em busca de prazer. A solução está em olhar para o Céu e ver que Deus nos propõe algo muito melhor. Algo que preenche o vazio da alma.

O livro de Daniel mostra que o Senhor guia a história das nações. As profecias dos capítulos 2, 7, 8 mostram o interesse de Deus pelo destino da humanidade, mas o sonho dado ao rei no capítulo 4 revela o interesse do Criador nos indivíduos. Nosso Pai celestial não nos trata como uma massa. Ama-nos individualmente e cuida de cada aspecto de nossa vida. Jesus mostrou isso na prática. Atendia as multidões ao mesmo tempo em que não Se negava a pregar e satisfazer às necessidades de uma pessoa só.

Dessa vez, a lição valeu para o rei. Como sabemos disso? Simples, ele é o autor do capítulo 4, e termina seu testemunho assim: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico ao Rei do céu, porque todas as Suas obras são verdade, e os Seus caminhos justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (v. 37).

Histórias como a de Nabucodonosor e de Anthony Flew nos dizem que sempre existe esperança. É só olhar para o alto.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia)

Pense e discuta:

1. Que tipo de coisas Deus tem usado para chamar sua atenção (sonhos, pessoas, leituras, situações)?
2. Daniel estremeceu ao compreender a mensagem que tinha que dar ao rei. Mesmo assim foi adiante. O que isso nos diz sobre a necessidade de advertir um mundo que caminha para a destruição? De que maneiras podemos dizer às pessoas que Jesus está para vir?
3. Você concorda que o orgulho está entre os piores pecados? Justifique sua resposta.
4. O capítulo 4 de Daniel toca mais uma vez no perigo de deixarmos a conversão ou a mudança de algum mau hábito para amanhã. Por que isso (a procrastinação) é algo perigoso?
5. “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”, diz o apóstolo Paulo, em Colossenses 3:2. Como podemos seguir esse conselho?

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Leia também: "Daniel 3 – No meio do fogo"