Saudade de pessoas, lugares, épocas, sabores, cheiros... Dias atrás, viajei juntamente com minha família para a Europa a fim de realizar um sonho antigo. Ao avistar de dentro de um barco no Rio Sena a Torre Eiffel iluminada, me emocionei ao lembrar de um episódio da minha infância: minha mãe tinha um perfume num frasco em forma de Torre Eiffel e eu, por vezes, o admirava e sonhava um dia conhecer aquela torre pessoalmente. Chorei. Chorei por estar realizando aquele sonho de criança e chorei por me lembrar daquela época que não voltará jamais. Hoje, de volta à realidade, na minha cidade, sinto saudade de Paris e da Suíça e uma vontade imensa de voltar àqueles lugares que me fizeram extremamente feliz por alguns dias.
Domingo, dia 13 de março, por chegarem ao fim as férias escolares da minha filha mais velha, a levamos para Florianópolis, já que suas aulas começariam na segunda, dia 14. Mais uma vez choramos muito ao nos despedirmos e sinto muita saudade, sentimento que chega ao ponto de causar dor física (uma dor forte no peito).
Meus irmãos moram longe – no estado de São Paulo – e sinto muita saudade deles e dos meus sobrinhos e cunhados, e essa saudade, com certeza, também me causa dor.
Meu irmão Michelson às vezes me diz que sente saudade de comer polenta com fortaia no restaurante de Nova Veneza, SC, cidade vizinha à minha. Ele vive em Tatuí, SP, o que o impossibilita de saborear nossos pratos italianos preferidos em tal restaurante, frequentemente.
Não fomos criados para sofrer, envelhecer ou nos separarmos das pessoas que amamos. Temos saudade da infância por ser o período da vida com menos problemas e tribulações. É a época em que nos é permitido viver da forma mais simples e pura. E é quando estamos sempre juntos dos que amamos, todos os dias.
Temos saudade do passado, pois nele sempre somos mais jovens, sem tantas obrigações, preocupações, dores ou doenças. Claro que os momentos tristes e difíceis que passaram não nos causam saudade e são postos de lado em nossa memória, no setor do esquecimento.
Creio que meu irmão sinta saudade do sabor daquela comida italiana porque quando íamos àquele restaurante aos domingos, íamos felizes, num típico passeio de família, todos juntos.
Temos saudade dos lugares bonitos que conhecemos, porque tínhamos sido criados para desfrutar deste mundo que deveria ser sempre belo e perfeito, e não teria fronteiras. Também porque quando estamos viajando, o fazemos com as pessoas que amamos e passamos momentos perfeitos, que nos fazem esquecer as obrigações e problemas do dia a dia.
Temos saudade das pessoas que amamos e vivem ou passam momentos longe de nós, porque fomos criados para ficar juntos, sempre, sem despedidas.
Jamais nos acostumaremos com esses dilemas desta vida, porque eles não fazem parte da nossa essência. Se tivéssemos evoluído e ainda em constante evolução, poderíamos aceitar um dia essas separações, esses rompimentos cotidianos, por serem “normais” e fazerem parte da roda da vida. Mas nunca aceitaremos isso e a saudade continuará a trazer dor, lágrimas, sofrimento ou nostalgia para os que a encontram no caminho.
Neste momento, só nos resta confiar nAquele que nos dá força para seguir em nosso caminho, e a certeza de que um dia não diremos mais adeus ou um simples até logo aos que amamos. Não mais precisaremos sentir saudade dos momentos felizes, das épocas boas, pois todo o momento, toda a época, todo o instante será feliz e será bom, como tudo aquilo que Ele criou e viu.
(Michela Borges Nunes é advogada e mora em Criciúma, SC, com seu esposo Dilamar e a filha mais nova)
Nota: Pra mim essas são as “sementinhas de saudade” que Deus deixa em nosso coração para nos lembrar de que nosso lar não é aqui. Acho que é mais ou menos o que sinto quando penso em Nova Veneza, por exemplo. Quando Jesus voltar, a saudade deixará de existir. Quero muito ter minha família toda comigo naquele grande dia.[MB]