Em resposta ao artigo "Religião na escola", do ateu Hélio Schwartsman, o amigo Marco Dourado, de Curitiba, escreveu: "Não é prejudicial que escolas públicas ensinem história das religiões, como em São Paulo. Ao menos promovem alguma tolerância. Há coisa de uns 35 ou 36 anos, tive uma experiência traumática na 5ª série primária, quando uma professora de religião, católica militante, rebaixou minha nota por eu discordar de seus pontos de vista doutrinários - e ela ainda apregoou abertamente esse justiçamento como exemplo preventivo para a minha e as demais turmas. Parece-me que concordamos quanto ao perigo de a escola, não somente a pública, tornar-se instrumento de doutrinação ideológica. Entretanto, esse tipo de mazela já se encontra presente nas aulas de história, flagelo típico de um país aparelhado pelos analfabetos políticos, gramaticais e mentais desses nossos Emirados Sáderes. Pior, a ideologia invade e ocupa naturalmente as áreas de ciências exatas, como você bem o demonstrou em seu texto. Vejamos:
"1) Josué 10:12 utiliza um idiomatismo hebraico (frases como "Deus Se lembrou" ou "Deus cria o mal"). Os autores bíblicos escreviam de acordo com suas percepções dos eventos. Apologeticamente falando, para um Deus Todo-Poderoso, que cria o tempo, o espaço, a matéria e a energia ex-nihilo, seria trivial parar não apenas um único planeta mas o próprio Universo - se assim for de Sua soberana vontade. Obviamente, El-Shaddai não é, como querem os deístas, escravo das leis naturais que Ele mesmo determinou. Por outro lado, é necessário mais fé para crer em especulações ad hoc como multiversos (orfãs do mais mínimo embasamento factual) e geração espontânea (que viola as leis conhecidas e contraria os fatos observados na natureza).
"2) Há muito, mas muito mais evidências para a existência recente deste planeta - sistema solar incluso - do que para afirmar que ele tenha supostos bilhões de anos. Poderia citar dezenas de exemplos. Como você mencionou o registro fóssil, destacarei a descoberta de fósseis com idade estimada em 80 milhões de anos (sic) apresentando tecido conjuntivo preservado, resíduos de sangue e até sobras de refeições em seus aparelhos digestivos (confira aqui). Sabendo-se que a meia-vida do DNA é inferior a 3 mil anos e que já se constatou outras vezes esse material em fósseis de dinossauros, inclusive aqui na América do Sul, sobra-nos, aristotelicamente, reconsiderar a datação fóssil convencional - ou então teimar em preservá-la de revisão pelos motivos ideológicos de sempre.
"3) Afirmar que Newton era deísta é uma agressão covarde à sua biografia e uma ofensa ao seu legado. Aliás, o extraordinário físico foi mais prolífico e preciso em escatologia que em ciências. Se puder, adquira o brilhante As Profecias do Apocalipse e o Livro de Daniel, livro pouco conhecido hoje, mas que influenciou o pensamento religioso a partir do século 18.
"No mais, eu aceitaria, sem pestanejar, a exclusão do ensino religioso nas escolas públicas desde que acompanhada da supressão dessa má filosofia que é o naturalismo mecanicista como pedra angular para compreensão da ciência. Todos, principalmente os ateus intelectualmente honestos, sairiam ganhando.
"Como diria aquele personagem do simpaticíssimo comediante Paulo Silvino: 'Topas?'
"Um abraço. Marco.
"P.S.: Por falar em livros sublimes, segue para dirimir suas dúvidas uma sugestão de leitura rápida e agradável, escrito por um amigo meu."