segunda-feira, março 28, 2011

RS tinha “dente-de-sabre” herbívoro

A criatura possuía dentes-de-sabre, como os famosos “tigres”, mas não tinha nada de carnívora. O resto da dentição até lembrava a dos mamíferos atuais, com uma diferença crucial: o céu da boca servia para mastigar. Essa anatomia bucal inusitada, nunca vista antes num vertebrado, justifica o nome científico do bicho. O Tiarajudens eccentricus era, de fato, excêntrico - talvez a mais estranha das espécies que povoavam o Rio Grande do Sul há 260 milhões de anos. Um grupo de paleontólogos está apresentando o animal ao mundo hoje, em artigo na prestigiosa revista americana Science. Com 12 centímetros de comprimento e bastante afiados, os caninos parecem máquinas de matar, mas há raros casos de herbívoros com dentes desse tipo, como certos veados asiáticos. Com base nesses exemplos, dá para traçar algumas hipóteses. Os “sabres” poderiam servir para afugentar predadores. Talvez fossem exibidos e/ou empregados durante disputas por poder e parceiros sexuais. Esquisitices à parte, o bicho é importante por mostrar um evento evolutivo [sic] crucial: como surgiram [sic] os especialistas em devorar plantas.

“A alimentação dele envolvia algum tipo de material vegetal fibroso. A gente sabe que não era capim, porque a grama ainda não havia surgido [sic] naquela época. Talvez algo como folhas e caules”, diz Juan Carlos Cisneros, paleontólogo nascido em El Salvador, atualmente na Universidade Federal do Piauí. Ele é o coordenador do estudo, do qual participaram cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da sul-africana Universidade do Witwatersrand.

Timidamente, Cisneros pede que não se use a palavra “réptil” para se referir ao T. eccentricus. De fato, o bicho não cabe nas classificações tradicionais que usamos para as espécies de hoje. Embora tenha algo de lagartão (o tamanho era o de uma capivara), faz parte de um grupo de animais ligados aos avós dos mamíferos, os chamados terápsidos. [...]

(Folha.com)

Nota: Certa vez li ou ouvi (não me lembro onde e nem quando) que leões privados de caça foram vistos usando as presas para triturar e comer raízes. A descoberta do Tiarajudens eccentricus pode lançar luz sobre a afirmação criacionista de que, antes do pecado, todos os seres vivos eram vegetarianos. Assim, o fato de um animal possuir presas não significa necessariamente que as presas tenham aparecido depois, por algum processo de adaptação (o que não é impossível). Elas bem podem ter sido usadas para a alimentação herbívora.[MB]