Vamos dar asas à imaginação? Que tal sonhar um pouco? Convido
você a vir comigo numa viagem imaginária, por um pequeno mundo que enfrentou o
mal, mas o repudiou.
Planeta Terra recém-criado. Transportados até o Jardim do Éden,
somos envolvidos em esplendor que arrebata os sentidos. Tudo é perfeito e sem
vestígios de decadência. Nossa atenção se volta para o casal Adão e Eva. A
beleza de ambos é inexcedível, pois cada detalhe físico é a expressão máxima da
estética que a mente divina poderia produzir em seres humanos. No cenário
paradisíaco, ambos se encontram no pleno usufruto de sua inocência. Moral e
espiritualmente, mulher e homem refletem a luz de um caráter perfeito, isentos
de medo, culpa ou traumas. Adão parece dialogar com os animais, os quais,
dóceis, aproximam-se dele sem nenhum temor. Eva, cheia de graciosidade, sorri
para o companheiro e, suavemente, segura sua mão. Com cânticos de louvor
admirável, os pais da raça humana enaltecem a santa e gloriosa Trindade.
Sem que esperassem, um ser angelical atravessa o espaço,
surgindo na velocidade do relâmpago. Seu rosto denuncia apreensão pelo santo
par. Chama-os à parte para contar-lhes a estranha história de alguém que vem
para causar a ruína deles e do planeta. Atentamente, Adão e Eva escutam as
advertências e explicações do anjo mensageiro que, logo depois, parte na mesma
rapidez com a qual apareceu. Apreensivo, o casal discute o relato transmitido: “Que
coisa é essa chamada mal?” – refletem.
Passam-se dias e vemos outro quadro: Eva passeando sozinha
até se defrontar com uma serpente alada. “Ela fala, voa e é linda!” – exclama a
mulher diante de um ser tão singular. Com linguagem persuasiva e argumentações
“lógicas”, a exótica criatura tenta convencê-la a experimentar o fruto proibido
por Deus. Apesar da aparente docilidade do animal, a mulher, desconfiada, mantém
certa distância. Repentinamente, Adão aparece assustado e se interpõe no
diálogo: “Eva, não se aproxime da serpente sagaz nem se encante com suas palavras!
Ela é, na verdade, o adversário disfarçado que veio nos tentar e sobre o qual
fomos advertidos.” Eva corre para o esposo e ambos deixam os domínios do anjo caído,
bem longe da árvore proibida. Vencem a prova.
Que viagem! Que sonho! A “versão” de Gênesis contada acima,
entretanto, é só imaginativa. Quão bom seria se o terceiro capítulo desse livro
nos trouxesse uma narrativa de vitória em vez de fracasso: o pecado não teria
existido para nós e a Terra seria povoada com uma raça de seres puros,
perfeitos e imortais, todos descendentes do primeiro casal humano. De alguma
forma, Deus eliminaria Satanás da existência sem acarretar a dúvida do Universo
sobre Seu amor.
O pecado modificou tragicamente a realidade. Sem esse intruso
indesejável, como seriam a cultura, o governo, as produções artísticas, a
ciência e tantas outras instâncias da Terra caída? Dá para imaginar a diferença
entre o estado atual e o ideal? Muitas coisas presentes agora não fariam parte
do nosso triste quotidiano como dúvida, incredulidade, ódio, funerais, guerras,
divórcio, traições, saudade, cansaço, frustração, acidentes ecológicos,
tragédias naturais, instrumentos bélicos, e a pior de todas as consequências do
pecado: a morte. Por outro lado, nada saberíamos sobre fé, redenção e
graça.
Repetidas vezes se faz a pergunta: Por que foi permitido o
pecado? O aparecimento do mal na criação não era condição necessária para se manifestar
o lado até então desconhecido e misterioso do amor de Deus. De quanto
sofrimento tanto nós quanto o próprio Criador seríamos poupados se o pecado jamais
tivesse se erguido! Porém, já que o mal despontou e nos infectou, resta a esperançosa
expectativa: ele aguarda sua condenação eterna. Assim será cumprida a promessa:
“Não se levantará por duas vezes a angústia” (Naum 1:9).
Infelizmente, Adão e Eva sofreram a derrota. Contudo, Jesus
venceu, recuperando o Éden perdido para devolvê-lo à humanidade redimida. Em
Cristo, aguardamos o momento da nova criação, quando todo o Universo finalmente
expressará com eterna alegria: “Desde o minúsculo átomo até ao maior dos
mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito
gozo, declaram que Deus é amor.”
(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)