Atribuídos
a mares e rios desde que o astrônomo Giovanni Schiaparelli desenhou os
primeiros mapas de Marte, em 1877, as intrincadas formações do relevo do
Planeta Vermelho até hoje desafiam as interpretações. Elas se parecem com
canais feitos na Terra pela água, mas os melhores estudos indicam que Marte não
tem e quase certamente nunca teve condições de abrigar águas correntes em sua
superfície - este é o chamado Paradoxo de Marte. Ramon Brasser e Stephen
Mojzsis, da Universidade do Colorado, nos EUA, acreditam ter encontrado uma
solução bastante plausível para esse paradoxo. Segundo sua hipótese, os canais
de Marte não foram produzidos pela água, mas pelo impacto de um asteroide
gigantesco. Esse asteroide - do tamanho do planeta anão Ceres - teria
arrancado um pedaço do hemisfério norte de Marte e deixado um rastro de
elementos metálicos no interior do planeta. O choque também teria criado um
anel de detritos rochosos em torno de Marte, que pode ter-se aglomerado mais
tarde para formar suas luas, Fobos e Deimos.
Amostras
de meteoritos marcianos indicam uma superabundância de metais raros - como
platina, ósmio e irídio - no manto do planeta que ainda está por ser explicada.
Esses elementos sugerem que Marte deve ter sido atingido por grandes asteroides
em suas primeiras eras.
A
dupla primeiro estimou a quantidade dos metais raros nos meteoritos marcianos e
calculou que eles representam cerca de 0,8 por cento da massa de Marte. Em
seguida, eles usaram simulações de impactos com asteroides de diferentes
tamanhos atingindo Marte para ver qual tamanho de asteroide traria os metais em
quantidade suficiente para explicar sua presença hoje.
Com
base nessa análise, os metais de Marte são mais bem explicados por uma colisão
massiva de meteoritos há cerca de 4,43 bilhões de anos, seguida de uma longa
história de impactos menores. Nas simulações de computador, o impacto de um
asteroide com pelo menos 1.200 quilômetros de diâmetro conseguiria depositar a
quantidade suficiente dos elementos metálicos.
Um
impacto desse tamanho também teria mudado de forma drástica a crosta de Marte,
criando seus hemisférios tão diferentes. De fato, a crosta do hemisfério norte
de Marte parece ser um pouco mais jovem que as terras altas do sul, o que está
de acordo com o resultado das simulações.
“Nós
mostramos neste artigo - a partir da dinâmica e da geoquímica - que podemos
explicar essas três características únicas de Marte”, disse Mojzsis,
referindo-se aos canais, à composição mineral e às luas do planeta. “Essa
solução é elegante, no sentido de que resolve três problemas interessantes e
extraordinários sobre como Marte chegou a ser o que é.”
Nota: Essa
pesquisa me lembra uma conversa que tive anos atrás com meu amigo geólogo Dr. Nahor Neves de Souza Jr. Na época, conversamos sobre as marcas de
impacto no planeta vermelho e ele me disse que muito provavelmente elas se
deviam aos impactos meteoríticos do evento conhecido como “grande
bombardeamento” (descrito aqui). Deixando de lado as datações bem problemáticas mencionadas acima, parece que
mais uma vez Nahor tinha razão. [MB]
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