Esta parábola representa pessoas que um dia viveram sob a benção de Deus, mas se afastaram, e pela dor e sofrimento retornam aos Seus amáveis braços. Assim como relata a história, muitos só retornam para Deus depois de sentir profundo sofrimento e desespero. A verdade é que na escuridão muitos sentem a real necessidade de Deus.
Lucas 15:11: "Continuou: Certo homem tinha dois filhos;"
Lucas 15:12: "o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres."
Lucas 15:13: "Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente."
O filho mais novo acabou cansando das restrições da casa paterna. Pensou que sua liberdade era reprimida. O amor e o cuidado do pai foram mal interpretados e resolveu seguir os seus próprios caminhos.
O jovem não reconhece qualquer obrigação para com o pai e não exprime gratidão, mas reclama os privilégios de filho para poder participar dos bens de seu pai. Deseja receber logo a herança que lhe caberia quando seu pai viesse a morrer. Depois de receber sua herança, sai da casa paterna para “uma terra distante”. Ninguém agora lhe dirá: “Não faças isso porque vai te prejudicar.”
Com dinheiro no bolso e podendo fazer o que bem quisesse, não faltaram más companhias para ajudá-lo a desperdiçar todos os bens e levá-lo ao pecado. A Bíblia fala de homens que “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:22).
Lucas 15:14: "Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade."
Lucas 15:15: "Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos."
Lucas 15:16: "Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada."
Depois de perder tudo “vivendo dissolutamente”, o jovem começou a passar necessidade. Houve uma grande fome na Terra. Ele buscou ajuda com um fazendeiro que o colocou para tomar conta dos porcos. Para um judeu essa ocupação era a mais vil e degradante. O jovem que se gabava da sua liberdade, agora se vê como escravo. Está na pior das escravidões: “com as cordas do seu pecado, será detido” (Pv 5:22). O falso brilho que o atraía desapareceu. Passa a comer a comida dos porcos. Dos companheiros que o rodeavam nos seus dias prósperos em que comiam e bebiam às suas custas, nenhum ficou para animá-lo. Agora, sem dinheiro, com fome, humilhado, é o mais miserável dos homens. Esse é o fim de todo aquele que decide servir apenas ao próprio eu.
"Ir para uma terra distante" é a verdadeira condição espiritual do pecador. Embora coberto pelas bênçãos do amor de Deus, nada há que aquele que vive sob o domínio das satisfações próprias mais deseje do que viver separado de Deus. Como o filho ingrato, reclama as bênçãos de Deus como sendo suas por direito. Recebe diariamente as bênçãos como se fossem uma obrigação da parte de Deus. Não agradece nem retribui com amor. Assim, partindo para longe de Deus, procuram os pecadores a felicidade (Rm 1:28). Só na terra distante o pecador aflito sentirá a miséria e o desespero e descobrirá a ilusão que o afastou de Deus. Verá que o sofrimento é uma conseqüência de sua própria loucura.
Lucas 15:17: "Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!"
Lucas 15:18: "Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;"
Lucas 15:19: "já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores."
É a certeza do amor de Deus que move o pecador a voltar para casa. É a bondade de Deus que conduz ao arrependimento (Rm 2:4). “Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí” (Jr 31:3). O filho resolve confessar sua culpa. Quer ir ter com o pai e dizer: “Pequei contra o Céu e diante de ti”, mas demonstrando como é limitada a sua concepção do amor do pai, acrescenta: “trata-me como um dos teus trabalhadores.”
Lucas 15:20: "E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou."
Saindo do meio dos porcos, fraco e faminto, põe-se a caminho de casa. Não tem uma capa para esconder suas roupas esfarrapadas; mas sua miséria venceu o orgulho. Volta disposto a suplicar a condição de trabalhador, onde outrora ocupava a posição de filho.
Pelo fato de ter exigido sua herança antes de ter qualquer direito a ela, o filho sabia que não podia esperar mais ajuda do pai. Ele também estava consciente de que a exigência havia demonstrado mais preocupação com o dinheiro do que com o próprio pai; logo, o normal era encontrar rejeição. Mas ele sabia também que ser um escravo na propriedade do pai ainda era muito melhor do que trabalhar fora. Só que não conseguiu sequer fazer essa proposta.
O jovem alegre e despreocupado, quando abandonou a casa paterna, não imaginou a dor e a saudade deixadas no coração do pai. Quando se desgarrou pelo mundo com os companheiros devassos, não se deu conta da profunda tristeza que se abateu sobre a casa paterna. E agora, enquanto percorre o caminho de volta, não sabe que alguém sempre aguardou a sua volta. E quando ele vem “ainda longe”, o pai o distingue imediatamente, sai “correndo” na sua direção e o abraça e beija.
Lucas 15:21: "E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho."
O pai não permite que ninguém veja a miséria e as vestes sujas e esfarrapadas do filho. Antes de qualquer coisa, o pai tira a sua própria capa e coloca sobre os ombros do filho. Na caminhada para casa, o pai nem lhe dá a oportunidade de pedir a posição de trabalhador. É um filho e como tal deve ser honrado com o melhor que a casa pode oferecer. Mais uma vez, Jesus ilustrou a natureza de Sua salvação através da maneira aberta como o pai aceitou o filho. Isso deve ter chocado os escribas e fariseus que O ouviam. Eles teriam concordado, se o pai exigisse arrependimento e prova de mudança de vida, antes de aceitar o filho de volta em casa.
Lucas 15:22: "O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;"
Lucas 15:23: "trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,"
Lucas 15:24: "porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se."
Na parábola não há acusação nem censura à má conduta do filho pródigo. O filho sente que o passado está perdoado, esquecido e apagado para sempre. Não dê ouvidos à sugestão do inimigo, de permanecer afastado de Cristo até que seja bastante bom para ir a Deus. Se esperar até que isso aconteça, você nunca irá a Deus. Levante-se e volte para seu Pai. Ele irá ao seu encontro quando ainda estiver longe.
Lucas 15:25: "Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças."
Lucas 15:26: "Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo."
Lucas 15:27: "E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde."
Lucas 15:28: "Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo."
O irmão mais velho não participara do sofrimento do pai por aquele que se perdera. Não partilha por isso da alegria paterna pela volta do errante. Os cantos de alegria acabam por lhe acirrar o ciúme. Não quer entrar para dar boas-vindas ao irmão arrependido. Quando o pai sai para argumentar com ele, o orgulho e a maldade de sua natureza são revelados.
Lucas 15:29: "Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos;"
Lucas 15:30: "vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado."
O irmão mais velho inveja a forma como o mais novo foi recebido. Considera esse tratamento uma injustiça. Mostra claramente que se estivesse na posição do pai não receberia o indigno. Nem mesmo o reconhece como irmão, pois dele fala friamente como “teu filho”.
Lucas 15:31: "Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu."
Lucas 15:32: "Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado."
Afinal, o irmão mais velho foi levado a reconhecer a sua ingratidão? Chegou a admitir que embora o irmão tivesse agido mal, ainda era e sempre seria seu irmão? Arrependeu-se o mais velho de sua dureza de coração? Com referência a isso, Jesus guardou silêncio. A parábola ainda não terminara e restava que os ouvintes determinassem qual seria o epílogo.
O simbolismo da parábola
Pelo irmão mais velho foram representados os impenitentes judeus contemporâneos de Cristo, como também os fariseus de todas as épocas, que olhavam com desprezo àqueles que consideravam publicanos e pecadores. Porque eles mesmos não caíram no mais degradante vício, enchiam-se de justiça própria. Jesus enfrentou essa gente ardilosa em seu próprio terreno. Como o filho mais velho da parábola, desfrutavam de especiais privilégios de Deus. Diziam-se filhos na casa de Deus, mas tinham o espírito de mercenários. Não trabalhavam movidos por amor, mas pela esperança de recompensa. A seus olhos, Deus era um feitor severo. Viam como Cristo convidava os publicanos e pecadores para receber livremente as dádivas de Sua graça – dádivas que os rabinos pensavam assegurar-se somente por trabalho e penitência – e ofenderam-se. A volta do filho pródigo, que encheu o coração paterno de alegria, provocava-lhes o ciúme. A atitude do filho mais velho o isolou de Deus tanto quanto o antigo estilo de vida do irmão mais novo.
Na parábola, a intercessão do pai junto do primogênito era o terno apelo do Céu aos fariseus. "Todas as Minhas coisas são tuas" – não como salário, mas como dádiva. Como o pródigo, somente é possível recebê-las como concessões imerecidas do amor paterno. Através do irmão mais velho, Jesus fez um chamado pessoal aos mais privilegiados – os líderes da nação e, em especial, aos fariseus. As palavras do pai ao seu primogênito (ou de Jesus aos fariseus) são, em essência, um convite para participar da alegria da salvação.
O Dicionário Oxford define fariseu como “membro de uma antiga seita judaica conhecida por sua estrita observância da lei tradicional e pretensões de uma santidade superior; portanto, uma pessoa justa aos próprios olhos; formalista, hipócrita”.
A justiça própria conduz os homens não somente a representar a Deus falsamente, como os torna impiedosos e críticos para com seus irmãos. O filho mais velho, em seu egoísmo e inveja, estava pronto a observar o irmão, criticar todas as suas ações e culpá-lo da menor falta. Acusaria todo engano e exageraria quanto possível todo ato errado. Desse modo pretendia justificar seu espírito irreconciliável. Muitos fazem hoje o mesmo. Enquanto alguém enfrenta a luta contra um turbilhão de tentações, sempre existem os obstinados, reclamando e acusando. Podem professar ser filhos de Deus, mas manifestam o espírito de Satanás. Por seu procedimento para com os irmãos, esses acusadores se colocam onde Deus não pode fazer brilhar a luz.
Aquele irmão pensava apenas no pecado e não na possibilidade de arrependimento. “O juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia” (Tg 2:13).
Quando nos considerarmos pecadores salvos unicamente pelo amor de Deus, então teremos amor e compaixão por outros que sofrem no pecado. Então não olharemos mais para a miséria e o arrependimento com ciúme e censura. Somente quando o gelo do amor-próprio se derrete no coração, temos a aprovação de Deus e partilhamos de Sua alegria na salvação do perdido. Aquele a quem muito se perdoou, também ama muito, pois "aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor" (1Jo 4:8).
Há muito esforço para fazer os culpados reconhecerem onde erraram, e ficar lembrando-lhes os erros que cometeram. Os que caíram em falta precisam de piedade, precisam de auxílio, de simpatia. Eles sofrem em seus sentimentos e se acham abatidos. O que eles necessitam não é de crítica; é de perdão.
A mensagem central da parábola do filho pródigo não é a desobediência de um filho e o ciúme e a inveja do outro. Nem o comportamento dos dois. É o amor do Pai. Ele recebe a ambos. Perdoa a ambos. Deus ama a todos, perdoa e recebe a todos.
(Texto da jornalista Graciela Érika Rodrigues, inspirado na palestra do advogado Mauro Braga.)