Estréia na semana que vem, nos Estados Unidos, “Religulous” – o mais novo filme de Larry Charles – o diretor do filme “Borat”, e um dos roteiristas de Seinfield. Do mesmo estúdio de “Fahrenheit 9/11” (do cineasta Michael Moore), “Religulous” (religião + ridículo) é um dos poucos documentários ateus já produzidos, diga-se de passagem, um documentário que incorpora técnicas de comédia para abordar um dos temas mais controversos de todos os tempos: religião. Em um momento em que a fé cresce em proporções alarmantes, supõe-se que o diretor entenda que não vai estrear em diversos países. O entrevistador na frente da câmeras dessa vez não é Sacha Baron Cohen, mas Bill Maher – apresentador, ativista político e comediante largamente conhecido na América por suas posturas contra o casamento, a favor das drogas, liberdade de expressão e questionamento de qualquer tipo de autoridade.
Nessa empreitada, a dupla se juntou para conversar e questionar líderes religiosos de todas as crenças, e sua fé; visitar templos sagrados e conversar com pessoas normais com o objetivo de demonstrar quão ridículo, ou irracional, é entregar-se a uma religião. A idéia é que religião é um negócio, e assim sendo, “um negócio de macaco”. Ou um distúrbio neurológico que causa guerra e destruição.
O filme, assim como o tema é controverso. Provoca risos engasgados, polêmica e debate. Quem viu e não gostou acusa o filme de ser mal produzido – o boom (equipamento de captação de áudio) aparece; a segunda câmera aparece; o entrevistador é cínico e os entrevistados são estereotipados – “extremistas, gays e ‘freaks’”, fazendo-os parecer estúpidos (a mesma técnica de Borat, diga-se de passagem). E que até mesmo os efeitos sonoros também foram feitos para ridicularizá-los.
Segundo Bill Maher, para conseguir as entrevistas, e até entrar no Vaticano, nada foi obtido em seu nome. Foi criado um nome falso para o documentário em produção – “Uma Jornada Espiritual”. Quando tudo estava pronto – entrevistado a postos e câmera rodando, ele entrava em cena. É possível ver a cara de surpresa dos entrevistados ao longo do filme. Como se vê, assim como em Borat, para entrar no restrito domínio da fé de todas as religiões, a ética da produção também foi suspensa em nome das frases de efeito e situações absurdas. ...
(Blog Repique)
Nota: Desprezo à religião; irreverência para com tudo... Não sei por que, mas ao ler sobre essa produção antiética, me lembrei de um trecho do livro A Queda, de Albert Camus: "Cada alegria fazia com que desejasse outra. Ia de festa em festa. Chegava a dançar noites inteiras, cada vez mais louco com os seres e com a vida. Às vezes, já bastante tarde, nessas noites em que a dança, o álcool leve, meu modo desenfreado, o violento abandono de todos me lançavam a um arrebatamento ao mesmo tempo lasso e pleno, parecia-me no extremo da exaustão e no espaço de um segundo, compreender, enfim, o segredo dos seres e do mundo. Mas o cansaço desaparecia no dia seguinte e com ele o segredo; eu me lançava outra vez com todo ímpeto. Assim corria eu, sempre pleno, jamais saciado, sem saber onde parar, até o dia, ou melhor, até a noite em que a música parou e as luzes se apagaram. A festa em que eu fora feliz..."
Como escreveu o sábio Salomão, tudo é vaidade. Mas alguns descobrem tarde demais...