Conciliação possível? |
Recentemente,
concedi entrevista à jornalista Gabriella Pacheco, do Portal UAI, parte da qual
foi publicada na matéria “A ciência matou Deus? Para muitos cientistas, a
resposta é não” (confira aqui). Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Michelson, é possível
ter fé (crer em Deus) e acreditar na ciência? Qual a sua opinião a respeito
disso. Você acha que ter fé em Deus impossibilita a pessoa de acreditar na
ciência e no que ela diz sobre o Universo, o mundo e sobre nós, humanos? É
possível que, de alguma forma, elas caminhem juntas? Se não, qual o papel da
ciência? E qual o papel da religião?
Tenho
plena certeza de que isso é possível, afinal, os cientistas lidam com o que é
imanente, com aquilo que é passível de verificação com seus métodos. Portanto,
lidam com o mundo natural. A ciência é uma ótima “ferramenta” humana para nos
ajudar a entender o mundo que nos rodeia, mas, como tudo o que é humano, ela
tem também suas limitações, e uma delas é justamente a premissa filosófica
sobre a qual trabalha: o naturalismo (ele mesmo não passível de verificação
científica). Quem disse que a realidade se compõe apenas daquilo que podemos
mensurar e que faz parte do chamado “mundo natural”? A ciência pode até nos
explicar os “comos”, mas o que dizer dos “porquês”?
O
próprio fato de existirem muitos cientistas que creem em Deus me mostra que o
método científico é limitado no que diz respeito às questões relacionadas com o
sobrenatural. Se a ciência provasse por a mais b que Deus não existe, todos os
cientistas seriam ateus. De igual modo, se provasse que Deus existe, todos os
cientistas seriam crentes. Mas não é isso o que acontece, justamente porque a
ciência, quando bem empregada, trabalha dentro de suas limitações óbvias.
Se
a ciência e a fé podem andar juntas? Creio que sim, quando ambas são
corretamente compreendidas. Ciência é método, fé é confiança, convicção. Elas
lidam com aspectos diferentes da realidade, embora muitas vezes possam atuar em
conjunto para a melhor compreensão das coisas e para possibilitar uma vida mais
plena e feliz. Além disso, a ciência nos estimula a manter um ceticismo
saudável, aquele que nos faz analisar tudo com visão crítica e não aceitar
qualquer falácia ou argumento sem fundamento consistente. Até para crer às
vezes é preciso duvidar.
Ciência
e fé andam de mãos dadas, por exemplo, quando falamos da arqueologia bíblica.
Várias descobertas em anos recentes têm respaldado o pano de fundo histórico da
Bíblia, atestando sua confiabilidade como documento. Isso significa que a
arqueologia “prova” que Deus existe ou que a Bíblia é um livro de origem
sobrenatural? Não, mas mostra que ela é historicamente confiável e que,
portanto, sua teologia merece atenção. Assim, a ciência pode ajudar a mostrar a
razoabilidade da fé. [Continue lendo.]