No
dia 6 de dezembro, a revista Nature
publicou um artigo (doi:10.1038/nature25180) que traz uma descoberta
interessante: um quasar a uma distância tão grande de nós que a imagem que
recebemos dele precisa ter partido de lá poucas centenas de milhões de anos
após a época atualmente estimada como sendo a da criação do universo. O que há
de tão interessante nisso? Bem, quasares são fenômenos que emitem quantidades
gigantescas de energia em certas direções. Trata-se essencialmente de
gigantescos buracos negros atraindo material ao seu redor e acelerando uma
parte desse material, expelindo-o a grandes velocidades a partir de seus polos. O
problema pode ser colocado na forma da seguinte pergunta: De onde veio esse
superburaco negro? A resposta típica é: estrelas muito grandes entram em
colapso eventualmente, formando buracos negros relativamente pequenos.
Eventualmente, esses buracos negros podem colidir entre si e formar outros cada
vez maiores. Mas não haveria tempo para tudo isso desde a criação do universo.
Esse
tipo de problema tende a gerar diferentes reações, dependendo da visão de mundo
de cada um. No meio criacionista, esse tipo de achado é frequentemente
utilizado como parte de uma cadeia de raciocínio cujo objetivo final é reforçar
a ideia de que o universo é jovem (6 a 10 mil anos de idade). Essa linha inclui
apresentar essas coisas como evidências de que o modelo do Big Bang é muito
incorreto (geralmente se pensa que a ideia de que o universo é antigo vem do
modelo do Big Bang, mas na verdade essa informação vem de observações) e que
faria mais sentido imaginar que Deus já criou todo o universo grande, pronto e
recentemente. Entretanto, essa ideia corresponde a uma inflação com
velocidade infinita no início do tempo e entra em conflito com um sem-número de
observações e até textos bíblicos.
Outras
possibilidades menos problemáticas: (1) E se o universo for bem mais velho do
que o estimado? (2) E se esses superburacos negros pudessem ser formados de
outras maneiras mais rápidas?
A
opção (1) é possível, mas improvável em função de uma série de detalhes que
observamos no universo. A opção (2) corresponde a algo que se conhece, na
verdade. Infelizmente, é bem comum entre os astrônomos não ter fluência em
Relatividade Geral. Uma das coisas que se estudam nessa área é a diferença
entre buracos negros criados essencialmente junto com o universo e buracos
negros criados por colapso estelar.
A
existência de um superburaco negro nos primórdios do universo não deveria
representar qualquer problema, apenas indica que esses objetos não foram
criados por colapso gravitacional de estrelas. Além disso, os poderosos jatos
de material ejetado em seus polos podem criar condições para a formação de
sistemas estelares.
Em
uma visão criacionista que não seja de universo jovem, isso pode fazer parte de
um mecanismo criado por Deus para gerar sistemas estelares. No criacionismo,
admite-se que Deus cria algumas coisas de forma especial (ex.: os primeiros
seres vivos) e outras como consequência de mecanismos que Ele criou (como
descendentes dos primeiros seres vivos, lagos, rios, pedras, objetos astronômicos).
No
caso de uma visão naturalista, um pouco de conhecimento de Relatividade Geral
também resolve o quebra-cabeças gerado por esse superburaco negro.
A
rigor, essa descoberta não representa grandes problemas nem para criacionistas nem
para naturalistas. Acaba sendo apenas mais uma evidência da existência de algo
sugerido pela Relatividade Geral.
(Eduardo Lütz é físico e
engenheiro de software)